Responsável por grande parte da geração de emprego e renda na Bahia, o setor de comércio e prestação de serviço não vislumbra um ano tão positivo. Os juros e a inflação altos, além do encarecimento e burocratização do crédito, podem impactar negativamente o setor no estado em 2022. Mas não só de más notícias vive o setor. Nesta entrevista exclusiva ao BAdeValor, o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA), Carlos Andrade, faz balanço dos anos anteriores e conta o que pode melhorar em 2022.
BAdeValor – Qual o balanço do setor na Bahia?
Carlos Andrade – Em se tratando de comércio varejista, o saldo final de 2021 poderia ter sido um pouco melhor, após um ano de perdas históricas devido à pandemia, que caracterizou 2020. Para se ter uma ideia, as vendas em dezembro último, o mês mais importante para o comércio, caíram 8,3% em relação ao mesmo mês de 2020. Com esse resultado, o ano passado encerrou com crescimento de 7% nas vendas, de acordo com cálculos da nossa assessoria econômica com base nos dados do IBGE. Isso representa um faturamento anual de R$ 114,7 bilhões, um aumento de R$ 7,5 bilhões em relação a 2020 e fica próximo do valor de 2019, que foi de R$ 115,2 bilhões.
BAdeValor – Quanto é o faturamento anual do comércio, no estado, e qual a perspectiva para 2022?
Carlos Andrade – Segundo projeção da Fecomércio-BA, o faturamento do comércio no estado deve atingir R$ 113,5 bilhões em 2022, queda de 1% na comparação com 2021. Entretanto, o que fica claro para o cenário de 2022 é que será ano de um consumidor endividado, sofrendo com uma inflação elevada, acima de 8%, e com pouca oportunidade no mercado de trabalho. Isso porque trata-se de ano eleitoral, o que traz riscos para a economia, sobretudo sobre a cotação do real. Além disso, com o Banco Central subindo a taxa de juros para próximo de 10% ao ano, deve ocorrer um freio importante nos investimentos, variável fundamental para a geração de empregos e renda.
Do ponto de vista positivo, um fator que deve ser avaliado ao longo de 2022 é a injeção de recursos do Auxílio Brasil. Ainda não se sabe ao certo sobre a sua extensão. Porém, se chegar a um público maior que o antigo Bolsa Família pode gerar um combustível a mais para o comércio desse ano, principalmente para os setores de supermercados e farmácias, essenciais para o consumo.
BAdeValor – Quais os impactos negativos, no setor, previstos para este ano?
Carlos Andrade – O comércio sentirá um consumidor mais acuado em 2022. A alta da taxa básica de juros, a Selic, significa um enorme freio na economia, trazendo menos oportunidades no mercado de trabalho e, ao mesmo tempo, com uma inflação girando próximo a 8%. De qualquer forma, a inflação traz um dano social imenso e contribui para resultados negativos no comércio e na economia com um todo, como a Fecomércio-Ba já detectou nos números do final de 2021.
BAdeValor – Qual a importância do setor de comércio e quanto responde em relação ao Produto Interno Bruto, na Bahia?
Carlos Andrade – O comércio de bens, serviços e turismo responde por cerca de 70% do PIB e precisa que o poder público, em suas três esferas, efetive uma reforma tributária, pelo menos com a dilatação do prazo de pagamento de impostos, carências e parcelamentos, dando fôlego aos micro, pequenos e médios empresários, que são os responsáveis pela maior geração de empregos em nosso país. Ao mesmo tempo em que se torna fundamental a ampliação do Pronampe e das linhas de crédito com juros subsidiados para o segmento MPE. O setor empresarial (principalmente as MPEs) precisa do apoio do Governo para atravessar tantas dificuldades geradas por dois anos de pandemia.
BAdeValor – Diante da importância do setor para a economia do estado, quantos empregos gera?
Carlos Andrade – No ano de 2021 foram 108.960 postos de trabalho criados entre janeiro e dezembro. Esse valor insere a Bahia em primeiro lugar no Nordeste na geração de empregos por pequenos negócios no ano passado. Já as médias e grandes geraram 22.003 vagas de acordo com dados do Sebrae Bahia. Esperamos que o ano de 2022 se encerre com um saldo positivo na geração de empregos para a população baiana.