O Brasil perdeu o equivalente a R$ 197 bilhões no ano passado com a violência no trânsito. Esse é o impacto econômico provocado pela morte de 43 mil pessoas e dos 525 mil casos de invalidez permanente resultantes de colisões e atropelamentos. O cálculo refere-se à interrupção da atividade produtiva como resultado da incapacidade de trabalho. Esses dados fazem parte do estudo Estatísticas da Dor e da Perda do Futuro: novas estimativas, do economista Claudio Contador, diretor do Centro de Pesquisa e Economia do Seguro (CPES), da Escola Nacional de Seguros.
O relatório, que toma por base os indicadores do DPVAT, indica uma perda equivalente a 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB). A cada ano, cerca de 664 mil pessoas são envolvidas em acidentes de trânsito no Brasil. “A Guerra do Vietnã durou 16 anos e não matou tantas pessoas. O tsunami do Japão matou 11 mil. É assustador o número de brasileiros mortos e feridos por ano. Segundo a Organização Mundial de Saúde, somos destaque nesta triste estatística. Em 2010, estávamos atrás apenas de China, Índia e Nigéria”, analisa Claudio Contador.
Segundo Natalia Oliveira, coordenadora do CPES e co-autora do estudo, a grande maioria das vítimas está em idade ativa: 90,4% concentram-se na faixa etária de 18 a 64 anos. Ou seja, pertencem a um grupo em plena produção de riquezas para a sociedade. O impacto econômico causado pela perda de mão de obra é chamado de Valor Estatístico da Vida (VEV), ou seja, o quanto a pessoa deixa de produzir anualmente por morte ou invalidez. No Brasil, este valor é de R$ 2.200.
Do total de óbitos, 75% são homens e 25%, de mulheres. Entre os homens mortos, 92% têm entre 18 e 64 anos. “Isso significa que essas pessoas deixam de produzir para o país e para suas famílias, em um efeito cascata que gera uma perda imensa”, afirma Natalia.
Perdas – São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro lideram as estatísticas de perdas decorrentes dos acidentes de trânsito. Segundo o estudo do CPES, o impacto econômico nesses estados foi de R$ 33,9 bilhões, R$ 29,9 bilhões e R$ 14,5 bilhões, respectivamente. Em São Paulo, morreram 6.884 pessoas em acidentes em 2015 – mais que em toda a região Sul no mesmo ano. O Nordeste lidera em número de inválidos: 184 mil, dos quais 63 mil apenas no Ceará e 31 mil em Pernambuco.
O Estado do Rio, por exemplo, registrou 2.931 mortes ao volante e 12.665 casos de invalidez em 2015, contra 3.849 mortes e 14.179 casos de invalidez no ano anterior. Essa redução foi provocada em grande parte pela Lei Seca (que hoje tem uma legislação mais dura) e, sobretudo, pelo reforço da fiscalização. A perda equivale a 2,3% do PIB estadual. No caso de São Paulo, o prejuízo corresponde a 1,8% do PIB.
Mas há casos em que a situação é muito mais grave. Em Roraima, a perda chega a 14,2% do PIB estadual. No Ceará, o impacto chega a 10% e no Espírito Santo, a 7,51%. “Quando uma pessoa morre num acidente, ela deixa de produzir riquezas para seu país. Se fica inválida, deixa de produzir e também impacta a economia de sua família, porque torna-se dependente de cuidados e tem despesas adicionais é disso que nossa pesquisa trata”, conclui o professor.