O 13º salário começa a ser pago a partir deste mês e muitos trabalhadores formais, aposentados e pensionistas já estão ansiosos para desafogar o bolso em época de superendividamento. Assim como eles, o setor produtivo aguarda por um incremento nas vendas do final de ano, já que a expectativa é de que seja injetado R$ 10,5 bilhões (2,7% do PIB estadual) na economia baiana – o que representa cerca de 4,2% do total do Brasil e 26,8% da região Nordeste, segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
A média de valor per capita é estimada em R$ 2.066,48 e é até de encher os olhos se as pessoas não estivessem com as contas sufocadas. O economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-Ba), Edval Landulfo disse ao BadeValor que 2022 é um ano para se ter muito cuidado com o orçamento. “Quem não tem dívida hoje? quase ninguém! Cerca de 70% da população ativa ganha até dois salários mínimos e essas pessoas têm muitas dívidas. Por isso é melhor planejar, colocar o orçamento na ponta do lápis e saber como priorizar as dívidas”.

Da mesma opinião compartilha o coordenador de acompanhamento conjuntural da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), Arthur Cruz. Para ele, o melhor é pagar as dívidas primeiro. “Até para poder se endividar novamente é preciso pagar o que se deve no mercado. As pessoas querem comprar algumas coisas no fim de ano, mas precisam de crédito e sem pagar o que devem não terão como fazer nada”.
Cruz ainda ressalta a importância do 13º salário para aquecer a economia. “É um importante benefício para o trabalhador formalizado e impacta positivamente na economia local. Estimula o consumo no comércio e setor de serviços, que são os que mais se beneficiam desse recurso extra. Só para lembrar, o comércio varejista baiano registrou até setembro uma variação negativa de 4,6% em relação ao ano anterior e isso foi motivado pela inflação e alta do juros, então esse dinheiro extra que vai ser injetado na economia vai dar um alívio para o empresário e comerciante. Isso é muito relevante para ajudar o Estado na retomada da atividade econômica e do PIB”, observa.
Superendividamento
De acordo com o economista Edval Landulfo, quem está superendividado (quando se compromete 50% da renda com dívidas) provavelmente está com o nome negativado. Neste caso, a dica é procurar os credores para conseguir negociar. Se puder pagar à vista, com maior margem para reduzir o valor, melhor. Caso contrário pode negociar um parcelamento e guardar o 13º para sanar a dívida aos poucos, ou seja, vai amortizando aos poucos até sanar a dívida. “O principal é começar a fazer orçamento doméstico, que é importante para todo mundo, depois se faz o planejamento de como pagar as dívidas”, aconselha Landulfo.
Sem dívidas
Embora seja a grande minoria, as pessoas que vão virar o ano sem dívidas também precisam de uma boa dose de planejamento. Para o coordenador da SEI é bom guardar esse benefício para as despesas extras do começo de ano, como material e matrícula escolares, IPTU, IPVA, e outros que comprometem o salário nos primeiros meses. “É uma boa oportunidade também para juntar, fazer uma poupança ou investir em um planejamento de viagem”.
Sem dívida e sem dinheiro

Quem não está endividado, mas o dinheiro só dá para pagar as contas com aperto precisa traçar metas para se surgir uma emergência não ficar em apuros. Segundo Edval Landulfo, o ideal é fazer planejamento com o dinheiro do 13º para criar uma reserva emergencial, uma reserva de oportunidades e uma reserva para aposentadoria.
“Todo mundo precisa ter isso. A de emergência é aquela quando surge algo que estoura o orçamento, mas já existe um dinheiro reservado. Geralmente, esse dinheiro está investido em renda fixa, que protege da inflação para não perder dinheiro. A reserva de oportunidade é ter o dinheiro para comprar algum bem que cai de valor, entra em promoção e é uma oportunidade de compra. Já a da aposentadoria, todos nós precisamos nos preocupar porque a renda de hoje pode não estar garantida no futuro”, explica o economista que dá a dica: “É bom aproveitar novembro para planejar o ano de 2023. Com dinheiro comprometido, as pessoas precisam passar a aprender a equilibrar as contas para ter folga e não ficar em apuros”.
Economia brasileira
Até dezembro de 2022, o pagamento do 13º salário tem o potencial de injetar na economia brasileira cerca de R$ 249,8 bilhões, conforme dados do DIEESE. Este montante representa aproximadamente 2,6% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e será pago aos trabalhadores do mercado formal, inclusive aos empregados domésticos com registro em carteira; aos beneficiários da Previdência Social e aposentados e beneficiários de pensão da União e dos estados e municípios.
Aproximadamente 85,5 milhões de brasileiros serão beneficiados com rendimento adicional, que receberão em média, de R$ 2.672. Para o cálculo do impacto do pagamento do 13º salário, o DIEESE não leva em conta os trabalhadores autônomos, assalariados sem carteira ou trabalhadores com outras formas de inserção no mercado de trabalho.
Com a gratificação, os especialistas acreditam que o cenário de endividamento vai melhorar, considerando que até agosto último mais de 67 milhões de pessoas estavam inadimplentes no Brasil, de acordo com dados divulgados pela Serasa. O valor das dívidas supera a R$ 289 bilhões, sendo 28% relacionados a pendências com bancos e cartões de crédito.
O 13º salário
Mais do que um benefício para os profissionais assalariados é uma iniciativa para injetar dinheiro no mercado e fazer girar a economia. É uma das principais conquistas do trabalhador brasileiro, que completou 60 anos. Equivalente à remuneração mensal, a gratificação foi sancionada em 13 de julho de 1962 pelo então presidente João Goulart por meio da Lei 4.090.