A escritora mineira Ana Maria Gonçalves foi eleita para a cadeira nº 33 da Academia Brasileira de Letras (ABL), tornando-se a primeira mulher negra a ocupar uma vaga na instituição em 128 anos de história. A escolha foi feita em votação realizada nesta quinta-feira (10), com Ana Maria recebendo 30 dos 31 votos possíveis. O outro voto foi para a escritora indígena Eliane Potiguara.
A vaga agora ocupada por Ana Maria Gonçalves pertencia a Evanildo Bechara, gramático, professor e filólogo que faleceu em maio deste ano, aos 97 anos. Além de Eliane, outros candidatos à cadeira incluíram nomes como Ruy da Penha Lobo, Wander Lourenço de Oliveira, José Antônio Spencer Hartmann Júnior, Remilson Soares Candeia, João Calazans Filho, Célia Prado, Denilson Marques da Silva, Gilmar Cardoso, Roberto Numeriano, Aurea Domenech e Martinho Ramalho de Melo.
Publicitária de formação, Ana Maria Gonçalves deixou a carreira na área para se dedicar à literatura. Seu nome ganhou destaque com o romance “Um defeito de cor”, lançado em 2006, uma narrativa de 952 páginas que foi eleita o melhor livro de literatura brasileira do século XXI por um júri da Folha de S.Paulo. A obra também venceu o Prêmio Casa de las Américas em 2007, em Cuba.
O livro, já considerado um clássico contemporâneo, narra a trajetória de Kehinde, uma mulher africana escravizada trazida ao Brasil, que cruza o século XIX em busca do filho. A história aborda temas como escravidão, racismo, ancestralidade e resistência, e é inspirada em Luisa Mahin, mãe do abolicionista Luiz Gama, que atuou na Revolta dos Malês, em 1835.
O impacto de “Um defeito de cor” ultrapassou o universo literário. Em 2024, o romance inspirou o samba-enredo da escola de samba Portela, no Carnaval do Rio de Janeiro, e chegou ao topo da lista de mais vendidos da Amazon na época.
Além do trabalho como escritora, Ana Maria também se destacou como roteirista, dramaturga e professora de escrita criativa. Ela possui uma carreira consolidada no Brasil e no exterior, tendo atuado como escritora residente em instituições como Tulane, Stanford e Middlebury, nos Estados Unidos. Seu trabalho é reconhecido pela difusão de debates sobre literatura e questões raciais, bem como pela curadoria de projetos culturais.
Com 55 anos, Ana Maria é a mais jovem integrante da atual formação da ABL. Ela se junta a um seleto grupo de apenas 13 mulheres que já foram eleitas para a Academia, sendo uma das cinco atualmente em exercício. Sua eleição marca um momento simbólico na história da ABL, ao ampliar a representatividade e o reconhecimento da contribuição intelectual de mulheres negras à literatura brasileira.