A história do imigrante galego que transformou a história do varejo e da gastronomia de Salvador virou filme. Amigo – A Biografia de Pepe Faro é um documentário que revisita a trajetória de um homem que fugiu da fome e dos efeitos da guerra na Espanha para fazer do próprio nome uma marca sinônimo de qualidade, inovação, sabor e excelência no atendimento. A estreia acontece no próximo dia 2, às 18h30, no cinema do Shopping Barra, em sessão para convidados, e também no site www.amigopepe.com.br, onde já há um trailer da produção.
Clientes, funcionários, personalidades da política, da sociedade e da cultura sempre o viram como um anfitrião de alma aberta, e não apenas empresário ou, como ele próprio prefere se autointitular, um padeiro. Por isso, o título do filme, roteirizado e dirigido por Amadeu Alban, não poderia ser outro. Aos 83 anos, Pepe Faro, que se tornou figura conhecida mundo agora após ter fundado a Perini, carrega o raro talento de fazer amigos por onde passa. Alguns já se foram, a exemplo do casal de escritores Jorge Amado e Zélia Gattai e da santa Irmã Dulve. Outros ainda preservam a amizade, entre ilustres e anônimos.
O documentário, filmado no Brasil e na Espanha, conta a belíssima história de superação do galego desde a infância de privações na Galícia até a chegada a Salvador, aos 17 anos, passando pelo primeiro emprego em um armazém de secos e molhados no Tororó e o encontro definitivo com a panificação, ofício que se tornaria sua identidade. Assim nasceu a Panificadora Elétrica da Barra, embrião do que mais tarde se tornaria a Perini, referência em gastronomia e ponto de encontro de gerações.
Após vender a Perini, Pepe viveu anos de angústia, longe da rotina que sempre o moveu – ver gente, conversar, servir, sentir o pulso das lojas. A reinvenção veio com o Almacen Pepe, que completou 10 anos em 2025 e devolveu ao velho padeiro o que ele mais amava: o contato com as pessoas e o prazer de rever e fazer amigos. Hoje, o Almacen é administrado por seu filho, André Faro, que começou aos 14 anos ao lado do pai, e já conta com a participação de Matheus Faro, de 19 anos, representando a terceira geração da família.
“Este filme é uma homenagem ao homem que nos ensinou que trabalho sem afeto não tem sentido. Meu pai sempre acreditou nas relações humanas. Ele fez amigos por onde passou, e isso faz parte da nossa história”, afirma André Faro. “Esse documentário é um gesto de gratidão e também um convite para que as novas gerações conheçam quem é Pepe e o que ele representa para a Bahia”, completa o empresário.
O documentário apresenta depoimentos inéditos, imagens raras e momentos marcantes da trajetória de Pepe, a exemplo do acidente quase fatal na juventude, o recomeço após a venda da Perini e a construção de um novo capítulo com o Almacen. É um retrato de força, superação e humanidade.
A visão do diretor – Gravar a história de Pepe Faro foi, antes de tudo, vencer a resistência do protagonista. Segundo o diretor e roteirista Amadeu Alban, o maior desafio inicial foi convencer Pepe a se colocar diante das câmeras. Isso porque ele não desejava fazer o filme, não queria ser personagem, da mesma forma como teve resistência a colocar o próprio nome no Almacen, algo que foi superado pela persistência de André Faro. “Pepe sempre achou que sua vida era comum demais para virar documentário. E justamente aí mora a grande beleza dela”, diz Amadeu.
As filmagens começaram em 2023, na aldeia de Aboal, na região da Galícia, onde Pepe nasceu, e terminaram em 2024, antes da inauguração da loja do Almacen Pepe do Shopping Barra. Ali, entre casas de pedra, memórias de guerra e o mesmo vento frio que moldou sua infância, a equipe pôde registrar as raízes de um menino que cresceu entre a fome e as privações do pós-guerra. O ponto de partida espanhol se tornou decisivo para dar ao filme a dimensão emocional e geográfica de sua trajetória.
Amadeu carrega uma conexão pessoal com a família Faro. Seu pai, Alfonso Alban, era compadre de Pepe, e os dois mantinham, por décadas, a rotina de se falar diariamente. Afonso, no entanto, faleceu durante as filmagens em uma viagem de avião para a Espanha, o que deixou o fundador da Perini tão abalado que quase o documentário é deixado de lado. “Quando ele faleceu, senti como se uma voz importante sobre Pepe tivesse se calado. Fazer este filme também foi uma forma de honrar essa memória”, ressalta Amadeu.
O projeto só saiu do papel graças ao esforço conjunto de captação. A produção ficou a cargo da Movioca e foi possível graças ao patrocínio Villa Global Education, através do programa de incentivo cultural Viva Cultura, da Fundação Gregório de Matos (FGM) e Prefeitura Municipal de Salvador. Além disso, o filme contou com os apoios institucionais do Grupo Max Forte e M. Dias Branco, além do próprio Almacen Pepe. Com esse suporte, o documentário pôde ser filmado tanto na Espanha quanto no Brasil, garantindo autenticidade e amplitude narrativa.
“Pepe é um personagem que parece ficção, mas é real. Ele venceu a guerra, venceu a fome, venceu o medo. E continua vencendo a idade, com essa energia que impressiona qualquer um. Filmar essa história é mostrar que a força de um homem está na sua capacidade de se reinventar – e, no caso dele, de fazer amigos”, resume o diretor.
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