Quem tem recursos no Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e quer investir, de olho em melhores rendimentos, a hora é agora. Começa hoje (3/6) e vai até o dia 8 de junho o período de reserva para a compra das ações da Eletrobras, que está em processo de privatização. Para isso, o governo federal liberou 50% do fundo exclusivamente para este fim. Mas será que é uma boa ideia usar os valores destinados à proteção do trabalhador para investir na bolsa de valores?
Na verdade, não é bem na bolsa, mas um Fundo Mútuo de Privatização (FMP), que é intermediado por bancos e corretoras, o que na prática é quase a mesma coisa. De acordo com o presidente do Instituto Fundo de Garantia do Trabalhador (IFGT), Mario Avelino, o trabalhador não vai comprar ações da Eletrobras, ele vai comprar cotas do FMP por meio dos bancos e empresas de investimentos, a exemplo de Bradesco, Caixa, Banco do Brasil, Santander, XP, e outros, que vão criar fundos diversos para esta transação.
“A lei do FGTS prevê esse tipo de investimento. E isso já foi feito no passado com a Petrobras, em 2000, e na Vale, em 2002. Todos os trabalhadores que investiram nesses fundos se deram muito bem. Acredito que com a Eletrobras seja a mesma coisa, pois terá uma melhor gestão depois que for privatizada”, observa Avelino.
Segundo ele, o FGTS é uma poupança que rende juros anuais de 3% mais a atualização monetária (Taxa Referencial), “que não rende nada”. Desde 2016, anualmente, é distribuído o lucro do FGTS por lei, sendo que no ano passado rendeu 4,5%, em face de uma inflação de 10,5%. “Com isso, há uma perda de 6%. O fundo é social, ele rende pouco porque é para investir em educação popular, saneamento básico, infraestrutura, mas não justifica que o governo confisque mensalmente o rendimento da atualização monetária através da TR, que não repõe a perda da inflação”.
Avelino ressaltou um estudo recente da XP Investimentos, que demonstrou o rendimento de 196% do FGTS entre 2012 e 2022 frente ao da Petrobras, que rendeu 700%, e da Vale em mais de 2.200%. “Ou seja, uma super vantagem para quem investiu. Mas a possibilidade tem risco. Mesmo assim acredito que é mínimo e, por isso, recomendo, sim”, observa ele.
Só que a recomendação não alcança a todos. Para o presidente do IFGT, um trabalhador que vai se aposentar em pouco tempo, quando poderá sacar todo o dinheiro, e pretende usar esse valor para outro objetivo, como comprar uma casa própria, ou mesmo se tem alguém da família que passa por alguma doença grave, ou se a situação da empresa está precária, ele não recomenda a aplicação. “Fora isso, recomendo. Mas o trabalhador tem que saber que é um investimento a longo prazo. Tem que deixar lá por pelo menos cinco anos. Mesmo que ele saque após o período de carência, em 12 meses, o ganho é um pouco menos, mas ainda é um bom investimento”, avalia.
Setor sólido
Bem próxima à análise de Avelino segue o CEO da Apollo Investimento, João Guilherme Penteado, que acredita na solidez do setor elétrico. Para ele, por ser considerado um dos mais perenes, já que costuma ter uma receita previsível, além da necessidade da população pelo serviço, pode ser uma boa oportunidade. Mas ele alerta para imprevisibilidade do retorno financeiro.
“Não é possível saber o retorno de um investimento em renda variável. Existem técnicas para entender o valuation das empresas e, com isso, calcular o potencial de valorização para chegar ao valor justo. Porém, tudo isso depende de diversas variáveis futuras que muitas vezes mudam de acordo com o cenário”, diz.
Segundo ele, o FMP funciona como qualquer outro fundo de investimento, em que se tem um gestor ganhando um percentual pela administração do fundo e o restante do retorno é distribuído entre os demais participantes. “É para quem tem um perfil mais agressivo, que pensando a longo prazo pode se beneficiar mais dessa oportunidade. Porém, esse investimento faz sentido para outros perfis, mas sempre utilizando percentuais menores do FGTS”, disse ele que também vê com cautela a aplicação próxima à aposentadoria. “Quem está prestes a aposentar pode precisar desse capital mais rápido e as ações de boas empresas tendem a valorizar no longo prazo e não necessariamente no curto prazo. Quem nunca investiu em renda variável é melhor entrar com um valor menor do FGTS”, recomenda.
Por se tratar de um produto monoativo (exclusivo para as ações da Eletrobras) estruturado no formato de fundo de investimento em cotas e distribuído pelas principais instituições financeiras é fundamental atentar para a taxa de administração. Para o especialista em investimentos, Pedro Santana, é importante fazer uma pesquisa prévia, já que essas taxas oscilam muito.
Outra dica que ele dá é de investir um percentual entre 15% e 30% do saldo do FGTS. “É o mais coerente. Compor uma parte do portfólio do saldo do FGTS do cliente com ações de uma grande empresa como a Eletrobras pode gerar um resultado bem satisfatório com o tempo. O percentual máximo de 50% só deve ser utilizado para um perfil de investidor agressivo”, aconselha.