[dropcap]O[/dropcap] município de Pilão Arcado, no Norte baiano, é um dos 123 da Bahia que tem situação de emergência reconhecida pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil em decorrência da seca – e por isso mesmo os produtores familiares de duas comunidades rurais decidiram que era hora de diversificar a atividade econômica e buscar renda em meio à estiagem.
São 24 as famílias de Garajau e Olho D’Água Beira Rio, comunidades a 70 km da sede municipal, que nesta sexta-feira (23) passaram o dia recebendo lições de manejo apícola básico, uma iniciativa da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e o Sindicato de Trabalhadores Rurais (STR).
As famílias estão entre aquelas que foram contempladas pela Codevasf, no ano passado, com 629 kits familiares de apicultura em Pilão Arcado, Remanso e Campo Alegre de Lourdes. Faltava, para as duas comunidades, o treinamento para produzir mel: as instruções envolvem noções teóricas e práticas sobre a anatomia e biologia das abelhas, floradas apícolas, instalação de apiários, métodos de povoamento e de manejo das colmeias, uso dos materiais, apetrechos e indumentária necessária, controle fitossanitário, a relação das abelhas com o meio ambiente, entre outros.
“A gente já cria abelhas, mas não tínhamos segurança na atividade. Eu mesma tinha medo”, admite a produtora Fabiana Souza, da localidade de Novo Sítio. “Agora, depois do curso, sinto que me desenvolvi. Quero crescer na atividade, comprar mais equipamentos”, celebra ela que, junto com o marido, pretende transformar a produção de mel na renda principal da família, hoje limitada a pequena roça de feijão milho, mandioca e à criação de pequenos animais.
“Meu pai já cria as abelhas. Depois deste curso, temos expectativa de ter retorno com a atividade”, aponta Anderson Rocha, da localidade de Riachinho. “Aprendemos coisas que não sabíamos fazer. Já crio abelhas, agora vou produzir mel”, afirma o produtor Valmir Ferreira, que também participou da turma.
De acordo com o zootecnista Everaldo Cavalcanti, chefe substituto da Unidade de Desenvolvimento territorial da Codevasf em Juazeiro, que acompanhou o treinamento, a consciência ambiental também é fortalecida com a tecnificação da apicultura, que necessita de áreas preservadas e de espécies vegetais que produzam flores.
“Anteriormente, a produção de mel era feita de maneira rudimentar, através da queima do enxame e posterior retirada do produto. Dessa maneira, o enxame era destruído, causando um desequilíbrio ambiental e, consequentemente, afetando a cadeia produtiva”, aponta ele.
Investimento na Bahia
Na Bahia, onde a produção de mel está presente em todo o espaço geográfico, desde a região litorânea e agreste até a região semiárida, a Codevasf investiu até o ano passado recursos da ordem de 13,5 milhões para estruturar comunidades rurais com kits familiares, materiais, equipamentos, bem como na construção de Unidade de Beneficiamento de Mel em Sento Sé e um Entreposto de Mel em Casa Nova. Foram beneficiadas, ao todo, cerca de 1,6 mil famílias. No estado, a atividade vem crescendo nos últimos dez anos, período em que a produção saltou de 550 toneladas para cerca de 2,2 mil toneladas, ocupando, assim, a 7ª posição do ranking nacional.
Atividade promissora
Segundo informações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a apicultura Nordestina é atividade muito promissora e em plena expansão devido às condições naturais da região. Isso porque o Nordeste brasileiro possui características de clima e flora que lhe conferem elevada competitividade nos mercados interno e externo.
“As condições encontradas no Brasil – clima, solo, altitude, composição das floradas e material genético das abelhas – permitem uma produção limpa, sem o uso de produtos químicos para controlar as principais doenças e pragas que afetam a apicultura em todo o mundo”, afirma a Associação Brasileira de Exportadores de Mel (Abemel). “Além disso, graças a esses recursos naturais, o Brasil é capaz de produzir mel durante todo o ano. Estas distinções e rigoroso controle de qualidade fazem da Indústria Apícola no Brasil uma das maiores exportadoras no mundo”, nota a entidade.
Em 2015, o Brasil exportou 22,2 mil toneladas de mel de acordo com a Abemel. A preferência do mercado pelo mel nordestino se justifica pelo fato de que o produto tem baixa contaminação por pesticidas, já que é proveniente de florada de vegetação nativa, o que faz com que a criação de abelhas seja uma das atividades que mais tem crescido nos últimos anos. Além disso, apresenta baixo investimento de implantação, custo de manejo e rápido retorno financeiro, destaca o ministério.