O Banco Central rejeitou na noite desta quarta-feira (03) a operação de compra do Banco Master pelo BRB, instituição financeira estatal administrada pelo governo do Distrito Federal.
A decisão do BC foi informada às partes depois do fechamento do mercado. A comunicação do indeferimento não detalhou, contudo, os motivos que embasaram a rejeição. O banco estatal já pediu acesso às justificativas para decidir os próximos passos.
Segundo interlocutores, a instituição acredita nos fundamentos da operação e pode procurar, em uma eventual nova proposta, mitigar eventuais riscos identificados pelo BC.
“O BRB apresentou solicitação de acesso à íntegra da decisão, com o objetivo de avaliar seus fundamentos e examinar as alternativas cabíveis. O BRB reitera seu posicionamento de que a transação representa uma oportunidade estratégica com potencial de geração de valor para o BRB, seus clientes, o Distrito Federal e o Sistema Financeiro Nacional e manterá seus acionistas e o mercado informados sobre eventuais desdobramentos relevantes, nos termos da legislação e da regulamentação aplicáveis”, disse o banco em comunicação ao mercado.
O Banco Master disse em nota que aguarda ter acesso à íntegra do documento para avaliar seus fundamentos “e examinar as alternativas cabíveis sobre a decisão do Banco Central a respeito da negociação com o BRB”. “O banco continua confiante na sua estratégia e na sua operação, que fizeram com que se destacasse num mercado altamente concentrado”, acrescenta.
A operação foi anunciada no dia 28 de março e previa a aquisição de 58,04% do capital social total do Banco Master (49% das ações ordinárias e 100% das ações preferenciais) pela instituição detida pelo governo do Distrito Federal. As empresas manteriam as estruturas das empresas apartadas, com compartilhamento de governança, expertise, sinergias e coordenação estratégica e operacional.
Desde o início, a operação gerou bastante questionamentos no mercado financeiro e entre políticos devido às dificuldades financeiras do Master e também pelo fato de o BRB ser um banco público. O negócio sofreu uma série de reduções desde o anúncio, a pedido do BC. A versão final contemplava a aquisição de cerca de R$ 24 bilhões em ativos do Master, metade do que foi acertado entre os dois bancos inicialmente. Além disso, Daniel Vorcaro, dono do Master, no formato final, não faria mais parte do controle do futuro conglomerado.
O BC tinha um ano para decidir, mas se antecipou. Segundo fontes próximas a operação, mesmo com a redução do tamanho do negócio, o BC tinha uma preocupação com a sucessão de CDBs emitidos pelo Master.
O banco privado cresceu muito nos últimos anos com uma estratégia de captação agressiva. Ele oferecia no mercado CDBs com retornos muito acima da média do mercado, com a salvaguarda do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
Por outro lado, o ativo para fazer frente ao pagamento futuro desses títulos aos investidores que o adquiriram é bastante ilíquido, como precatórios e investimentos em empresas em dificuldades financeiras.
Mesmo com esses títulos retirados da operação, o regulador avaliava que havia um risco de corresponsabilidade pelo BRB em meio aos problemas de liquidez do banco privado. Além disso, a parte que ficaria fora do negócio com o BRB ainda não tinha um desenho definido, o que também era uma fonte de preocupação.
Desde o início, pessoas próximas ao assunto diziam que era importante ter uma solução global para o Master.
Com o passivo bilionário, em caso de quebra do Master, o FGC, que é formado com contribuições das instituições financeiras associadas, pode ter de arcar com um volume relevante de ressarcimento para pessoas físicas com aplicações de até R$ 250 mil de pessoas físicas – um problema para o sistema financeiro.
Segundo o balanço de 2024, o Master tinha R$ 12,4 bilhões de CDBs a vencer até o fim deste ano, contra um ativo total para o mesmo período de R$ 18,3 bilhões. No total, o estoque de CDBs e CDIs era de R$ 49,8 bilhões. A liquidez do FGC, em junho de 2024, era de R$ 107,8 bilhões.
(O Globo)