Iarodi D. Bezerra*
Li outro dia o livro “O símbolo perdido”, do autor norte-americano Dan Brown. Um trecho me chamou a atenção. Na realidade, fiquei fascinado. Um personagem pensou: “É lá que ele está escondido…Está enterrado lá em algum lugar”.
De repente, lá estava eu dentro da história, no lugar do personagem principal Robert Langdon, buscando um artefato sagrado. Passei por lugares obscuros atrás de pistas, me livrei de armadilhas e lutei contra inimigos. Até que finalmente encontrei o que buscava: um objeto em forma de globo debaixo de escombros! Quando o retirei, o abri. Dentro, havia um artefato sagrado em forma de coração humano…e o mais intrigante, ele pulsava!
Despertei da fantasia encarando o meu reflexo na tela da TV desligada. Fiquei ali um tempo, tentando percorrer o caminho até o local onde estaria o globo. Levei a mão direita até ao peito, quando senti algo pulsando. Seria o tal artefato escondido? Sim, era…o meu coração!
Nunca enxerguei o coração como um tesouro, apenas um órgão que bombeia o sangue para todo o resto do corpo ou a inspiração para os poetas românticos. Passei a entendê-lo como mapa da alma, onde guia nossos comportamentos, definindo assim, o nosso caráter.
Fico imaginando o que aconteceria se as crianças fossem ensinadas na escola sobre essa importância do coração? Para mim, uma visão fantástica! Imagine as crianças sentando-se em suas carteiras na sala para escutar a professora dizer algo desse quilate:
Nunca enxerguei o coração como um tesouro, apenas um órgão que bombeia o sangue para todo o resto do corpo ou a inspiração para os poetas românticos. Passei a entendê-lo como mapa da alma, onde guia nossos comportamentos, definindo assim, o nosso caráter
“Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, pois dele procedem as fontes da vida.”…e dizer a elas que dessas fontes, saem águas de virtude! Uau!
Talvez (com ar de certeza) esse ensinamento poderia evitar alguns sofrimentos. No consultório, é comum aparecerem pessoas que desconhecem seu artefato, em uma agonia desmedida a cerca da própria vida. Outras, por terem se nutrido ao longo da vida com mágoa, raiva e tristeza causadas por experiência ruins ao longo da vida, deformaram sua própria alma, machucando a si mesmos e as pessoas à sua volta.
Sabe, quando olhei através do meu reflexo na tela escura e senti o meu artefato, entristeci. Eu percebi, naquele breve exame de seu interior que havia muita coisa que impedi um funcionamento pleno. Ele tornou-se opaco e seco, sem as águas da virtude correndo através dele.
E, em meio aos devaneios, lembrei da citação que li outro dia do escritor Arnaldo Padovani: “Ainda que haja noite no coração, vale a pena sorrir para que haja estrelas na escuridão”. Exatamente assim que sentia meu coração, envolto pela noite. Porém por algum motivo, no dia a dia, o sorriso sincero desabrochava e com ele estrelas se revelavam para iluminar minha jornada até a mudança de atitude necessária.
Sim, como bem disse o personagem do livro: “É lá que ele está escondido…Está enterrado lá em algum lugar”. Agora que já sabem o que é o artefato sagrado e onde ele está, é importante que o resgatem e o guardem em um lugar protegido das ameaças do mundo, mas que também o permita fluir, pois ele foi feito para jorrar aguas poderosas de virtude.
Iarodi D. Bezerra
Psicoterapeuta – Escritor
@iarodibezerra