Um novo capítulo se inicia na história da indústria automotiva brasileira. Após muitas negociações, expectativas e polêmicas sobre disputa pela compra da antiga fábrica da Ford, em Camaçari, a chinesa BYD mostra que veio para ficar, e sem volta. A líder mundial em carros de energia limpa iniciou, nesta terça-feira (05), a construção da primeira fábrica de carros elétricos no país.
No evento, que marcou o início das obras, estiveram presentes o presidente da BYD Brasil, Tyler Li, o conselheiro especial da companhia, Alexandre Baldy, e o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, além de outras autoridades locais. Ao manifestar sua satisfação com o projeto, que representa um investimento de R$ 3 bilhões e a criação de um polo industrial inovador e sustentável, o presidente da empresa disse ser um momento especial para a BYD e para a Bahia. “É com grande satisfação que nos reunimos aqui hoje para o início de uma nova era com a inauguração desta fábrica na Bahia. Este momento não é apenas um marco para BYD, mas também um testemunho do nosso compromisso com a inovação, a qualidade e, sobretudo, com o desenvolvimento econômico e social da região. Gostaria de expressar minha sincera gratidão a todos que tornaram este projeto possível”.
Durante a cerimônia, Tyler Li ressaltou a importância da BYD para a economia baiana e para o setor de carros elétricos no Brasil. “Estamos animados com as oportunidades que esta nova fábrica irá gerar. Queremos não só criar empregos, mas também desenvolver novas tecnologias e contribuir para uma economia mais verde. Temos o compromisso de operar de forma responsável, respeitando o meio ambiente e o bem-estar da nossa comunidade. Que este seja o início de uma jornada próspera e cheia de conquistas. Juntos, vamos construir um futuro brilhante para a nossa empresa, os nossos colaboradores e para toda a sociedade”, comemora.
Início da produção
A previsão é de que a produção comece entre o final de 2024 e o início de 2025, com uma capacidade instalada próxima de 150 mil veículos por ano na primeira fase de implantação. A empresa chinesa comprou o antigo complexo da Ford por quase R$ 300 milhões e anunciou um plano de expansão que vai gerar milhares de empregos e inovação.
O complexo tem uma área total de 4,6 milhões de metros quadrados, onde serão construídos 26 novos galpões de produção, uma pista de testes e outras estruturas. A BYD vai ocupar cerca de um quarto da área e vai ceder o restante para fornecedores que vão integrar a cadeia produtiva dos veículos elétricos.
Os primeiros modelos que sairão da fábrica baiana serão o BYD Dolphin, o carro elétrico que conquistou o Brasil com seu design moderno e sua autonomia de até 400 quilômetros; o BYD Song Plus, um SUV híbrido plug-in que pode rodar mais de mil quilômetros com uma carga; o BYD Yuan Plus, um crossover elétrico cheio de estilo e tecnologia; e o BYD Dolphin Mini, o lançamento mais recente da marca, que promete ser o carro elétrico mais acessível do mercado.

A BYD já é líder mundial em vendas de carros eletrificados e quer repetir o feito no Brasil. Em 2023, a empresa vendeu mais carros elétricos do que todas as outras marcas juntas, com um crescimento impressionante de quase 70 vezes.
“A BYD vai contribuir para o fomento econômico do estado baiano, com a geração 10 mil empregos, e trará Camaçari de volta aos holofotes nacionais da indústria brasileira, transformando a cidade baiana em um polo de atração de fornecedores diversos ligados a toda cadeia produtiva, desde peças e acessórios até prestadores de serviços, dando prioridade a fornecedores locais”, ressalta o conselheiro especial da BYD, Alexandre Baldy.
Sucesso do Dolphin Mini
O Dolphin Mini será um dos modelos fabricados na Bahia. O modelo que foi anunciado oficialmente na última quarta-feira (28/2), rapidamente se tornou um sucesso de vendas com mais de 7.600 unidades comercializadas apenas nos primeiros dias após o lançamento, um recorde na história dos veículos elétricos.
Entre os atrativos do elétrico estão a conectividade, conforto, segurança, autonomia e tecnologia de ponta, já que o proprietário pode fazer o uso de NFC para abrir o carro ou então utilizar o VTOL, sistema que transforma o veículo em um gerador de energia para aparelhos e eletrodomésticos externos. Além disso, o carro tem uma melhor eficiência energética do país e faz o equivalente a 70km/l de gasolina na comparação com um carro a combustão. Rodando na cidade, a autonomia do modelo pode chegar a 405 km pelo ciclo CLTC.
Líder de mercado
A BYD confirmou mais uma vez a liderança de emplacamentos no mercado brasileiros em fevereiro, segundo informações da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave): foram 2.528 carros elétricos comercializados ou 69,7% do segmento, fato que assegurou o primeiro lugar absoluto do mercado. A BYD foi também a marca mais emplaca entre os modelos híbridos, com 1.900 unidades e 27,89% de share.
Esses resultados consolidaram também a liderança nos dois segmentos, no acumulado deste ano: a BYD emplacou nos dois primeiros meses 5.505 veículos elétricos ou 66,35% de participação. Os modelos híbridos somaram no período 3.419 unidades. No ranking global de automóveis a BYD está entre os TOP TEN do mercado brasileiro, considerando todas as marcas, presentes em território nacional: já são 8.716 unidades, com uma participação de 3,65%.
Polêmica sobre disputa de terreno
Recentemente, a empresa brasileira Lecar entrou no cenário baiano para demonstrar o interesse em comprar a antiga fábrica da Ford. A notícia se espalhou causando grande alvoroço nos meios empresarial, político e econômico. De acordo com o seu fundador e CEO, Flávio Assis, a proposta que teria sido lançada para o governo era irrecusável, já que se trata de uma nacional que quer investir na indústria automobilística interna.
Requerimento indeferido
Mas por meio de nota, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE) informou que os critérios adotados pelo governo baiano para delinear um novo modelo de indústria adequado ao atual momento econômico incluíram requisitos como uso intensivo de tecnologia, geração de mão de obra, pesquisa e desenvolvimento e responsabilidade ambiental. E, embora a brasileira Lecar tenha demonstrado interesse, o requerimento foi indeferido por ausência de projetos de investimentos e de viabilidade.
No documento, a secretaria diz que “a ausência de documentação legal obrigatória, incluindo projetos de investimento e de viabilidade do negócio, plano de negócios e leiaute do empreendimento, levou o Estado da Bahia, por intermédio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE), a decidir nesta sexta-feira (1º) pelo indeferimento da manifestação de interesse da empresa Le Car S/A pelo terreno onde funcionou a fábrica da Ford, em Camaçari”.
De acordo com a SDE, a Lecar apenas incluiu dados cadastrais, como certidões, ao encaminhar o requerimento de manifestação de interesse pelo terreno. “A ausência dos projetos de utilização da área, de acordo com a SDE, configura descumprimento dos requisitos do Aviso de Chamamento Público para destinação econômica do terreno. A Lecar solicitou prazo adicional de 180 dias para elaboração do projeto, o que evidencia inconsistência da proposta, pautada apenas em mera intenção e destituída de efetivas condições de competição com o projeto da BYD. A prorrogação do prazo para apresentação de projeto, além disso, é vedada pela legislação estadual relativa à destinação de áreas públicas para fomento econômico industrial”, informa o documento.
Ainda segundo a SDE, após ter indeferido este pleito específico, a Lecar pode manifestar interesse em implantar na Bahia nova planta para fabricação de veículos elétricos, tendo em vista a existência de terrenos disponíveis para este fim, desde que cumpridos os requisitos legais.
Leia também: Senai Bahia oferece 156 vagas gratuitas em cursos para jovem aprendiz