O longo e complicado histórico de dificuldades da Paranapanema – maior produtora brasileira não-integrada de cobre refinado, vergalhões, fios trefilados, laminados, barras, tubos, conexões e suas ligas – ganhou, nos últimos dias, novos e preocupantes capítulos: a companhia anunciou que fechou o terceiro trimestre do ano com um prejuízo líquido de R$317 milhões, registrou uma queda de 61% em sua receita e atingiu um patrimônio líquido negativo de inacreditáveis R$1,621 bilhão. Se não bastasse, admitiu dificuldade em manter a continuidade do negócio, o que afetaria diretamente o parque industrial baiano. Em meio a tudo isso, na última segunda-feira (14), Luiz Carlos Siqueira Aguiar renunciou ao cargo de diretor-presidente da metalúrgica.
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No balanço do terceiro trimestre, divulgado na última sexta-feira (11), a Paranapanema destaca uma série de ganhos no período como uma geração operacional de caixa positiva de R$ 91 milhões no 3T22, R$82 milhões acima de 3T21, redução de 6% nos custos fixos e ociosidade, aumento na utilização de matéria-prima reciclável no processo produtivo e o pagamento das parcelas da dívida ao longo de 2022. Apesar desses avanços, a empresa continua altamente dependente de financiamento para seu capital de giro.
“A companhia tinha a expectativa da entrada de recursos vindos de um banco de fomento no 3T22, fato que não ocorreu até o momento. Essa situação pode indicar a existência de incerteza relevante que pode levantar dúvida significativa quanto à capacidade de continuidade operacional da companhia e que faz a administração manifestar sua preocupação diante dos fatos apresentados”, admitiu a empresa no relatório do balanço do terceiro trimestre.
E tem mais: a Paranapanema projeta que em 31 de dezembro não cumprirá com os indicadores de covenants (cláusulas contratuais que são estabelecidas pelo credor em um título de dívida) e que pretende solicitar o waiver (no jargão de mercado é um pedido de perdão por não cumprir uma meta) aos credores. No entanto, a própria companhia diz que “existe uma incerteza se isso será concedido”. Entre os principais credores da empresa estão o Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Scotiabank Brasil, Cargill Finance e BNP.
A Paranapanema foi fundada em 1961 e tem capital aberto desde 1971, integrando o Novo Mercado da B3 desde 2012. Possui três unidades fabris. Na matriz, localizada em Dias D’Ávila, na Bahia, são produzidos cátodos, fios e vergalhões, além de coprodutos de cobre, como lama anódica e ácido sulfúrico.
De acordo com o anuário Valor 1000, com uma receita de R$4,1 bilhões, a Paranapanema é hoje a quinta maior empresa da Bahia, atrás apenas da Braskem, Refinaria de Mataripe, Larco e a Companhia Brasileira de Fertilizantes (Cibrafertil).
Na unidade de Santo André (SP), onde também fica a sede fiscal da companhia, fabricam-se produtos de cobre e suas ligas, como laminados, tubos e barras. A terceira unidade fica em Serra (ES), onde são produzidas conexões de cobre. O CDPC (Centro de Distribuição de Produtos de Cobre Ltda.), controlada da Paranapanema, tem unidades na Bahia, em São Paulo e no Rio de Janeiro, e realiza a logística de distribuição.
Em dezembro de 2021, a empresa concluiu um acordo de reestruturação financeira que lhe assegurou alongar compromissos de pagamento da ordem de US$491 milhões até 2028. Foi a quinta reestruturação em seis décadas. No segundo trimestre deste ano, a companhia cumpriu o pagamento da segunda parcela da dívida reestruturada, no valor de aproximadamente US$25 milhões.
Novo presidente
Marcelo J. Milliet, sócio da consultoria Íntegra Associados e com mais de 40 anos de experiência profissional, é o novo diretor presidente e de relações com investidores da Paranapanema. O anúncio foi feito na última segunda-feira (14). Ele vai substituir a Luiz Carlos Siqueira Aguiar- fundamental para o sucesso do acordo com os bancos. Milliet é graduado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas e é especializado em fusões e aquisições.
O novo presidente da Paranapanema atuou como CEO e CFO em empresas nacionais e multinacionais, como o Grupo Matarazzo, HBO Brasil, Traffic Marketing Esportivo, CIE Brasil/T4F, Cia Industrial Albertina e Renova Energia.
Também foi consultor em diversos projetos relevantes (Grupo Matarazzo, Grupo Dadalto (varejo e financeira), Cia Albertina Industrial e Mercantil, Cotia (trading), Grupo Isolux Brasil, Eternit, Grupo Libra, Renova Energia, dentre outros) e membro de conselhos de administração e conselhos consultivos de empresas nacionais, joint-ventures e empresas multinacionais.
Informações importantes e bem pontuadas.
Interessante! Para quem gosta de finanças corporativas e mercado acionário, é recomendável a leitura.
Por que todas as Operações da Paranapanema,não estão concentradas na Bahia?
A Mineração de Cobre está aqui na Bahia.
Não diminuiria todos os custos?
Existe um período planejado, para o fim dessa recuperação judicial?