No oeste da Bahia, uma iniciativa de transformação produtiva promete reconfigurar o setor global do chocolate. À frente da empreitada está Moisés Schmidt, presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) e dono da Schmidt Agrícola, pretende transformar a região em referência mundial na produção de cacau. Seu plano é erguer a maior fazenda da fruta no planeta, com 10 mil hectares irrigados e altamente mecanizados.
A iniciativa nasce em um momento crítico: o mundo enfrenta uma crise na produção de cacau, com três anos seguidos de queda nas safras africanas — que hoje respondem por 60% da oferta global. Isso fez o preço da amêndoa disparar, chegando a quase US$ 13 mil por tonelada em 2024. Para Schmidt, a escassez é um alerta. “Há um risco real de que as próximas gerações não conheçam o chocolate como ele é hoje”, afirma.
Tecnologia e escala contra o déficit global
A aposta brasileira combina técnicas de agricultura de precisão com uso intensivo de irrigação e adensamento: são 1.600 árvores por hectare, em comparação com 300 de fazendas tradicionais. O sistema permite, segundo o produtor, dobrar a produtividade esperada e transformar o modelo historicamente associado a pequenos agricultores. “O cacau sempre foi visto como uma cultura de subsistência, mas o Brasil tem potencial para produzir em grande escala”, diz Schmidt.
A fazenda já conta com um viveiro que produz 3,5 milhões de mudas por ano, com meta de chegar a 10 milhões até 2027. A meta é ambiciosa: segundo Schmidt, o Brasil pode chegar a 500 mil hectares dedicados à cacauicultura de alto rendimento em dez anos potencial para produzir até 1,6 milhão de toneladas.
A iniciativa tem atraído o olhar da indústria global. Gigantes como Cargill já firmaram parcerias com o projeto-piloto, que ocupa 400 hectares. Para Schmidt, o país está preparado: “Temos tecnologia, temos gente capacitada e agora existe um desafio global que só pode ser enfrentado com eficiência”.