A tão esperada quinta geração de redes de comunicação móvel, ou apenas 5G, está em vias de ser implantada na Bahia. De acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), em 29 de agosto próximo, os soteropolitanos já poderão navegar nessas ondas, já que a partir desta data todas as capitais do país terão a liberação para o uso da faixa.
Não demora para que os usuários possam experimentar o admirável mundo novo. Será um tal de realidade aumentada, carros autônomos, transmissão de dados na velocidade da luz, uma verdadeira revolução tecnológica que vai impactar a vida dos consumidores e, ainda mais, os setores econômicos e de desenvolvimentos, como a indústria, a medicina, a construção civil, entre muitos outros.
Por enquanto, apenas Brasília foi agraciada com o sinal, mas segundo a Anatel, o cronograma de liberação, definido no Edital 5G pode ser antecipado, caso sejam atendidas as condições necessárias, que consistam no início das atividades associadas à migração das parabólicas para a banda Ku (campanha de comunicação e distribuição de kits) e na conclusão das atividades associadas à desocupação da faixa de 3.625 MHz a 3.700 MHz e à mitigação de interferências na faixa de 3.700 MHz a 4.200 MHz.
“Essas atividades são realizadas pela EAF (“Siga Antenado”), entidade criada para isso por determinação do Edital 5G. A ordem de execução dessas atividades segue critérios técnicos e logísticos, que permitam cumprir a data definida no Edital 5G. Por tais critérios, foi possível a liberação da faixa no Distrito Federal, de forma antecipada”, informa, em nota, a Agência.
Por isso, é possível que haja a antecipação em outros municípios. No entanto, o edital também prevê a possibilidade de postergação da liberação por decisão do Conselho Diretor da Anatel, desde que sejam constatadas dificuldades técnicas no atendimento das condições necessárias por parte da EAF (“Siga Antenado”).
Cronograma de liberação, definido no Edital 5G:
- a partir de 29 de agosto de 2022, nos municípios brasileiros que sejam capitais de Estados e o Distrito Federal;
- a partir de 1º de janeiro de 2023, nos municípios brasileiros que possuam população igual ou superior a 500 mil habitantes;
- a partir de 30 de junho de 2023, nos municípios brasileiros que possuam população igual ou superior a 200 mil habitantes e em pelo menos 25% dos municípios brasileiros que possuam população de até 30 mil habitantes;
- a partir de 30 de junho de 2024, nos municípios brasileiros que possuam população igual ou superior a 100 mil habitantes e em pelo menos 50% dos municípios brasileiros que possuam população de até 30 mil habitantes;
- a partir de 30 de junho de 2025, em pelo menos 75% dos municípios brasileiros que possuam população de até 30 mil habitantes;
- a partir de 1º de janeiro de 2026, nos demais municípios.
As operadoras
TIM
Para o BAdeValor, a TIM informou, por nota, que está totalmente preparada para iniciar a operação comercial da rede 5G, aguardando apenas a liberação do uso da frequência 3,5GHz em Salvador. “Nosso objetivo será prover a melhor experiência 5G do Brasil para os clientes. Fomos a primeira operadora a concluir a preparação da rede 5G SA (standalone), fundamental para habilitar serviços inovadores para os consumidores finais e para as empresas. Hoje, já oferecemos em 15 cidades em todo o país, incluindo Salvador, o 5G DSS, que utiliza as frequências do 4G e permite uma experiência diferenciada aos clientes, que evoluirá significativamente com a chegada do 5G SA na frequência 3,5GHz”.
Desde 2019, conforme nota, a TIM investe para fomentar um ecossistema 5G que permitisse a implementação da tecnologia no Brasil. A operadora, ao longo dos últimos anos, desenvolveu projetos piloto e testes em várias partes do país, abrindo caminho para a implantação e ativação da rede standalone nas principais cidades do Brasil. Os aportes em infraestrutura para chegar à liderança atual no 4G – a TIM é a operadora com o maior número de municípios atendidos no país – foram primordiais também para a qualidade da rede 5G que está sendo construída no país. “Nos próximos meses, a TIM tem uma agenda intensa de implementação de redes 5G em frequência 3,5 GHz em várias cidades simultaneamente, para que todos tenham a melhor experiência com a tecnologia. O calendário depende de um trabalho conjunto entre as operadoras e a Anatel”.
Claro
A operadora também informou, por meio de nota, que já está preparada para a expansão gradativa do 5G nas demais capitais e outras regiões, de acordo com o cronograma estabelecido pelas autoridades responsáveis, à medida que a faixa de 3,5 GHz for liberada em cada estado.
Em Brasília, para acessar a rede, não é necessária qualquer alteração de contrato. Basta que o cliente tenha um plano ativo da Claro, um celular compatível e estar em uma área de cobertura para passar a utilizar o novo 5G+.
Vivo
A operadora informou ao BAdeValor que seus clientes terão acesso à rede a partir de um smartphone compatível e dentro da área de cobertura. Começou por Brasília e já está pronta para ativar nas demais capitais, assim que o espectro for liberado.
Em nota, a Vivo diz ser a empresa que mais arrematou frequências no leilão do último ano. Foram três nacionais na faixa de 26 GHz, quatro regionais na 2,3 GHz – que já vem sendo ativada em algumas capitais desde o final do ano passado – e dois blocos nacionais na 3,5 GHz. Além disso, a Vivo conta com um dos maiores backbones do país, um diferencial para conexão das antenas 5G que devem estar conectadas por uma rede de transmissão de alta capacidade e qualidade. Toda essa infraestrutura permitirá que a rede da Vivo tenha velocidades similares ao tráfego registrado em acessos fixos de fibra.
“O 5G já é uma realidade para aqueles que possuem um smartphone que permita a conexão na quinta geração. Os clientes têm uma navegação mais veloz e melhor experiência no uso e consumo de conteúdo multimídia, como nas aplicações em realidade aumentada ou nos jogos online com alta resolução”, diz o vice-presidente de marketing e vendas da Vivo, Márcio Fabbris.
Conforme ele, com mais essa faixa, a Vivo oferecerá uma combinação das principais tecnologias móveis para a conectividade via smartphone e internet fixa. Além da quinta geração em tecnologia móvel, a empresa tem a maior rede de internet com fibra da América Latina, cobrindo atualmente 20,5 milhões de domicílios brasileiros, além de 4,8 milhões já conectados. Para usar o 5G da Vivo, basta ter um plano móvel da operadora e um aparelho compatível com a tecnologia. Atualmente, são mais de 2,5 milhões de clientes que já possuem essa condição e o número tende a aumentar significativamente.
Os clientes com chip 4G já têm acesso ao 5G. Nas regiões com cobertura, a conexão será automática e dessa forma o ícone 5G aparecerá na tela do aparelho. A empresa possui em seu portfólio 47 aparelhos homologados compatíveis nas frequências de 3,5GHz e 2,3GHz. Com o 5G, a experiência de velocidade do usuário será até 10 vezes mais rápida que o 4G, além da redução no tempo de latência.
“A rede 5G vai acelerar as evoluções tecnológicas necessárias para a criação dos recursos mais avançados em serviços digitais e proporcionará uma experiência mais veloz, confiável e com menor latência, fazendo com que tudo aconteça em tempo real. Na indústria, além da ultravelocidade na transmissão de dados, possibilitará maior quantidade de dispositivos conectados simultaneamente e amplia o uso para o desenvolvimento de soluções que exijam baixa latência, como aplicações para a saúde, robotização de produção, automação no agronegócio e transportes autônomos”, observa o VP.
O que dizem os especialistas
Estudos da Accenture, empresa multinacional de consultoria de gestão, tecnologia da informação e outsourcing, indicam que com a implementação da tecnologia será desencadeada uma revolução em produtos, serviços, modelos de negócios e experiências. Isto será traduzido em enormes impactos para diferentes setores no Brasil, como Químico e Recursos Naturais, e na indústria automotiva, detalhados em estudos recentes.
“Em nossas pesquisas, mais de 50% dos executivos consideram que combinar o 5G com tecnologias de ponta, tais como IA, machine learning, nuvem, Edge Computing e IoT, é essencial para acelerar o desempenho dos negócios”, destaca o diretor da Accenture, especialista em Telecomunicações e 5G, Paulo Tavares.
Pesquisas recentes da empresa, sobre o impacto potencial do 5G em mercados em que o leilão já havia acontecido, como Europa e EUA, e havia maturidade para um estudo mais preciso, demonstra que na Europa, o 5G vai gerar um incremento de mais de € 2 trilhões em vendas entre 2021 e 2025, e ainda agregará € 1 trilhão ao PIB. Já nos Estados Unidos, o crescimento com o 5G será de mais de US$ 2,7 trilhões em vendas, enquanto o PIB terá acréscimo de US$ 1,5 trilhão nesse período. Em relação ao nível de emprego, só nos EUA, o 5G tem potencial para criar 16 milhões de empregos em todos os setores da economia.
O potencial do 5G na indústria
Melhora:
- A capacidade de dados da rede sem fio da planta
- A capacidade de dispositivos conectados por ponto de acesso sem fio
- O 5G fornece conectividade para um grande número de sensores e atuadores integrados a sistemas autônomos
- A capacidade de dispositivos conectados por ponto de acesso sem fio
- A capacidade da rede de transportar dados continuamente
Habilita:
- O suporte ao controle de várias plantas operacionais a partir de um site de controle central, virtualizando a rede e processando a borda
- A expansão e a flexibilidade da operação com uma solução sincronizada entre ambiente físico e digital (digital twins)
- A transmissão e análise em tempo real de conjuntos de big data
- A capacidade de transmissão de grande quantidade de dados e resposta rápida para a manutenção e a qualidade preditiva
- O suporte ao controle de robôs e veículos automatizados (AGV) com resposta de baixa latência – ou seja, menor tempo de resposta
- A baixa latência e a resposta instantânea aos dispositivos de fones de ouvido e AR/VR (realidade aumentada e virtual), até em áreas distintas
- A capacidade de transmissão para grandes conjuntos de dados e baixa latência para análise em tempo real
- Instruções de trabalho em tempo real e treinamentos conforme a necessidade
- Tracking dos operadores em tempo real
- A transmissão de dados em tempo real e análise de conjuntos de big data para melhorias no produto/ processo que atendam às necessidades dos clientes
- Análise, autocorreção, otimização da produção e redução de custos com uso de big data e analytics
Detalhes do avanço da tecnologia:
2G – Voz e SMS – Conectando humanos
3G – Era dos smartphones: dados e apps – Conectando humanos
4G – Surgem os dispositivos conectados – Conectando humanos + dispositivos
5G – Enorme investimento de capital e complexidade na implementação de ativos de fibra e conectividade – Conectando “o mundo” (humano-humano, máquina-máquina, humano-máquina, máquina-humano)
Na mesma linha de análise segue o gerente de Inovação da Andrade Gutierrez, André Medina. Para ele, empresas e indústrias serão altamente impactadas pela tecnologia. A ultravelocidade, por exemplo, proporcionará avanços na Engenharia 4.0, potencializando recursos já existentes, como a Internet das Coisas (IOT) e o Building Information Modeling (BIM), que em português quer dizer Modelo da Informação da Construção. Com isso, uma das grandes expectativas é para a utilização do 5G dentro dos canteiros de obras, que poderão se tornar inteligentes, ou seja, mais automatizados, conectados e monitorados
“O 5G abre caminho para que tecnologias como drones, sensores e qualquer outro aparelho que necessite de conexão com a internet tenham melhor aproveitamento e tempo de resposta muito menor em comparação com o 4G”, explica Medina, que, desde 2018, está à frente do Vetor AG, programa de inovação aberta da construtora.