O impacto da crise econômica no consumo está longe de se comportar de maneira uniforme no Brasil. Apesar do cenário de retração no País, existem áreas geográficas e setores que resistem à recessão – os municípios brasileiros que pertencem à Zona Agroexportadora, por exemplo, apresentam um crescimento, em termos reais, de 1,3% no desempenho do varejo ampliado em 2015 – contra queda de 1,3% na média nacional. É o que mostra o relatório “Ilhas de Oportunidade: Como Navegar no Mercado Consumidor Brasileiro Durante a Crise?”, produzido pelo The Boston Consulting Group (BCG) e pela Cielo, empresa de tecnologia e serviços para o varejo e líder em pagamentos eletrônicos na América Latina.
O levantamento aponta que alguns grupos de cidades crescem aproximadamente 4% ao ano (em termos reais), apesar da recessão. Quando a análise se fragmenta por setor, o País revela outras oportunidades: as vendas em segmentos como farmácias e supermercados, em algumas localidades, têm apresentado taxas de crescimento de até 10%.
“Uma comparação das taxas de crescimento por grupos e por setores de varejo mostra um cenário de gastos altamente heterogêneo no país. O varejo e empresas de bens de consumo podem usar dados reais de consumo para aproveitarem ao máximo as ilhas de oportunidade que existem na crise atual”, diz Daniel Azevedo, sócio do BCG e coautor do relatório. “A grande mensagem é que as empresas podem encontrar oportunidades de crescimento que antes pareciam estar escondidas, mesmo num cenário de varejo altamente impactado pela crise”, afirma Gabriel Mariotto, gerente de Inteligência da Cielo, também coautor do relatório.
O estudo reúne seis grupos de cidades brasileiras que possuem características econômicas, demográficas e geográficas semelhantes e que têm manifestado seus próprios padrões de consumo, tanto antes como em resposta à crise. Em ordem decrescente de representatividade das vendas do varejo nacional, os grupos são conurbações urbanas, áreas metropolitanas, interior do sul-sudeste, zona agroexportadora, interior do Nordeste e cinturão amazônico.
A análise aponta que a zona agroexportadora e o interior do Nordeste têm as maiores taxas de crescimento no período de 2013 a 2015 (4,2% e 3,3%, respectivamente); enquanto as conurbações urbanas e o cinturão amazônico, as mais baixas. A maioria dos setores na zona agroexportadora continuou a crescer, as conurbações urbanas demonstraram alguns setores com crescimento positivo e o cinturão amazônico mostrou evidências de um declínio amplo e profundo.
Comportamento dos setores e regiões
Os consumidores têm concentrado seus gastos em bens essenciais, que se refletem nas vendas em farmácias e supermercados, em comparação com varejistas de produtos eletrônicos, de móveis e lojas de departamento. No geral, o varejo alimentício especializado – que compreende lojas de bebidas, lojas de chocolates, padarias, conveniência, entre outros – se manteve estável, enquanto os varejistas de vestuário têm sido mais afetados. As receitas com turismo recuaram nas grandes áreas urbanas, mas aumentaram em cidades menores que se encontram em regiões onde estão destinos populares de férias.
Como exemplo das variações, as vendas no setor de supermercados caíram 0,6% nas conurbações urbanas, mas apresentaram crescimento (em termos reais) de 5,2%, na zona agroexportadora, e 2,4% no interior do sul-sudeste e no cinturão amazônico.
Um bolsão de alto desempenho nacional é o de vendas de comércio eletrônico (e-commerce), que se comporta como gatilho de crescimento para a maioria dos setores. “O Índice Cielo do Varejo Ampliado mostra que o e-commerce cresceu 2,5 vezes mais que a média do varejo nos últimos cinco anos. Em setores já mais consolidados, como o de artigos esportivos, as vendas on-line correspondem a 20% do total”, afirma Gabriel Mariotto, gerente de Inteligência da Cielo. “Mesmo que o consumo tropece, a influência das tecnologias digitais no comportamento de compras do consumidor está aumentando, impulsionada por uma maior conectividade, avanços na tecnologia e novos serviços”, complementa Daniel Azevedo, do BCG.