A Bahia se destaca como um dos principais destinos de investimentos no país, segundo o Monitor Nacional de Investimentos do Observatório Nacional da Indústria. Entre junho de 2023 e janeiro de 2024, o estado recebeu cerca de R$42,5 bilhões em projetos anunciados, sem contar os recursos do Novo PAC. Os setores que mais se beneficiaram foram os de energia e construção, seguidos pelo automotivo, que teve aportes de empresas internacionais como a BYD e a Bridgestone.
Dos 39 projetos anunciados, 31 são de iniciativa privada, que somam 50% do valor total. Um dos destaques é o complexo industrial da BYD em Camaçari, que vai gerar mais de 5 mil empregos em três fábricas simultâneas, com um investimento de R$3 bilhões. Além disso, 54% dos projetos são para ampliar ou modernizar estruturas já existentes no estado; 16% são concessões públicas e 31% são novas construções.
Em entrevista ao BA DE VALOR, o especialista do Observatório Nacional da Indústria da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Rafael Silva e Sousa, observa que, a partir dos dados levantados com o estudo, a atração de investimentos, sem considerar o PAC, impactará fortemente os setores da economia, especialmente os de energia e construção.
“A estimativa é de abertura de dez mil postos de trabalho, considerando apenas os projetos de maior magnitude. Em 2021, por exemplo, a indústria baiana tinha 393.922 vínculos formais, sendo 220.749 na indústria da transformação, segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (2021), disse”.
Geração de empregos
Segundo ele, apenas para a empresa chinesa BYD, que recentemente lançou as obras em Camaçari, na antiga fábrica da Ford, está prevista a geração de mais de 5 mil novas vagas de emprego. “Para se ter uma ideia, o setor de fabricação e veículos automotores e outros equipamentos de transporte empregava cerca de 2.395 pessoas, em 2021. Além isso, estão previstas iniciativas em obras de infraestrutura que podem catalisar a atuação dos demais setores. Isso inclui obras no setor de energia renovável por parte da Engie, a ferrovia a ser construída pela Bamin e as obras de infraestrutura capitaneadas pelo governo do estado, como a requalificações de acessos e rodovias no sudoeste do estado e de melhorias e pavimentação de rodovias estaduais”, conta.
Souza ressalta que um dos motivos que levou à atração desse investimento para o estado é a infraestrutura local adequada para produção de veículos. Isso inclui outras empresas que integram a cadeia, mão de obra qualificada e o fato de a região possuir recursos naturais essenciais para fabricação de baterias de carros elétricos.
“Tem também a expansão do mercado brasileiro para carros elétricos também contribuiu para essa decisão. Outro ponto relevante foram as questões fiscais: os carros elétricos produzidos no local terão isenção de IPVA no estado, desde que seus preços não ultrapassem R$ 300 mil”.
Mais investimentos
Na mesma cadeia produtiva, foi anunciada a expansão da fábrica de pneus da Bridgestone no mesmo complexo automotivo. A meta, segundo o especialista, é de aumentar a capacidade de produção em 1,5 milhão de pneus, com previsão de conclusão até o fim de 2024. Ele ainda conta que durante o mesmo período, a Engie anunciou a implantação do conjunto Eólico Serra do Assuruá, a 600 km de Salvador. O empreendimento consistirá na construção de 24 parques eólicos, com 188 aerogeradores, com capacidade instalada de 846 MW. Além disso, serão construídas 28 km de linhas de transmissão que irão conectar o parque ao Sistema Interligado Nacional.
Souza afirma que o projeto é um importante instrumento para tornar a matriz energética brasileira mais verde, com efeitos multiplicadores que impactam diversos outros setores. O investimento previsto para o projeto é de R$6 bilhões e a estimativa é que de que sejam gerados na região cerca de 3000 empregos diretos e indiretos.
Já em relação a Bamin, a empresa anunciou durante este período, as obras no Lote 1F da ferrovia de Integração Oeste Leste (Fiol 1). A ferrovia ligará as cidades baianas de Caetité e Ilhéus, com 537 KM de extensão, passando por 19 municípios. Os projetos anunciados pela Bamin, conforme Souza, deverão auxiliar no desenvolvimento regional do interior baiano.
A construção da Fiol 1 é um dos maiores projetos de infraestrutura do Brasil, sendo um corredor logístico para escoamento e fomento à exportação. Estima-se a abertura de cinco mil postos de trabalho durante a execução do investimento. Outro destaque é a união da Stellantis, Volkswagen e a mineradora global Glencore, com o apoio a financeira ACG, em um projeto que prevê a compra da mina de sulfeto de níquel de Santa Rita, localizada em Itagibá (BA).
“Embora não seja possível determinar quantos novos empregos e renda serão gerados, essa intenção de investimento demonstra a inserção brasileira na cadeia de matérias-primas para produção de baterias para veículos elétricos. A Petrobras, por sua vez, anunciou investimentos na ordem de R$ 3,5 bilhões na Bahia, nos próximos anos, para a perfuração de 35 poços e a inauguração do polo da Universidade Petrobras em Salvador. Essas iniciativas também devem movimentar o mercado de trabalho, aumentar a arrecadação e fortalecer a economia dos municípios da região produtora de petróleo, que se estende da região de Candeias à Esplanada”, reforça Rafael Souza.
Novo PAC
No âmbito público, o Novo PAC prevê nove projetos para a Bahia, com investimentos de cerca de R$ 119,4 bilhões. As áreas prioritárias são infraestrutura, saúde, educação, energia e saneamento básico. Entre as obras previstas estão as duplicações das BRs 101, 116 e 242; o Contorno Norte de Feira de Santana; a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL); a Duplicação da Estrada do Derba – BRT; e quatro barragens: Morrinhos, Baraúnas e Rio da Caixa; a Adutora da Fé e moradias do Minha Casa, Minha Vida.
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