A agropecuária baiana é, sem dúvida, um dos segmentos da economia mais felizes dos últimos anos, mesmo com a alta dos insumos. O setor representa nada menos do que um quarto do PIB estadual e é responsável pelo equilíbrio econômico do estado em tempos de crise. Este ano, segundo disse o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb), Humberto Miranda, ao BadeValor, o setor só teve o que comemorar com o seu PIB batendo em torno de R$22,98 bilhões.
Segundo ele, 2022 foi muito exitoso, já que bateram recorde de produção de grãos. “Tínhamos batido o recorde em 2021 em relação a 2020 e este ano passamos dos 12 milhões de toneladas de grãos, demonstrando a capacidade de aumento de produção e de produtividade. Isso graças a ciência, tecnologia e a inovação que forram implementada no campo para nos dar segurança. Temos também que comemorar as culturas de pequenos produtores, como os familiares, com a produção de feijão e milho, que era exclusividade da região oeste e agora está sendo produzido em outras regiões, como no Norte do estado. Irecê, por exemplo, teve safra recorde de milho e estimula os produtores a novos plantios”, conta Miranda.
Na pecuária, ele diz que houve aumento significativo do rebanho. “Foi o que mais cresceu no país. Não somos o maior, mas nosso crescimento alcançou 20,58%. A nossa pecuária tem uma excelente genética. Então só temos o que comemorar. As frutas do Vale São Francisco também, a cada ano se consolida nos mercados nacional e internacional. A Bahia é o maior exportador de uva de mesa do Brasil, e isso é muito importante, gera muito emprego. Juazeiro hoje tem a melhor qualidade de vida do estado e mais gera emprego formal no país”.
Produção de grãos
De acordo com a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura da Bahia (Seagri), o crescimento esperado da produção de grãos, com base no último relatório da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) deverá ser de aproximadamente 12,6 milhões de toneladas na safra 2022-23. O valor sinaliza um aumento de 4,7% em relação ao ciclo anterior. Já a área cultivada está estimada em 3,7 milhões de hectares para 2023, indicando expansão de 1,9% em comparação ao ano anterior.
A tendência para o próximo ano, conforme a Seagri, é de ampliação da área cultivada e da produção no estado, que está em constante elevação dos índices de produtividade. Isso prova que estamos no caminho certo, incentivando novas tecnologias, integração lavoura-pecuária e industrialização da produção e verticalização da cadeia produtiva”, disse o Superintendente de Política do Agronegócio – SPA da Seagri, Claudemir Nonato de Santana.
Segundo ele, as projeções indicam que a safra 2022-2023 também será marcada por recordes de produção de grãos, conforme o levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que indica bom desempenho nas produções de soja, milho e algodão, com elevação da área plantada e da produção.
Claudemir ressalta que a agropecuária baiana é muito diversificada e se destaca nos subsetores: pecuária, com os maiores rebanhos de caprinos e ovinos no Brasil; na produção de cacau, mamona, sisal, coco e banana, como também na produção de grãos (soja, milho, feijão e café). Entre esses grãos, exporta a soja, o cacau, o sisal, sendo que os demais são para consumo interno. Também exporta frutas, como mangas e uvas.
A expectativa, portanto, é de que o PIB do agronegócio estadual cresça entre 3% e 5 % no próximo ano, uma vez que existe previsão de aumento de produção e exportações das commodities baianas. Esses dois principais fatores implicam consequentemente em crescimento: a alta nas exportações e as sucessivas safras recorde da Bahia, em diversas cadeias produtivas.
“Pretendemos crescer em grãos, na produção de frutas, abrir novas áreas de plantio de cacau (que adentra o Oeste), aumentar nossa capacidade de criação de animais, incrementar ainda mais nossa já destacada produção de café, enfim, temos grandes expectativas para crescimento ainda maior do setor no ano de 2023. O agro é organizado, próspero e vigoroso!, destaca Claudemir.
Baixa de insumos
Para o presidente da Faeb, a expectativa é otimista, especialmente pela previsibilidade de baixa dos insumos para adubar as lavoura. “A Bahia tem aberto novos mercados internacionais para carnes e frutas e podemos continuar crescendo. O mundo tem necessidade de novos produtos e nós temos essa diversidade, então precisamos ter mais investimentos e capacidade produtiva. Precisamos ter nossos insumos e não depender tanto do mercado externo”.
Miranda diz que a expectativa é que com novo governo cheguem também as políticas públicas para enfrentar os gargalos do setor, como a segurança da vida das pessoas, do negócio e segurança jurídica. “Esse é um tema fundamental, assim como na infraestrutura e na carga de energia elétrica. Embora a Bahia esteja mais avançada na produção de energia eólica e solar, ainda falta energia no campo para que o produtor possa colocar desde uma grande fábrica até fazer ordenha mecânica. Isso é urgente!”.
Ele observa que pelo fato de o brasil ser exportador no setor agropecuário deveria investir em soluções para o maior peso do setor, que são os insumos. “Precisa importar quase todos os insumos que compõem os nossos adubos. Por isso é tão importante dar continuidade aos bioinsumos, as pesquisas e inovações para ficarmos mais independentes”.
Baixio de Irecê
Além do bom tempo para 2023, já que a previsão é de chuvas normais, o setor comemora a retomada do município de Irecê, que voltou a cultivar feijão e milho em uma área de 200 mil hectares. Isso já dá também uma expectativa de retorno dessas duas atividades que sumiram com a seca na região. Mas o grande momento mesmo é do Projeto Baixio de Irecê (PBI), considerado o maior projeto de irrigação do Brasil, com uma área irrigada total prevista de 48 mil hectares.
“Vai ser o maior projeto de irrigação da América Latina. A região de Barra de São Francisco será o nosso ‘El Dorado’. Vamos gerar cerca de 150 mil empregos diretos e indiretos. O mundo tem fome e tem necessidade de continuar consumindo, por isso esperamos que o agro traga mais riqueza para nosso estado, mas precisamos de investimentos dos poderes públicos também”, destaca.
Balanço de 2022
Mesmo com a elevação significativa dos preços dos fertilizantes, afetando praticamente toda a cadeia de insumos, o PIB do agronegócio totalizou R$ 22,98 bilhões, equivalendo a 24,96% de toda a atividade econômica baiana, ou seja, de cada R$ 1 circulando na economia baiana R$ 0,25 vem das atividades do agronegócio.
No estado, conforme a Seagri, o segmento econômico vem apresentando, nos últimos anos, diversas transformações vivenciadas na economia local, despontando como uma atividade de expressivo dinamismo dentro da economia estadual. De acordo com Claudemir, a Bahia tem uma matriz produtiva bastante ampla por conta da diversidade geo-ambiental.
Os exemplos dessa diversidade são variados: as frutas do Vale do São Francisco (principalmente manga e uva), a agricultura irrigada no Semiárido, os grãos da região Oeste (Cerrado), a pecuária das regiões Sul e Sudoeste, a celulose no Extremo Sul, o cacau e as frutas na região do Baixo Sul, a caprinovinocultura e o sisal na região Semiárida, a avicultura nas áreas de Feira de Santana, entre outros.
Entretanto, o superintendente da Seagri observa que para superar o crescimento é preciso vencer os gargalos. “Há a questão dos impostos que incidem no setor, considerados elevados, a necessidade de frequente investimento público na produção rural e em novas tecnologias, aliado ao necessário impulso da logística para o agronegócio, representada pelas estradas e os meios de transporte que promovem a ligação entre o local produtivo e o de distribuição. Os agricultores também reclamam da dificuldade para se obter recursos junto a bancos oficiais para investimento (a exemplo do coco), e nesse setor a Seagri sempre age como intermediário entre o setor bancário e os produtores, na busca por soluções que facilitem os trâmites necessários, desburocratizando o acesso ao crédito agrícola por parte de quem produz”.
Produção
Dados da Seagri indicam que este ano ocorreu crescimento na produção de grãos em 8,2%, banana 2,9%, café arábica de 36%, mamona 34%, laranja 3%, dentre outras. “Ou seja, todos nossos números balizadores apontam para uma agropecuária que, com os anos, ganhou consistência na Bahia, tornando-se em um negócio seguro e rentável e, para além disso, fortalecendo-se como setor imprescindível para o desenvolvimento econômico de nosso estado, repercutindo positivamente também nos macrodados da economia nacional”.
Outro fator importante é o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP), que previsto pelo MAPA para 2022 acumulará receitas de ordem de R$ 52,3 milhões, sendo a participação do segmento “Lavouras” a mais expressiva, contribuindo com 82% no total do VBP do período. A produção animal contribuiu com 18%. Ressaltamos que o MAPA não calcula a silvicultura, a extração vegetal e também a horti-floricultura.
No segmento “Lavouras”, 2022 foi marcado pela supremacia dos “grãos”, seguidos pelas “frutas”, e, depois, “outras lavouras”. Por sua vez, o segmento “produção animal”, no mesmo período, teve os “bovinos de corte”, como a principal atividade pecuária, movimentando 54% desse setor, seguida dos negócios com o frango e da pecuária de leite.