O mercado de alimentos saudáveis ou de bem-estar, saiu da “vã filosofia” para fazer cada vez mais parte do cardápio do brasileiro, como aponta levantamento da Euromonitor Internacional. O estudo mostra que de 2015 a 2020 houve um crescimento de 33% do setor, colocando o Brasil na 7ª colocação no rol mundial de consumo. Só em 2020 o volume de vendas no mercado nacional foi de R$100,2 bilhões e a estimativa é que, até 2025, alcance um incremento de 25%.
Essa alta ganhou mais impulso com a pandemia, que fez com que os brasileiros passassem a se preocupar mais com aspectos saudáveis de sua alimentação, tanto que a taxa de crescimento anual composto (CAGR) encontra-se estimada em 5,3% até 2025, percentual acima da indústria alimentícia em geral, considerado em 3,6%, e do mercado de indulgência (4,5%).
Fugindo do estigma de “mercado de nicho”, como são consideradas as empresas focadas em alimentos de bem-estar, algumas marcas se preparam para esse novo movimento e passaram a estabelecer estratégias de investimento com foco em estabelecer seu espaço dentro do mercado B2C, em especial o setor de hipermercados tanto nacional como internacional.
A exemplo disso, a catarinense Viva Regenera, com pouco mais de dois anos de atuação, lançou mão de uma iniciativa ousada, mas bem estruturada. Recentemente a empresa especializada em alimentos íntegros, suplementos e ativos naturais e sustentáveis anunciou a criação da Angatu Holding que passa a controlar todas as marcas e produtos da empresa. Nessa lista está o recém-lançado portal de e-commerce Viva Floresta (www.vivafloresta.com.br) que atua, entre outros, com os itens da sua empresa mãe; a Coleção Cápsula de roupas sustentáveis Plantopia e a importadora e distribuidora de nutrimentos saudáveis Regenera Global.

De acordo com a Co-CEO da empresa, Romanna Remor, a estruturação não se ateve apenas ao fortalecimento comercial, mas também focou a cadeia produtiva como um todo. “Estamos ainda mais determinados a fortalecer nossa teia produtiva de parceiros e fornecedores, participar diretamente de sistemas agroflorestais e consolidar o primeiro e-commerce do Brasil 100% comprometido com a floresta em pé, com o extrativismo sustentável e com a captura de carbono através do plantio de árvores em sistema agroflorestal. Tudo isso enquanto continuamos a oferecer ativos e alimentos íntegros, com rastreabilidade, procedência e filhos do comércio justo”.
Para tanto a empresa estabeleceu parcerias como a com o Instituto Nova Era e Carbon Agroforestry que promovem o plantio de árvores em agroflorestas, que tem a capacidade de capturar mais carbono no solo do que outras práticas, junto a pequenos produtores e fornecedores, entre eles comunidades ribeirinhas da Amazônia e povos tradicionais.
Esse apoio é viabilizado através do Crédito Florestal que destina parte da venda de cada item adquirido através do portal de e-commerce Viva Floresta. Ao adquirir um dos produtos ofertados o consumidor pode indicar qual entidade será beneficiada. “Acreditamos que, para ser verdadeiramente regenerativa, uma teia produtiva precisa contar com os esforços e contribuição consciente de todos: agroflorestor, produtor, extrativista, empreendedor, consumidor”, explica Gileno Marcelino, Co-CEO da Angus Holding.
Remuneração justa
A visão de uma cadeia produtiva sustentável é compartilhada inclusive pelas empresas parceiras da holding, entre elas a marca de chocolates naturais Cookoa, também situada em Santa Catarina, que se baseia na oferta de uma experiência única através do cacau com foco em três propósitos: o socioambiental, o nutricional e o sensorial. O aspecto sustentável parte da iniciativa de gerar maior valor à terra, com foco no produtor de cacau. Hoje a Cookoa consegue pagar 4x mais no quilo das sementes, possibilitando o comércio justo no cultivo do fruto que é a base da produção do chocolate.

Graças a esse fortalecimento da cadeia de fornecimento, a Cookoa, com apenas dois anos de atuação, já possui um cardápio de mais de 30 alimentos em linha, que conta com o abastecimento de uma fazenda de cacau sócia, além de três outras com as quais fez parceria.
Para acompanhar a alta na demanda de produtos saudáveis, os planos futuros apresentam investimentos em uma nova planta fabril, ainda em 2023, com a criação de uma loja conceito. “Isso nos permitirá um incremento significativo em nossa capacidade produtiva, passando de 900 kg de chocolate/mês para 10 toneladas/mês no prazo de cinco anos”, informa Larissa Ludwig Scalabrini, Co-CEO da Cookoa.
Apesar do e-commerce ter uma participação importante dentro da empresa, com 30% a 40% de participação, a empreendedora anuncia que, dentro dos planos de investimento está a entrega de lojas próprias, até 2025, em três grandes cidades. “Entre nossas metas também está a criação de uma franquia e a entrada no mercado de exportação. Nosso foco primário são os Estados Unidos e, na sequência, Portugal, Espanha e Alemanha. Já estamos em contato com uma empresa canadense para a venda de nossos produtos e, provavelmente, daremos nossos primeiros passos no cenário internacional ainda neste ano “.