Fundada há quase 40 anos, a pernambucana Moura Dubeux é hoje a maior construtora do Nordeste. Única empresa da região listada em Bolsa e com 3.500 funcionários, a companhia fechou o ano passado com R$1,1 bilhão em lançamentos e R$1,3 bilhão em vendas. O ritmo segue forte este ano: nos primeiros seis meses de 2022, já foram R$915 milhões em lançamentos e R$710 milhões em vendas. A construtora é comandada pelo baiano Diego Villar, 40 anos. Engenheiro civil, com especialização em finanças pelo Ibmec e gestão de projetos pela FGV, Villar atua no mercado imobiliário há 17 anos. Na última quinta-feira, o CEO esteve em Salvador para apresentar à imprensa o novo escritório da Moura Dubeux na capital baiana. Em entrevista ao BAdeValor, afirmou que a ideia é manter o foco no Nordeste. “A Moura Dubeux é uma empresa nordestina, temos muito orgulho disso, e a nossa grande pretensão é ser uma referência nacional com atuação regional”, diz ele.
BAdeValor – Como o senhor avalia o atual momento da Moura Dubeux na Bahia?
Diego Villar – A gente tem muito a agradecer. Quando as coisas estão dando certo, os produtos estão sendo bem vendidos, a gente primeiro agradece. Agradece aos clientes, agradece a confiança que eles depositam na marca, na empresa, no projeto da companhia. De fato, Salvador tem abraçado bem a Moura. E isto tem estimulado a Moura a desenvolver bons projetos aqui, investindo, gerando empregos, fomentando a economia local. Salvador tem nos enchido de orgulho. Os projetos são aqueles que a gente gosta de mostrar, de apresentar. Isso só anima a empresa a continuar investindo. Você está aqui no escritório novo da empresa, vendo isso, vendo a empresa crescer, contratando. A gente prioriza sempre a contração das pessoas locais. Todo o nosso pessoal de direção, gerência, obras, execução e comercialização é daqui da Bahia. Tanto nas contratações diretas quanto nas indiretas. Quando a gente vai desenvolver um projeto de arquitetura, um projeto estrutural, todos são contratados e feitos aqui. Para cada estado, a Moura Dubeux se adapta à cultura local. É assim que a gente busca ser uma empresa nordestina.
BAdeValor – Como a pandemia impactou os negócios da construtora?
Diego Villar – Abrimos o capital da empresa dias antes da pandemia. Como toda Bolsa de Valores nacional e mundial, as ações da empresa caíram, mas elas vêm se recuperando. O mercado imobiliário, com a elevação da taxa de juros, foi precificado de forma mais resiliente, desafiador na Bolsa. A grande maioria das incorporadoras, talvez todas, que são listadas, elas estão descontadas do momento da pré-pandemia. Mas no mundo real, tirando esta percepção da Bolsa, a verdade é que as empresas nunca venderam tanto, nunca tiveram uma boa estrutura de balanço como agora, uma boa capacidade de investimentos, uma baixa avalancagem. Na média, é isso que a gente percebe entre as incorporadoras e não seria diferente com a Moura Dubeux. Temos um bom posicionamento tanto econômico quanto financeiro e de marca. E a pandemia ajudou a gente.
BAdeValor – De que forma?
Diego Villar – Ajudou a gente a buscar entender rapidamente o que o consumidor estava demandando, o que ele estava desejando a partir desta mudança de hábito que ela [a pandemia] trouxe e aí a gente adaptou o nosso produto, ele foi muito bem aceito, bem oferecido, e é por isso que a gente tem tido recordes de vendas a cada trimestre consecutivo.
BAdeValor – O resultado das eleições preocupa a empresa?
Diego Villar – Se você olhar nos últimos 15, 20 anos no Brasil, tirando ali o segundo mandato da presidente Dilma, você observa que o Brasil teve uma responsabilidade política no ambiente econômico muito grande. Buscou-se respeitar as regras do jogo e incentivar o crescimento econômico.. A gente, independente de quem venha a ganhar as eleições, acredita que o Brasil vai seguir adiante e na rota de crescimento. Não poderia ser diferente. É o que vem acontecendo. Muda governo, tem as questões de políticas sociais, de ideologias, mas do ponto de vista econômico, na média, eles [os governantes] vêm respeitando, é o que a gente espera que aconteça também este ano.
BAdeValor – De que forma as recentes altas da taxa Selic impactaram o setor?
Diego Villar – O aumento da taxa de juros é natural que deixe de fomentar o mercado imobiliário, óbvio que não nos mesmo nível do que aconteceu no passado. Veja, a Selic está em quase 14%, mas a taxa de financiamento imobiliário não cresceu na mesma proporção. O que a gente percebe é que ela [a Selic] não impactou da mesma forma. É óbvio que uma taxa Selic mais alta desestimula o crescimento econômico e o investimento, mas no mercado imobiliário o solavanco foi menor do que no restante da economia. Porém, especificamente no Nordeste, o que a gente observa, na média das cidades, são cidades desabastecidas com produtos imobiliários. A gente monitora isso há muitos anos e, nos últimos cinco anos, o estoque de produtos é baixo. O que eu quero dizer com isso: como não tem muitos produtos sendo oferecidos, você ainda consegue ter um público significativo para demandar o seu imóvel.
BAdeValor – Em sua opinião, em termos de política econômica, qual deveria ser a prioridade do próximo governo?
Diego Villar – Se o governo tiver o equilíbrio das contas públicas isso traz o controle da inflação. Inflação mais controlada abre espaço para que haja a redução da taxa de juros. Taxa de juros reduzida acaba, naturalmente, estimulando a economia. Se isso for feito de forma gradativa e escalonada, a gente consegue acompanhar com a produtividade sem trazer efeitos inflacionários e isto gera uma dinâmica econômica que proporciona ao país o crescimento.
BAdeValor – Passa pelo planejamento estratégico do grupo atuar também nos mercados do cento-sul do país?
Diego Villar – Veja bem, este mercado imobiliário não é de ter escala e melhoria de rentabilidade, pelo contrário, quanto maior a escala você pode atingir um ponto de deseconomia. O Nordeste já é o segundo maior mercado imobiliário do Brasil. A Moura é a única incorporadora de médio e alto padrão atuando simultaneamente em várias capitais da região. Como ainda há espaço para crescer não faz sentido pensar em qualquer expansão para fora da nossa região. A Moura Dubeux é uma empresa nordestina, temos muito orgulho disso, e a nossa grande pretensão é ser uma referência nacional com atuação regional.