São 5 milhões de pessoas por ano que visitam a Bahia em nome da fé. E este número deve crescer muito porque Salvador, o principal destino de toda essa gente, terá mais duas atrações especiais: a canonização de Irmã Dulce, a primeira santa brasileira, e os investimentos feitos pela Prefeitura no segmento, sendo o mais recente deles a conclusão da requalificação da Colina Sagrada, entregue hoje (4).
Se considerarmos que cada um desses 5 milhões de turistas permanece ao menos dois dias no estado, a movimentação econômica do turismo religioso gira em torno de R$1,8 bilhão na Bahia. Isso porque cada um gasta, em média, R$182 por dia. Vale frisar que não estão computados aí os visitantes oriundos do interior baiano e que peregrinam por Salvador para fazer turismo religioso.
Dois dos mais importantes pontos frequentados por este tipo de turista são o Memorial Irmã Dulce, no Largo de Roma, e a Basílica do Senhor do Bonfim, na Colina Sagrada. Por isso, a Prefeitura está implantando o Caminho da Fé, um conjunto de intervenções urbanísticas que irá ligar esses dois pontos da Cidade Baixa através da requalificação total da Avenida Dendezeiros.
O percurso desse caminho é de 1,1 km e as obras devem durar 12 meses, com investimentos previstos de R$16,1 milhões provenientes de um convênio entre a Prefeitura, Ministério do Turismo e Caixa Econômica. O projeto foi concebido com intuito de priorizar o uso pelo pedestre, com ampliação dos passeios, implantação de novas faixas no nível da pista, itens de acessibilidade, nova pavimentação, fiação subterrânea, iluminação em LED, drenagem, paisagismo, novo mobiliário urbano com o uso de totens históricos explicativos e marcos religiosos.

Intervenções no Bonfim
Um dos extremos desse Caminho da Fé, a Colina Sagrada foi entregue nesta sexta (4) totalmente requalificada pelo prefeito ACM Neto. Com projeto elaborado pela Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF), a segunda e última etapa da intervenção envolveu obras na Baixa do Bonfim e a implantação do novo Velário e da Casa da Água Benta. O novo Velário, por sinal, tornará o templo mais seguro, sobretudo para evitar incêndios. E a Casa da Água Benta também ganhou um painel de madeira de Bel Borba.
No entorno da basílica, as obras envolveram o redesenho da parte baixa, que ficou integrada aos arcos da Ladeira do Bonfim, com implantação de paisagismo, nova pavimentação e iluminação em LED, proporcionando ambiente mais seguro e agradável para a população.
O Mercado dos Arcos foi requalificado e o centro da Praça Euzébio de Matos ganhou um pequeno palco para realização de eventos pela comunidade. Nesse local, também foi construído um estacionamento público com baias para ônibus e vagas para vans e motocicletas. A ligação entre as partes alta e baixa da Colina Sagrada passa a contar com rampas e escadarias reposicionadas, seguindo o conceito de acessibilidade universal.
Etapas
A requalificação da Colina Sagrada, que em sua totalidade teve um investimento de R$14,3 milhões, foi realizada em duas etapas. A primeira delas foi concluída em janeiro passado e ocorreu na parte alta, com a ampliação da Praça do Largo e nova pavimentação. A Praça do Largo passou a ser interligada com as escadarias da basílica, passando uma sensação de continuidade, com piso em pedra portuguesa marcado por mosaico e grafismos.
Há cinco meses, foi entregue a restauração de parte do interior da Basílica do Senhor do Bonfim, cuja intervenção artística foi coordenada pela Prefeitura. O serviço de restauro incluiu a recuperação da capela-mor, cobertura, restauração do retábulo do altar-mor e do forro, escada atrás do nicho e instalações elétricas. Além disso, também foram restauradas as portas de acesso às sacristias, tribunas, molduras dos óculos do forro e pilastras decoradas.
A requalificação da Colina Sagrada tem como diretriz a preservação e valorização do Conjunto Arquitetônico, Urbanístico e Paisagístico da Colina Sagrada do Senhor do Bonfim, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Ao longo dos anos, a Igreja do Bonfim e entorno constituíram um importante ponto da identidade cultural baiana, de expressivo valor afetivo para os fiéis.
Obras no Santuário da Osid
Espaço de fé e religiosidade, que ajuda a contar um pouco da trajetória do Anjo Bom da Bahia, o santuário de Irmã Dulce também está sendo requalificado pela Prefeitura. As obras devem ser concluídas até o próximo dia 15, dois dias após a cerimônia de canonização da primeira santa brasileira, no Vaticano. Em Salvador, a celebração será em 20 de outubro, na Arena Fonte Nova.
As intervenções envolvem revisão da estrutura, da alvenaria, instalação hidráulica, elétrica e do forro. Serão feitos ainda serviços de revestimento, pintura interna e externa, além de melhorias no batistério e velário do santuário. Uma parte das obras será executada com recursos da Prefeitura, mas também haverá mobilização para angariar verbas junto à iniciativa privada.
Superintendente da Osid, Maria Rita Lopez Pontes demonstrou felicidade pela parceria com a Prefeitura, especialmente no momento em que a canonização de Irmã Dulce foi anunciada, estimulando um maior número de visitas de devotos brasileiros e estrangeiros. “Fomos pegos de surpresa com essa bela notícia. Tem um mundo de gente aparecendo. Turistas de todo o Brasil e de fora também. E a gente precisa acolher bem. A Bahia tem essa fama de ser muito hospitaleira, de acolher bem a todos. E Irmã Dulce também. Ela sempre acolheu com amor”, disse.
Vale lembrar que, em 2015, a Prefeitura executou obras na região do Largo de Roma que proporcionaram mais acessibilidade aos devotos com melhorias na pavimentação e ampliação de estacionamento.
Expectativa positiva do trade
Em âmbito nacional, o turismo religioso é responsável por movimentar 20 milhões de viagens em cerca de 300 destinos, gerando mais de R$ 15 bilhões por ano e sendo, inclusive, um grande incentivador de pequenos negócios e investimentos. Os dados são do Ministério do Turismo. E quando o assunto é religiosidade e fé, Salvador está na lista dos roteiros mais visitados.
Isso porque, além dos inúmeros terreiros, que também são pontos de atração turística, o município possui 372 templos católicos situados de ponta a ponta da cidade, sendo que muitos desses existem há séculos, revelando memórias e peculiaridades da devoção e fé aos santos. Ou seja, esses templos também são visitados por seu valor histórico e cultural, muitas vezes por pessoas que sequer são cristãs.
“Antes, o turismo religioso da capital baiana estava relacionado ao tradicional. Ou seja, muitos que vinham de fora para conhecer as praias, a gastronomia e a cultura local faziam questão de tirar um tempo para ir às igrejas. Desde o anúncio da canonização de Irmã Dulce, as agências de viagem, tanto de fora quanto as daqui, começaram a divulgar Salvador como destino religioso”, destacou o coordenador nacional da Pastoral do Turismo (Pastur), padre Manoel Filho.
O presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (Febha), Sílvio Pessoa, confirmou que há um aumento perceptível pela procura do turismo religioso católico desde a beatificação de Irmã Dulce. “Com a santificação dela, esperamos um crescimento exponencial desse que é um importante nicho de mercado. Outras cidades recebem centenas de milhares de pessoas e aqui não será diferente. A vinda desses visitantes será excelente para a economia e para a população, que vai poder gerar receita e renda vendendo lembranças, camisetas, artigos religiosos etc. Isto é, vamos fortificar a fé e ter um ganho financeiro também”, projetou.
A vocação religiosa de Salvador também se faz presente nas diversas celebrações aos santos e orixás. A Festa de Santa Bárbara (Iansã, no Candomblé), por exemplo, acontece todo o dia 4 de dezembro, a poucos dias do início do verão. O que se vê na ocasião é uma multidão de fiéis vestidos de vermelho em cortejo pelas ruas e ladeiras do Centro Antigo da capital baiana. Quatro dias depois, a tradição católica é manifestada com homenagem à padroeira da Bahia, Nossa Senhora da Conceição da Praia, nas ruas do Comércio.
Outras festas de cunho religioso marcam o calendário soteropolitano, como a de Boa Viagem, Bom Jesus dos Navegantes, Reis, Lapinha, Lavagens do Bonfim e de Itapuã, São Lázaro e Iemanjá.
Algumas curiosidades do segmento
Você sabia que Salvador é o único lugar no Brasil onde há dois túmulos de beatasque podem ser visitados? Um deles, claro, é o da Bem-Aventurada Dulce dos Pobres, no Memorial Irmã Dulce, no Largo de Roma. O espaço é uma exposição permanente sobre o legado de amor e caridade do Anjo Bom do Brasil, reunindo mais de 800 peças que ajudam a preservar e manter vivos os ideais da religiosa. Lá também estão os restos mortais da primeira santa brasileira e um simulacro do seu corpo.
O hábito usado por Irmã Dulce, fotografias, documentos e objetos pessoais podem ser vistos no espaço, que ainda preserva, intacto, o quarto onde está a cadeira na qual ela dormiu por quase trinta anos em virtude de uma promessa. Outros fatos marcantes de sua vida são lembrados através de maquetes, livros, diplomas e medalhas.
O outro túmulo sagrado e acessível à população é o da Bem-Aventurada Lindalva Justo, localizado na Capela do Colégio da Nossa Senhora da Salette, nos Barris. A religiosa foi assassinada em 1993 por um interno do abrigo enquanto cuidava de idosos da instituição. Seu processo de beatificação ocorreu em 2007, pelo Papa Bento XVI.
Visita sagrada
O Papa João Paulo II foi o primeiro pontífice a pisar no Brasil e veio duas vezes a Salvador. Na primeira visita, ele inaugurou, em junho de 1980, a Igreja de Alagados. Esta foi a única igreja paroquial inaugurada por ele fora de Roma. Onze anos depois, ele voltou à capital baiana e visitou Irmã Dulce, que estava com a saúde debilitada.
Santuário no Stiep – Numa área arborizada e silenciosa, longe dos tradicionais circuitos históricos de Salvador, a Estrada do Curralinho, no Stiep, abriga o Santuário da Mãe Rainha Salvador, uma réplica do original Santuário Mãe, Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt, localizado na cidade de Vallendar, na Alemanha. No mundo inteiro, há mais de 200 santuários no mesmo estilo e sempre são pontos de visitação dos fiéis que fazem parte do Movimento Apostólico de Schoenstatt.