Quem pretende pegar estrada de última hora para curtir os festejos juninos nas cidades do interior da Bahia ou de outros estados pode ficar a ver navios caso pense em alugar um carro. Com os preços altos das passagens aéreas, as enormes filas nos terminais marítimos e para o transporte intermunicipais, a procura pelo serviço de aluguel aumentou muito nas últimas semanas e empresas que prestam esse tipo de serviço já não têm veículos disponíveis.
É o que ocorre em Salvador, como disse o biólogo Marcelo Dantas. Ele buscou nas principais locadoras e não achou veículo para alugar, desde a segunda-feira (20). “Consegui alugar informalmente, com um conhecido, mas preferia se fosse de empresa especializada, para ter mais segurança, só que não deu. Todo ano alugo carro para viajar. Acho melhor assim porque nos arredores das cidades sempre têm muitas atrações e já facilita nossa ida”, conta o biólogo.
O BADEVALOR fez simulação em sites das locadoras e também não encontrou automóveis disponíveis, em Salvador, para as datas festivas, contrariando a projeção do conselheiro gestor da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), Paulo Miguel Júnior. Ele diz que nesta época a projeção histórica é de até 20% de aumento na demanda nos principais destinos turísticos relacionados à festa, como no Nordeste.
“Isso também é resultado da procura por parte de turistas de fora do Brasil, como os europeus, americanos e até uma parcela de asiáticos. E esses são turistas mais acostumados a alugar carros em todas as viagens que fazem”, disse.
Para ele, a preferência por carro alugado cresceu muito pela praticidade e benefícios, já que evita dores de cabeça e gastos com seguro, manutenção, revisões, tributos e principalmente o trabalho na hora de vender o veículo.
“O aluguel tem chamado a atenção principalmente de pessoas que valorizam mais o uso do que a posse. Estamos diante de uma mudança de cultura, que rapidamente cai no gosto do brasileiro. Outro ponto que pode ser aliado das locadoras é que, diante do ambiente de insegurança na economia por causa da Covid-19, mais pessoas tendem preferir não fazer investimento na compra de um veículo próprio, o substituindo por um alugado”, observa.
Só em faturamento bruto anual, o setor de locação atingiu R$ 23,5 bilhões, enquanto o faturamento líquido anual foi de R$ 20,6 bilhões, ambos no ano passado. Embora a Abla não disponha de estatísticas sobre a participação de cada estado no faturamento nacional, o conselheiro diz que é possível apontar a participação da Bahia no total de veículos de locadoras. Portanto, ao final de 2021 eram 1.036 locadoras ativas, gerando 7.330 empregos diretos e com uma frota total de 11.118 veículos. Em 2021, as locadoras emplacaram 2.668 veículos no estado.
Mercado nacional
O mercado está aquecido tanto na Bahia como nacionalmente. O impacto da pandemia não barrou a expansão do setor, pelo contrário, desde 2017 está em constante crescimento. Conforme Júnior, esse mercado contornou a grave situação dos primeiros meses da crise sanitária, em 2020, e conseguiu ultrapassar a marca de 1,3 milhão de veículos na frota total das 13.903 locadoras ativas no país. Em 2021, as locadoras compraram 441.858 automóveis e comerciais leves, que são os principais clientes das montadoras no país.

“A atividade é uma das que está vivendo um profundo momento de transformações. Estão acontecendo mudanças e avanços que estão relacionados com a mobilidade urbana e, consequentemente, com o nosso setor”, explica Miguel Júnior. Como exemplo, ele aborda a conectividade dos carros, que cresceu rapidamente. “A chegada de veículos híbridos e elétricos ao mercado está acontecendo; há novas formas de compartilhamento de veículos sendo postas em prática e existe uma diversidade de aplicativos relacionados ao transporte de pessoas. Enfim, são diversos novos fatores que surgem a cada dia que certamente exigirão novas respostas na nossa maneira de trabalhar com locação de veículos, que tem um enorme potencial de crescimento no Brasil”.
Principais mercados
Além do turismo, entre os principais mercados para a locação de carros está o da terceirização de frotas, que é o aluguel de frotas inteiras para outras empresas privadas ou para governos e órgãos públicos, por meio de contratos longos (12 a 36 meses de duração, em média).
Outro mercado é o carro por assinatura. “Foi a modalidade de aluguel que mais cresceu durante a pandemia, na qual as pessoas alugam um carro por 12 meses e até por 36 meses. Essa modalidade atingiu o uso de 8% da frota total das locadoras (o equivalente a quase 100 mil carros alugados por meio desse tipo de contrato de longa duração). O momento atual, no qual mais pessoas preferem evitar transportes coletivos, acelerou essa demanda”, explica Júnior.
Por fim, há também o mercado do aluguel de carros para motoristas de aplicativos. A Abla estima que uma a cada quatro pessoas que trabalha com transporte por aplicativos o faz com carro alugado, sendo 250 mil carros potenciais destinados para esse perfil de usuários.
Investimentos
O setor vive um bom momento em termos de investimentos, sejam por meio de fusões e aquisições entre as próprias locadoras, seja via interesse de investidores e fundos de investimentos. Dentro desse cenário, o mais importante é enfatizar que há mercado para locadoras de todos os portes, ou seja, as médias e pequenas também têm nichos de mercado a serem aproveitados, principalmente no aluguel de frotas para empresas de pequeno e médio portes nos segmentos de comércio e serviços. Embora existam exemplos de consolidação do mercado, o setor de locação continua sendo bastante pulverizado no Brasil, com 13.903 locadoras ativas ao final de 2021.
Os mais procurados
Segundo o conselheiro da Abla, a maior parte da frota do setor é composta por veículos de entrada (21,4%) e por hatchs pequenos (22,8%), seguidos pelas SUVs (14,5%) e pelos sedans pequenos (13,3%). “Para a escolha da categoria do veículo a ser alugado, a avaliação prévia das características de cada roteiro é essencial. Quantas pessoas estarão na viagem, a distância a ser percorrida e o volume das bagagens são alguns dos fatores mais importantes para a definir o melhor tipo de carro”.
Ele recomenda, ainda, a checagem junto à locadora sobre o atendimento 24 horas para eventuais panes e acidentes, assim como a variação das tarifas conforme a categoria, tipo de proteção de danos e a habilitação de motoristas adicionais para dirigir o veículo durante o período da locação.
Na momento da retirada do carro, a Abla orienta os turistas a se certificarem de que não há riscos na pintura ou amassados na lataria. E, no caso de devolução em cidades diferentes daquela onde o carro foi retirado, pode haver cobrança de tarifa diferenciada. “Já sobre valores das diárias, é possível afirmar que a média de preços da locação por aqui é, hoje, uma das mais baixas do mundo quando comparada em dólares às tarifas praticadas no exterior. As tarifas para o aluguel diário de veículos no Brasil custam menos, em média, que as cobradas nos principais países da Europa, da América do Sul e também nos Estados Unidos”.
Júnior diz que a definição do preço das diárias de locação de veículos é uma decisão administrativa tomada pelas empresas do setor, conforme seus estudos de viabilidade, critérios, avalições e condições de livre mercado. Por isso, a entidade não sugere, não calcula e não indica qualquer tipo de valor absoluto a respeito de tarifas, sendo esta uma decisão que compete exclusivamente a cada uma das empresas do setor.