Recentemente ouvi uma história sobre o gênio Ariano Suassuna, em que ele disse para uma aluna, que ela era um peixe fora d´água, dando a entender que ela estava se graduando na profissão errada, pois seus questionamentos e interesses indicavam que seus talentos estavam relacionados a outra área profissional. Esse`feedback´ fez a aluna refletir e concluir que o estimado professor tinha razão. Ela abandonou a carreira de arquitetura e investiu na carreira de professora. A profecia se confirmou no dia em que ela deu a sua primeira aula e se percebeu como um peixe dentro de um oceano, sentindo-se acolhida e pertencente àquele lugar.
Esse caso me fez pensar na angústia de muitos que se questionam se escolheram corretamente a profissão e se estão na carreira certa. Será que existe profissão ou carreira errada? É comum acontecerem escolhas equivocadas por carência de autoconhecimento, pela dificuldade de distinguir entre os próprios desejos e os desejos dos outros e pela falta de coragem em contrariar as expectativas de quem se ama, especialmente da família. No entanto, não se trata de profissão certa ou errada, e sim de escolhas conscientes e não conscientes. A formação do indivíduo não determina quem ele é ou o que ele vai fazer. O que nós somos é outra coisa. Nós somos muito além da nossa formação técnica. E no mundo do trabalho você pode ser o que quiser.
A escolha consciente é aquela que concilia desejo e necessidade. O desejo representa alma, essência, vocação, paixão e a necessidade simboliza a realidade a que estamos submetidos – o mundo material, econômico e as limitações que fazem parte da vida, sendo circunstanciais ou não. Segundo Aristóteles, onde os seus talentos encontram as necessidades do mundo, ali está a sua vocação.
Para saber se você está no caminho que lhe conduzirá até o seu oceano, algumas perguntas são bem vindas: você faz o que vocâ ama? Acredita que é para isso que você veio ao mundo? Sua atuação profissional leva você a construir algo significativo para você e para a humanidade?
Brilho nos olhos, entusiasmo, vontade de querer aprender e saber mais e energia para o trabalho apesar das adversidades, são bons indicadores de uma carreira positiva e duradoura. O fato é que quanto mais o que se faz estiver em consonância com o porque se faz, menos importa o como se faz. Muitos ainda desacreditam que o que confere sustentabilidade a carreira é a convicção de ter encontrado o seu lugar no mundo, conforme as palavras do professor Clóvis de Barros Filho: “existe um lugar para cada homem, que ao descobrir qual é a sua praia, viverá feliz. A vida feliz se torna possível ao se descobrir os seus talentos e devolver para o mundo em forma de performance, aquilo que o mundo te deu em potencialidade e recursos naturais”.
Em um mundo tão mutante, onde 80% das pessoas não possuem as habilidades necessárias para 60% das profissões para os próximos 5 anos, o único elemento que pode gerar sustentação e maior segurança na trajetória profissional é a certeza do que se possui de melhor para oferecer.
Então, caso você esteja em conflito em relação a sua carreira, convido você a fazer uma experiência: feche os olhos, delete por alguns instantes seu passado, sua família, vínculos relacionais, necessidade financeira, regras e expectativas sociais. Imagine como se você estivesse chegando ao mundo agora em uma nave. Que local você escolheria aportar e o que você gostaria de fazer, profissionalmente falando? Registre a sua escolha. Ela provavelmente estará relacionada ao que lhe dá alegria interior. E se o que você faz hoje em sua profissão atual, não é fonte de autorrealização e contentamento, tenha coragem de mudar e se aventurar pelos caminhos de escolha da sua alma.
É claro que essa transição não se faz por impulso e sim de maneira planejada, mas acredite, quando você alcança essa clareza interior e identifica sua paixão, você passa a ter um foco e energia e tudo começa a fluir. E a vida vai lhe conduzindo por experiências até você chegar no lugar que sempre esteve a sua espera, o seu lugar no mundo!