A agropecuária baiana continua sendo um dos setores mais importantes e dinâmicos da economia do Estado. Conforme dados recentes divulgados pela Superintendência de Estudos Econômicos da Bahia (SEI), referentes ao segundo trimestre de 2023, o Produto Interno Bruto (PIB) da Bahia alcançou R$ 113,9 bilhões, sendo que R$17,8 bilhões foram gerados pela atividade agropecuária.
Isto significa que o setor teve um crescimento de 2,7% em relação ao mesmo período de 2022, contribuindo com 28,7% do PIB total do Estado. A agricultura e a pecuária baianas somaram R$32,7 bilhões no segundo trimestre de 2023, demonstrando a força e a diversidade do segmento no território baiano. Em entrevista ao BadeValor, o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb), Humberto Miranda, faz o balanço do setor em 2023 e fala sobre as perspectivas para os próximos anos.
BA de Valor – Como está o setor da agricultura na Bahia?
Humberto Miranda – Da porteira para dentro, podemos enumerar algumas conquistas. Começo citando o uso de tecnologia no campo, já que a agropecuária baiana incorporou os biofertilizantes, equipamentos baseados em Inteligência Artificial, drones, entre outros que otimizam a produção e a produtividade dentro, além de reduzir custos e aumentar a rentabilidade do produtor rural.
Graças ao investimento em ciência e tecnologia, a Bahia ostenta hoje a primeira posição no ranking nacional de produtividade de soja, totalizando 67 sacas por hectare. Na cultura do café, também registramos a maior produtividade média do País, tanto na variedade conilon quanto na arábica.
A partir dos novos cenários tecnológicos e estratégicos, hoje é comum no agronegócio surgirem demandas por novos postos de trabalho em diversos setores. Com esses resultados, o agro continua se apresentando como um dos setores que mais contribuem para a geração de emprego e renda no Brasil, tudo isso tendo como bases fundamentais a ciência, tecnologia e a sustentabilidade.
A ótima notícia é que essa tendência vem se confirmando em 2023, o que não é nenhuma surpresa para quem acompanha de perto o dinamismo do setor, que a cada dia se reinventa e sabe o papel protagonista que vive no momento.
Esse cenário abre novas oportunidades no mercado de trabalho, segundo o Relatório sobre o Futuro dos Empregos 2023, publicado pelo Fórum Econominco Mundial, que mapeia os empregos e as habilidades do futuro, os maiores ganhos em empregos será na área de educação e de agricultura, destacando um crecimento de 15% a 30% dos empregos agrícolas, especialmente operadores de equipamentos agrícolas, niveladores e separadores, que lideram o ranking das dez atividades profissões em ascensão.
Os dados econômicos mais atualizados do segmento, apresentados pela Superintendência de Estudos Econômicos da Bahia (SEI) em setembro deste ano, correspondentes ao 2º trimestre de 2023, demonstram que o PIB baiano já totalizou R$113,9 bilhões. Desse montante, a agropecuária foi responsável por R$17,8 bilhões. Em comparação com o mesmo período do ano anterior, esse valor representa um aumento de 2,7% do PIB. Assim sendo, no 2º trimestre de 2023, a agricultura e pecuária representaram 28,7% do PIB total do Estado, totalizando cifras que chegam a R$ 32,7 bilhões.
BV – Quais as novidades para os próximos cinco anos?
HM – O setor é muito dinâmico e está a todo tempo investindo em inovação e tecnologia. A agropecuária baiana já incorporou o que há de mais novo em sua atividade: equipamentos baseados em Inteligência Artificial, drones, mas eu destaco aqui os biofertilizantes, que garante ainda mais a sustentabilidade do negócio.
BV – O que mais se destacou e por quê?
HM – Além de tudo que já citei anteriormente, no campo social, econômico e tecnológico, outro fator que eu também ressalto é o surgimento de novas modalidades de crédito baseado em elementos de sustentabilidade. O setor já é altamente sustentável, mas essas ferramentas fomentam ainda mais a atividade com práticas de baixo impacto ambiental. O próprio Plano Safra deste ano trouxe como benefício taxas de juros reduzidas para os produtores que já adotam práticas conservacionistas, como Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF) e quem faz correção de solo, por exemplo. O RenAgro, que é o antigo Plano ABC, financia práticas sustentáveis e amplia o apoio à recuperação de pastagens degradadas, com foco na conservação para produção agrícola, com menor taxa de juros para agricultura empresarial.
Ainda no quesito ambiental, tivemos alguns avanços, a exemplo da validação da legislação baiana sobre novas modalidades de licenciamento ambiental pelo STF, o que traz ao produtor rural maior previsibilidade para facilitar tomadas de decisões em seu negócio. A criação da Câmara Técnica Recursal no Conselho Estadual de Recursos Hídricos também pode ser vista como uma conquista, uma vez que representa uma esfera mais próxima ao produtor e, por fim, a criação da Política Nacional de pagamentos por serviços ambientais, possibilitando o benefício para produtores rurais por seus serviços ecossistêmicos.
E não podemos deixar de citar as conquistas no âmbito institucional que representam grande avanço para o setor, a exemplo da Assistência Técnica e Gerencial que o Senar Bahia oferece gratuitamente a pequenos e médios produtores rurais de diversas cadeias produtivas, levando informação, capacitação e ajudando o homem do campo em sua propriedade. Hoje, são mais de mil técnicos de campo – um recorde histórico para o Estado, que lidera esse número muito à frente do segundo colocado. Além de termos o maior número de profissionais em campo, esse ano, completamos 500 mil visitas de campo, alcançando todo o território baiano com algum tipo de ação do Senar.
BV – Quais os desafios para os próximos anos?
HM – Normalmente, os principais obstáculos estão da porteira para fora. Aqui eu cito a falta de investimento em infraestrutura como a principal e nela está inserida rodovias em situações precárias, portos, aeroportos, falta de uma malha ferroviária para desonerar os custos e desafogar as estradas, melhorando a logística como um todo. Além de energia elétrica e conectividade que impedem a ampliação do setor, através da instalação de agroindústrias em regiões produtivas. Aliás, a questão da conectividade é, antes de tudo, uma questão de cidadania, sem ela não há, inclusive, educação.
Outro obstáculo que o setor enfrenta é a insegurança pública, jurídica e fundiária, que coloca em risco a continuidade de muitas empresas rurais. Já no âmbito econômico, o setor foi impactado negativamente com os elevados preços dos insumos, ainda em decorrência da pandemia e da guerra entre Rússia e Ucrânia e, em contrapartida, os baixos preços na hora de vender a produção, com destaque para a arroba do boi, que está em seu patamar mais baixo, e o litro do leite, com queda histórica.
O nosso maior desafio é alimentar uma população cada vez mais numerosa, sem ampliar a área de produção. Isso implica em ter que aumentar a produtividade naquela mesma área, o que só é possível com ciência e tecnologia. Para isso, a irrigação precisa ser entendida como investimento e não como uma atividade predatória. Ela é capaz de aumento de produtividade, reduzindo a necessidade de aberturas de novas áreas. Outro desafio é a inserção ainda maior da agropecuária na economia verde.
Os desafios logísticos estão sempre na pauta: a Bahia precisa de estradas em melhores condições; de ferrovias para reduzir custos, acidentes e poluição ambiental e ampliação da capacidade dos nossos portos evitando que os produtos baianos escoem por outros estados gerando assim fuga de divisas.
BV – Quanto representa o setor na economia baiana e quanto movimentou este ano?
HM – O Mapa [Ministério da Agricultura] estima um Valor Bruto da Produção (dentro da porteira de R$ 46,6 bilhões). Sendo que desse montante 57,2% é oriundo dos grãos.
BV – A Bahia é referência no setor? O que torna a Bahia um estado promissor para o agronegócio?
HM – A Bahia possui uma diversidade produtiva maravilhosa, favorecida pela grande extensão territorial e pela existência de três biomas. Na safra 22/23 produzimos mais de 13 milhões de toneladas de grãos. Exportamos em 2022, US$6,3 bilhões (45,9% do total exportado pelo estado). Os principais produtos exportados foram: soja em grãos, celulose, algodão e produtos têxteis, farelo de soja, café verde e café torrado e produtos do cacau. E os principais destinos das exportações são: China, EUA, Alemanha, França e Países Baixos.
Posição da Bahia no Ranking Nacional – IBGE/2022 – Agricultura Pecuária Origem Animal
BV – Quais gargalos ainda existem e quais foram superados?
HM – A energia elétrica, conectividade e infraestrutura logística (armazéns, rodovias, ferrovias). A ferrovia é necessária para o escoamento da produção agropecuária do Estado, atualmente seguem de caminhão até portos e aeroportos da Bahia e de outros estados onerando os custos de transporte. Um trem com capacidade de carregar seis mil toneladas corresponde a 172 carretas. Com as ferrovias, os ganhos são econômicos e ambientais, além de reduzir acidentes nas estradas. A depender do trecho, a redução do custo de transporte pode chegar a 30%.
A fuga de carga do território baiano é resultado do déficit de investimentos em infraestrutura portuária, rodoviária e ferroviária. Os grãos precisam chegar aos portos por ferrovia. Com a conclusão da Fiol 3 (que ligará Barreiras a Mara Rosa (GO), será possível transportar toda produção dos principais municípios da região para Ilhéus ou ainda passar pela Fiol, FCA e alcançar o Complexo Portuário de Aratu.
Em setembro o Governo do Estado e a Fundação Dom Cabral firmaram contrato para realização de estudos logísticos com foco na competividade portuária e dos acessos com uma ênfase nas ferrovias. Novo PAC vai investir R$ 119,4 bilhões na Bahia. Esperávamos que o trecho da Fiol III, ligando Correntina a Mara Rosa em Goiás, onde interligará com a Ferrovia de Integração Centro-Oeste – Fico, fosse contemplado no PAC, assim como a reativação de toda a Ferrovia Centro Atlântica, e não apenas um trecho.
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