A CESE (Coordenadoria Ecumênica de Serviço), que nasceu e tem sede em Salvador (BA), celebra este ano cinco décadas de trabalho em defesa dos direitos humanos, apoiando movimentos sociais e projetos voltados para as populações mais vulneráveis, marginalizadas e excluídas. Desde a fundação, a CESE definiu que o apoio a pequenos projetos seria uma das suas principais estratégias de ação.
De 1973 a maio de 2023, mais de 14 mil iniciativas foram apoiadas pelo Programa de Pequenos Projetos, beneficiando cerca de 10.150.000 pessoas. A instituição atende a demanda de projetos de todo o Brasil, mas prioriza três regiões: Nordeste, Norte e Centro Oeste.
O Programa de Pequenos Projetos apoia iniciativas de organizações populares, rurais e urbanas, representativas de diversos segmentos da sociedade brasileira, a exemplo de povos indígenas, quilombolas e outras populações negras, comunidades tradicionais, agricultores (as) familiares, sem-terra, sem teto, populações urbanas, mulheres, jovens etc., além de apoiar ações emergenciais de caráter humanitário.
“A família CESE também faz parte do movimento indígena. Compartilhamos das mesmas dores e alegrias, mas principalmente de uma mesma missão”, afirma Nara Baré, ex-coordenadora executiva da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB). “Há mais de 20 anos temos parceria com a CESE e isso nos proporcionou fazer nossas atividades, nos articulamos. A CESE nos ajudou a fazer a gestão no nosso território, no nosso bem viver, a gestão da nossa casa, e principalmente, com que nós, mulheres indígenas, pudéssemos falar por nós”, destaca Elizângela Baré, da Associação das Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro (Amiarn).
NOVOS PROJETOS
Sempre há novidades no Programa de Pequenos Projetos e em 2023 não poderia ser diferente. “Temos novo projeto financiado pela União Europeia, para fortalecimento da luta das mulheres indígenas da Amazônia e do Cerrado”, explica o coordenador do setor de Projetos e Formação da CESE, Antônio Dimas Galvão. Além disso, um projeto com novo financiador parceiro está apoiando organizações e coletivos de jovens.
“Estamos em processo de negociação com o Fundo Amazônia para apoio a projetos de organizações indígenas da base da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB)”. Ainda em relação ao apoio às lutas dos povos tradicionais: “Renovamos um projeto para atender a populações tradicionais do cerrado, na área de sistemas alimentares e questões raciais”, conta.
Outra novidade prevista para este ano é a sistematização da experiência da CESE ao longo de 50 anos, na gestão de fundos de pequenos projetos. “É a primeira vez que a CESE faz a sistematização da sua principal estratégia de ação. Será uma forma de divulgar mais essa experiência que a CESE tem com a gestão de um dos fundos mais antigos do Brasil. O objetivo é trazer uma reflexão para a sociedade brasileira sobre a importância dos fundos que apoiam a luta por direitos, a mobilização popular, para fortalecimento da democracia, mas sobretudo para a conquista de direitos para as populações mais empobrecidas e mais vulneráveis”, finaliza Galvão.
DEMANDA ESPONTÂNEA
A CESE atua por demanda espontânea, salvo em algumas situações bem específicas na qual lança algum edital ou chamadas dirigidas. Isto quer dizer que as propostas podem ser enviadas ao longo do ano, mas com um prazo de 40 dias entre a chegada do projeto na CESE e o início das atividades previstas.
O apoio da instituição é disponibilizado apenas para organizações do movimento popular (associações, grupos de base, movimentos sociais, redes/fóruns/articulações, ONGs, cooperativas, sindicatos etc.), de uma pastoral ou trabalho diaconal de uma igreja. No entanto, as organizações informais também podem ser apoiadas.
“Uma organização informal, ou seja, que não tem CNPJ, pode apresentar projetos normalmente. No entanto, caso a proposta seja apoiada pela CESE, a organização terá que buscar uma organização parceira que tenha CNPJ para ser a responsável formal pelo projeto. Em nenhuma situação um projeto pode ser apresentado por uma pessoa física, empresa, ente público ou microempreendedor/a individual”, explica Galvão.
“Eu considero impressionantes os resultados do Programa de Pequenos Projetos em cinco décadas. Nós temos cerca de 300 projetos apoiados por ano, de todos os estados, em especial das regiões que são prioritárias para nós. Com uma variedade grande de lutas por direitos oriundas de diversos movimentos e organizações. A gente tem parceria com um mosaico diversificado dos movimentos sociais”, comenta Galvão.
“Parabéns à CESE pelo fortalecimento e proteção aos povos quilombolas. Onde a política pública não chega, a CESE chega para amenizar os impactos e viabilizar a permanência das pessoas nas comunidades. Que isso seja cada vez mais potente, mais presente”, afirma Maryellen Crisóstomo, Maryellen Crisóstomo, da coordenação do Coletivo de Comunicação da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ)