A construção dos museus do chocolate em Ilhéus, na Bahia, e Altamira, no Pará, promete trazer impactos significativos tanto na economia quanto no turismo dessas regiões. Em Ilhéus, a criação do museu segue uma linha que valoriza a rica história da cidade na produção de cacau e chocolate. Conhecida pela belas obras do escritor Jorge Amado, Ilhéus já é um destino turístico consolidado e historicamente importante na cadeia produtiva do cacau. Desde 2009, com a realização do Chocolat Festival, a indústria do chocolate na Bahia expandiu significativamente, com o surgimento de mais de 200 marcas de chocolate.
O novo museu em Ilhéus celebrará essa história, destacando a importância econômica e cultural do cacau e do chocolate na região. O espaço contará com auditório, exibição de filmes e exposições que abordarão desde a introdução do cacau na região até a sua importância econômica.
Além disso, Ilhéus abriga três grandes moageiras de cacau, responsáveis por processar cerca de 95% do cacau do Brasil, o que torna o museu ainda mais relevante. De acordo com o empreendedor do cacau, Marco Lessa, os visitantes poderão estender sua experiência para as plantações de cacau, tanto na Mata Atlântica quanto na Amazônia, proporcionando uma imersão completa na cultura do cacau.
Em Altamira, a criação do Museu do Cacau e Chocolate representa um marco importante para um destino que não é tradicionalmente turístico. A cidade, conhecida pelo turismo de pesca e de negócios devido à sua produção agrícola, ganhará um novo atrativo que homenageia a produção do cacau, um dos principais produtos da região. Altamira, ao lado de Medicilândia, é uma das maiores produtoras de cacau do Pará e do Brasil.
“O novo museu não só celebrará essa produção, mas também criará atividades que atrairão visitantes de outras regiões, fomentando o turismo local. O espaço incluirá exposições sobre a história do cacau, suas características científicas, os equipamentos utilizados na produção de chocolate, além de aspectos relacionados à saúde e ao empreendedorismo”, garante Lessa. Com ambientes para capacitação, treinamento, auditório e exibição de filmes, o museu estimulará a economia local, gerando receitas e impulsionando setores como hotéis, restaurantes e guias turísticos.
Desafios
Os grandes desafios para implementar, executar e realizar dois projetos como esses é, segundo Lessa, o financiamento. “A gente tem que compreender que esses museus são um espaço de resgate de história, de educação, são espaços de homenagem à cultura do cacau nas duas regiões, mas também nós temos uma população de baixa renda que precisa ter acesso a esses museus, portanto, diferentemente de cidades turísticas da Europa, cujo fluxo e o poder aquisitivo é muito mais elevado, e contribuem diretamente na sustentação desses equipamentos. No caso do Brasil, não. Ele tem uma outra função, ele tem um outro propósito que não é apenas gerar receita para a sustentação”.
Para ele, os museus são espaços de educação, de cultura, de capacitação, de estímulo ao empreendedorismo, de resgate da história. “Tudo isso aí para a população local é muito importante. E considerando que ele estará em duas regiões, uma que já viveu um tempo áureo, que foi o caso de Ilhéus com o cacau, e outra região que ainda sofre muito com a pobreza, com algumas dificuldades do ponto de vista social e econômico, a gente precisa de apoio do Estado nos financiamentos desses dois equipamentos. Nós estamos já construindo o projeto de viabilidade econômica para que nós tenhamos como financiar esses dois projetos, tanto em Altamira como em Ilhéus. O meu objetivo é que eles aconteçam simultaneamente, considerando o tamanho do Brasil e a importância dessa cadeia econômica para os dois destinos, no Norte e no Nordeste”.
Exportação
Segundo o empreendedor, o Brasil hoje é o sexto maior produtor do mundo de cacau. “Hoje ele não é auto-suficiente, em função da crise de uma praga que assolou a região chamada vassoura de bruxa. Todo cacau produzido é consumido no próprio país. Então nós temos os países africanos, principalmente Costa do Marfim e Gana, que são os maiores produtores mundiais de cacau”.
Hoje, o Brasil exporta, principalmente, para a Argentina. “Mas o mundo, para as pessoas terem uma ideia, tem um déficit de 20% de cacau. Então se eu produzo quatro tenho necessidade de cinco milhões, então eu estou sempre deficitário, principalmente agora com a crise que nós estamos vivendo, onde o cacau sofreu uma explosão do seu valor, saltando de 3 mil dólares a toneladas, para 10 mil dólares a toneladas, em valores médios, estando estabilizado em 8, 9 mil, em função dessa crise climática e de produção na África, principalmente. Então você vive um momento muito peculiar na produção do cacau”, destaca.
Chocolat Festival
Os investimentos no Chocolat Festival para 2024 foram cerca de R$ 20 milhões considerando todas as edições do evento pelo Brasil e as ações no exterior. Conforme Lessa, são projetos grandes com 5 a 10 mil metros quadrados, mais de 100 expositores, infra-estrutura completa, midia, equipamento, entre outros. “Isso estimula os pequenos produtores e investimos para ter os espaços subsidiados para os produtores menores também”.
Ele diz que o Chocolat Festival foi um divisor de águas no que diz respeito à cultura do cacau e chocolate do país. “Até 2009, nós tínhamos o cacau como um coadjuvante na produção do chocolate. As pessoas sabiam que chocolate era um produto delicioso, conheciam, consumiam. Não era um dos maiores consumos per capita do planeta. Afinal de contas, não é um produto de consumo de massa e não é tão barato. Mas, de todo modo, as pessoas amam chocolate, de todas as formas, desde a cobertura de bolo ao tablet, chocolate quente ao brigadeiro”.
De acordo com Lessa, o chocolate é muito amado, mas o cacau, não. O cacau, como matéria-prima, sempre foi coadjuvante, mas ele é o protagonista. “Ele é o produto-base, não existe imitação de chocolate. Por mais que o percentual seja menor, para ter aquele sabor de chocolate, tem que ter cacau presente. É um produto que tem uma história milenar, incrível e é um super alimento. Além de ser o produto mais sustentável que existe”, ressalta.
Lessa diz que o festival inaugurou uma nova história na indústria do cacau e chocolate no país. Agora, os planos são de expandir o evento pelo Brasil e pelo exterior, levando essa mensagem do cacau como protagonista, valorizando o chocolate como resultado de um trabalho que envolve muitas pessoas, muitos pequenos produtores pelo Brasil e pelo exterior, em todos os países que produzem, mas o Brasil sendo sempre destaque.
“E com isso, valorizando essa cultura incrível e ampliando também a sua aplicação industrial, não só como chocolate, mas assim como mais de 30 coprodutos, em que as pessoas conhecerão cada vez mais, consumirão por ser um produto delicioso, maravilhoso, saboroso e super saudável. Então, a ideia do festival é expandir, diversificar e ser cada vez mais atraente para os seus visitantes, para os expositores e para o público de um modo geral, do mais especialista no assunto, até as crianças que amam chocolate”, finaliza.
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