Salvador é o coração do Brasil, conecta e pulsa energia através de sua herança ancestral e valorização dos que construíram e fortaleceram essa cidade. Sob este olhar histórico e cultural surge o Salvador Capital Afro (SCA) – um movimento inovador, que pretende posicionar a cidade como referência do turismo afro, nacional e internacionalmente, por meio da valorização das manifestações culturais, do potencial criativo, da força das tradições, tecnologias ancestrais e incentivo ao Black Money, movimento que favorece negócios entre pessoas negras.
A iniciativa está sendo implementada pela Prefeitura de Salvador, através da Secretaria de Cultura e Turismo (Secult), no âmbito do Prodetur Salvador, em parceria com a Secretaria da Reparação (Semur). O projeto tem financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e é mais uma ação implementada do Plano de Desenvolvimento do Turismo Afro na capital baiana.
O projeto tem como missão ampliar a oferta de trabalho, emprego e renda, bem como criar valor e relevância para empreendedores negros. Para isso foi preciso ouvir profissionais de diversas localidades da cidade com o intuito de traçar soluções que possam gerar visibilidade e lucro com propósito para essa parcela da população baiana.
O movimento chama a atenção para os produtos turísticos que são fornecidos por empreendedores negros locais, os principais responsáveis por atrair e encantar quem visita a cidade: as baianas de acarajé, capoeiristas, artistas, guias de turismo, trançadeiras, turbanteiras, operadores de turismo que organizam roteiros e experiências afros e todos aqueles que fazem parte da indústria criativa de Salvador. O objetivo é destacar e potencializar os afroempreendedores locais, em especial, as mulheres, de maneira contínua e inclusiva.
De acordo com o prefeito Bruno Reis, o legado da cultura afro é estruturante para a identidade de Salvador. “Ela faz da nossa cidade um lugar único, original e especial, para onde quer que a gente olhe. Podemos senti-la no nosso dia a dia, nas comidas, música, arte, moda, no sincretismo religioso, nos rituais, no nosso jeito de ser”, afirma, ressaltando ainda que é essa herança afrodiaspórica que diferencia a capital como destino turístico de qualquer outro lugar do Brasil. “Por tudo isso, é muito importante preservar e valorizar essa riqueza ancestral. Nós somos os guardiões dessa identidade”, reforça o líder municipal.
O contato inicial do público com o movimento Salvador Capital Afro acontece em cinco territórios estratégicos do município – Centro Histórico, Liberdade/Curuzu, Rio Vermelho, Itapuã e Ilhas Municipais. A intenção é evidenciar as diversas manifestações culturais que existem nessas localidades, que possuem significativo potencial para se tornar referência em proporcionar um conjunto de experiências turísticas afrocentradas.
Ainda integram as ações do projeto um festival inédito e inspirador, ações de reconhecimento a eventos, ações ou empreendimentos que representem a cultura afro da cidade e a ação Baiana Legal – iniciativa de fortalecimento e visibilidade das baianas de acarajé em atividade em Salvador.
Legado africano
Salvador encontra, através do turismo afro, uma grande oportunidade de crescimento estando neste nicho de mercado cada vez mais relevante e ainda pouco atendido pelo trade turístico de uma forma geral. O resultado é o aumento de renda para pessoas negras. Por isso, o projeto busca ainda alavancar o afroturismo, vertente que oferece experiências turísticas afrocentradas, que valorizam a história e a cultura negra em todo o mundo. O afroturismo atrai especialmente turistas negros, em busca de criar as próprias narrativas e a reconexão ancestral.
A secretária da Semur, Ivete Sacramento, acredita que o Salvador Capital Afro valida o processo histórico e cultural da capital baiana a partir de uma perspectiva preta. “O projeto realoca a narrativa para uma visão do turismo de maneira a ser afrocentrada, apresentando trabalhos, produtos, mercadorias, atividades e programação cultural desenvolvidas por aqueles que são maioria na população de Salvador”, diz.
Para o professor André Carvalho, cofundador do Experiência Griô, projeto que resgata a cultura e valoriza o povo preto através de vivências culturais em diversas localidades, propostas como a do Salvador Capital Afro são muito importantes porque possibilitam alinhamento entre empreendedores negros. “Essa iniciativa, em Salvador, funciona como uma plataforma de conexão entre empreendedores e possíveis consumidores. Esse projeto nos possibilitou um maior conhecimento e aproximação de outras pessoas e iniciativas relacionadas”, conta.
O brilho do Salvador Capital Afro é a grande capacidade de articular afroempreendedores, trazer boas experiências, fortalecimento dos seus negócios e a possibilidade de novas conexões profissionais. “Nossa ambição é que o Salvador Capital Afro entre para o calendário da cidade, com destaque, relevância e propriedade. Iremos ampliar o movimento da cultura afro na cidade, promovendo o alcance desse projeto no Brasil e no mundo”, afirma a secretária da Secult, Andrea Mendonça.
Números
De acordo com o mais recente estudo da MMGY Global, companhia global de marketing integrado especializado em viagem, turismo e indústria de hospitalidade, somente os viajantes norte-americanos negros gastaram R$129,6 bilhões em viagens de lazer domésticas e internacionais em 2019. De acordo com o relatório, os viajantes negros, principalmente nos EUA, Canadá e Reino Unido/Irlanda – estão atentos em como os destinos abordam a diversidade, indicando que pode ser um dos fatores determinantes na tomada de decisões de viagens.
Já uma pesquisa que traça o perfil do turista que visita Salvador revelou que a estimativa é de que os turistas nacionais e internacionais que se declararam negros (26%) gastaram um total de R$1 bilhão em 2020. As principais motivações foram visitar amigos e parentes, lazer, e negócios ou trabalho.
Sobre o empreendedorismo negro, dados do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) revelam que, atualmente, 49% dos negócios no país são comandados por negros. Entre os estados brasileiros com maior proporção de pretos e pardos donos de negócios, está a Bahia, com 12%.