O tempo para abrir uma empresa na Bahia caiu drasticamente, permitindo que novos empreendedores formalizem seus negócios em até 9h. Em Salvador, esse prazo é ainda menor, chegando a apenas 3h, segundo dados do mais recente Boletim do Mapa de Empresas do Governo Federal. O estado agora ocupa a 3ª posição no ranking nacional, ao lado do Paraná, enquanto Sergipe e Rio Grande do Sul lideram a lista com prazos ainda
No Brasil, o tempo médio para abertura de empresas também bateu recordes, atingindo 18 horas no segundo quadrimestre de 2024, uma redução de 37,9% em relação ao ano anterior. Em entrevista exclusiva ao BA DE VALOR, O cofundador da Agilize, Marlon Freitas, conta como essa agilidade impacta com segurança o ambiente de negócios na Bahia e estimula o empreendedorismo local.
JOANA LOPO – A Bahia ocupa a terceira posição no ranking de estados com menor tempo para abertura de empresas. A que fatores você atribui essa agilidade no estado e, em especial, na capital Salvador, onde o tempo médio é ainda menor?
MARLON FREITAS – Bom, Salvador é a terceira maior capital do Brasil, então vejo que há muito investimento tanto da rede SIMM, quanto do próprio município para melhorar os serviços. A Agilize atua como um catalisador nesse processo. Nós atendemos milhares de clientes aqui em Salvador, e quando adotamos processos mais rápidos e automatizados, certamente ajudamos a acelerar esses prazos. Nossos processos são mais organizados e estruturados do que os das contabilidades convencionais. Inclusive, a própria prefeitura já nos convidou para participar de reuniões sobre necessidades relacionadas ao web service da cidade. Dado o volume de empresas que a gente atende pelo mesmo canal, acredito que a Agilize teve uma influência significativa na agilização desses processos.
JL – A digitalização e a desburocratização são apontadas como principais motores dessa mudança. Quais são os maiores desafios que a Agilize enfrenta ao promover essa transição para serviços contábeis digitais, e como vocês têm superado essas barreiras?
MF – O maior desafio que a Agilize enfrenta nessa transição é, sem dúvida, a mudança cultural. Estamos passando por um importante paradigma, não só no nosso serviço, mas em muitos outros serviços digitais, como bancos e certificados digitais. Desde 2013, quando começamos, muitas transformações ocorreram, especialmente com a pandemia, que acelerou a digitalização de serviços essenciais. Hoje, com certificados digitais e o gov.br, conseguimos eliminar muitas barreiras, como a necessidade de autenticação em cartório. O desafio maior é a adaptação cultural e a questão de tempo, mas, sem dúvidas, estamos acelerando esse processo.
JL – O Mapa de Empresas revela que mais de 178 mil empresas foram abertas na Bahia nos últimos 12 meses, com um saldo positivo de mais de 68 mil novos negócios. Como a contabilidade on-line pode contribuir para a longevidade desses empreendimentos, especialmente no cenário baiano?
MF – A contabilidade on-line pode contribuir bastante por meio de parcerias sólidas com os nossos clientes. Ao longo dos nossos 11 anos, investimos muito em conteúdos educativos, que não trazem benefício financeiro imediato para nós, mas ajudam a educar os empreendedores. O sucesso da Agilize está diretamente ligado ao sucesso dos nossos clientes. Se uma empresa fecha em poucos meses, nem recuperamos o investimento inicial, então eu preciso que o meu cliente tenha sucesso, para nós termos sucesso. Portanto, oferecemos ferramentas que facilitam a vida dos empreendedores, permitindo que eles foquem em seus negócios. Essa é a chave para a longevidade das empresas e nosso papel aqui é fundamental.
JL – Com 97,3% dos novos negócios sendo micro e pequenas empresas, como você avalia o papel desse segmento na economia brasileira e quais estratégias específicas a Agilize adota para atender às necessidades desse público?
MF – As micro e pequenas empresas são um motor da economia brasileira, responsáveis por mais de 60% dos empregos no país e são o motor da economia do Brasil, e nós estamos trabalhando nessa fatia da sociedade, se você gera mais emprego, você possibilita que as pessoas tenham mais renda e possam comprar mais e movimentar a economia, então estamos trabalhando diretamente com essa maioria na movimentação econômica. A Agilize foca diretamente nesse segmento, que é o nosso público-alvo. Muitas pesquisas, conversar semanalmente com os clientes, tirar dúvidas, buscar parceiros, não só de finanças, mas também para seguros, viagens, aluguéis de carro, que estão além do escopo da contabilidade, que nós provemos para ajudar os pequenos e microempresários. Trabalhamos para entender as dores desses clientes por meio de pesquisas de mercado, conversas e entrevistas. Buscamos parcerias estratégicas em diversas áreas, além da contabilidade, para oferecer soluções que ajudem esses empreendedores no dia a dia.
JL – Embora o número de encerramentos de empresas tenha caído 3% no Brasil, ainda observamos um volume expressivo de fechamentos. Em sua opinião, que medidas podem ser adotadas, além da digitalização, para reduzir ainda mais esse número?
MF – Acredito que o investimento em educação empreendedora faz uma grande diferença. Há uma ideia de que um empreendedor não precisa estudar formalmente, mas existe muito conteúdo disponível hoje, inclusive produzido por empresários que compartilham suas experiências em livros, palestras e cursos. Embora não seja um diploma, esse conhecimento pode ajudar os empreendedores a se prepararem melhor para lidar com o cenário de incertezas do empreendedorismo. Portanto, além da digitalização, o estímulo à educação é uma medida crucial.
JL – A Agilize foi uma das pioneiras na contabilidade online no Brasil. Como você vê a evolução desse mercado e quais são as principais inovações que podemos esperar para o futuro da contabilidade digital?
MF – Na verdade, a Agilize não foi apenas uma das pioneiras, foi a primeira contabilidade on-line no Brasil. Nossa visão sempre foi ser a marca top of mind de contabilidade no país, associando a Agilize diretamente à contabilidade. Investimos em tecnologia e na qualificação dos nossos profissionais para oferecer o melhor serviço possível que o empreendedor possa ter. Eu não sou contador, sou empresário, estudei computação, e após experiências ruins com a contabilidade tradicional, tivemos a ideia de fazer a contabilidade online, a gente trouxe nossas dores como guia motor para resolvermos com tecnologia. Ainda estamos no início desse caminho, mesmo com 11 anos de atuação, e acredito que temos muito espaço para crescer, considerando que ainda atendemos uma pequena fatia do mercado potencial, com cerca de 20 mil clientes e 10 mil MEIs, a nossa maior concorrente tem 50 mil clientes, mas temos cerca de mais 80 mil concorrentes de escritórios de contabilidade tradicional no país, que é um desafio que temos que enfrentar. A inovação principal que buscamos é construir uma plataforma “one-stop-shop” para os empreendedores, onde eles encontrem todas as soluções de que precisam.
JL – Você mencionou que o “futuro é digital”. Na sua visão, quais são os próximos passos para a Agilize e para o setor contábil em um cenário de negócios cada vez mais digitalizado e competitivo?
MF – Para a Agilize, o próximo passo é continuar se posicionando como um hub de soluções para empreendedores, indo além da contabilidade, entendendo que as dores são variadas e diversas. Por isso, estamos desenvolvendo ferramentas que empoderem os empreendedores para construir negócios mais saudáveis e bem-sucedidos. No setor contábil, os próximos passos, acredito que a competição aumentará com o nosso surgimento, o que é algo positivo, pois força a melhoria na qualidade dos serviços, em termos de transparência, de acessibilidade. O surgimento da contabilidade online está fazendo com que todo o setor contábil repense a forma de entregar esses serviços, e quem ganha com isso é o empreendedor, tendo mais opções de empresas que podem atender com qualidade.
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