A atividade turística na Bahia deve bater todos os recordes de movimentação econômica este ano. Em Salvador, os principais pontos turísticos da cidade, como o Pelourinho e o Porto da Barra, estão abarrotados de turistas nacionais e estrangeiros. Encantados com a cidade, eles lotam bares e restaurantes, ocupam quase todos os hotéis e pousadas e gastam – gastam muito – na compra de produtos e serviços. Seria a alta temporada perfeita, dos sonhos, se não existissem dois problemas: a excrescência do Sistema Ferryboat, operado pela péssima Internacional Travessias, e a absurda falta de água em áreas fundamentais para o setor, como Ilha de Itaparica e o Litoral Norte baiano.
O Sistema Ferryboat – que leva baianos e turistas de Salvador para a Ilha de Itaparica e outras regiões paradisíacas do estado, como o Baixo Sul e Itacaré – vive a maior crise de sua história. Os usuários do sistema são humilhados – sem dó – quase que diariamente pela Internacional Travessias. Só para lembrar: há 40 anos, quando era administrado pela estatal Companhia de Navegação Bahiana (CNB), o sistema operava quase sempre, nos feriados de grande demanda, com 8 embarcações. Hoje, são no máximo 4.
Resultado: No final deste ano, os usuários do sistema – baianos e milhares de turistas – encararam e amargaram esperas de 8, 9, até 10 horas, para fazer a travessia. Um absurdo!
A Internacional Travessias cobra caro e oferece o que há de pior em matéria de serviço, cuidado e respeito. Os ferries, que a concessionária recebeu de graça do governo e em bom estado de conservação, estão hoje sucateados. Durante o feriado, o navio Paraguaçu ficou mais de duas horas à deriva e, quando voltou a funcionar, apresentou uma pane elétrica.
Contrato de concessão
O contrato de concessão do Sistema Ferryboat é outra coisa difícil de compreender. De uma forma bem simples: a Internacional Travessias fica com o bônus, com o lado bom do negócio, ou seja, cabe a ela a receita. Ao estado, ou se preferir, a você contribuinte, cabe o ônus, os investimentos e as despesas.
Comprar embarcação, reformar os terminais, fazer dragagem e derrocagem e até construir flutuantes, tudo isso e outras coisinhas mais, vão para a conta governo. Pode? Já a Agerba, a agência reguladora que deveria fiscalizar a empresa e exigir a prestação de um serviço digno, nada faz, nada diz. Por que? Quem impede que o trabalho seja executado?
Na falta da Agerba, a Codecon resolveu agir. O órgão municipal notificou a concessionária a prestar esclarecimentos sobre a queda de energia no Paraguaçu, que colocou “em risco a vida dos passageiros, tripulação e também de outros navegantes próximos em alto mar”.
Nesta quinta-feira, a Prefeitura de Salvador foi mais além: enviou uma multa de R$ 1 milhão ao Sistema Ferryboat devido aos problemas apresentados no feriadão de fim de ano. O prefeito Bruno Reis afirmou que a próxima medida em relação ao serviço de transporte marítimo será a “interdição”.
Governo
E o governo do estado com tudo isso? Falta uma posição mais firme, contundente, em defesa dos interesses da população e de milhares de empresários que são prejudicados pelo péssimo serviço.
O governador Jerônimo Rodrigues, vez por outra, critica, se mostra aborrecido com a concessionária, mas nada que a faça sair de sua zona de conforto e respeitar os baianos. A aposta do governo é a ponte, que se arrasta há anos, que nunca saiu do papel, e que talvez, quem sabe, fique pronta daqui a 7, 8 ou 10 anos.
Até lá, no ritmo dos desmandos da Internacional Travessias, é bem possível que os navios do sistema já tenham derretido em alto mar.
E a Embasa?
E a falta de água? Todo o verão é a mesma coisa. Para quem vai passar as férias na Ilha ou em localidades como Imbassaí, Praia do Forte, Guarajuba e Barra do Jacuípe, janeiro virou sinônimo de tormento. São vários dias sem cair uma gota de água nos tanques. Um horror.
Quem mora nos condomínios de luxo, é verdade, pode recorrer a carros-pipas ou até tomar banho com água mineral. E o pequeno comerciante? O dono de pousada ou de restaurante? Olha o depoimento da dona do restaurante Águas Marinhas, no centro de Itaparica, ao site iBahia:
“Eu moro na Ilha há 32 anos e sempre foi assim. Não sou só eu não. A maioria das pessoas, residências, hotéis, tudo fica sem água. Nem abri [o restaurante], porque sem água não há condições de trabalhar. Não tem condições de trabalhar com comida sem água. O período de verão é o de maior movimento na Ilha, o que poderia gerar uma receita maior para os estabelecimentos. No entanto, acabam prejudicados pela falta de água”.
É gente simples perdendo dinheiro.
Não é possível que a Embasa não possa fazer alguma coisa para minimizar o problema. Se não há solução, a empresa tem a obrigação, o dever moral, de deixar isso bem claro para os moradores da região, turistas e empresários. No mínimo, evitaria constrangimentos.
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