Iarodi Bezerra*
As primeiras consultas de clientes são sempre um deleite para mim. Muito pela ansiedade de escutar a sua história, que para mim é mais satisfatório que a busca burocrática da demanda inicial, dos sintomas que o levaram até ali.
Já observou que todo encontro social se inicia, como um rito, com a troca de histórias? O ato de contar sobre si é uma representação pura do currículo existencial. Onde saltam nas linhas invisíveis do diálogo o “Quem eu sou de verdade”, onde é acessado pelo indivíduo e entregue ao outro a revelação mais profunda e desmedida do “quem eu sou!”.
Você já sentiu satisfação em contar sobre si para alguém ou já viu a alegria no olhar do outro quando é escutado genuinamente? Caso já vivenciou essa experiência, você é um abençoado, pois, infelizmente, como uma praga, vivemos tempos difíceis dessa “Nova Era”, onde a abundância de superficialidade é flagrante. Eu te convido a sentar em um restaurante sozinho mesmo e observar ao redor. Veja a fugacidade dos encontros, os olhares que buscam outras informações no ambiente ou mãos nervosas para deslizar os dedos na tela do celular. Quantas, não?
As pessoas têm se tornado cada vez mais preguiçosas em se revelar e impacientes em querer saber da revelação do outro. Esse fenômeno mata a beleza do SER para regar o lodo pantanoso do TER!, que é mais fácil de digerir… para ambos. Não é incomum conversas pautadas na posição social que se ocupa, na quantidade de seguidores que se possui nas redes sociais, nos diplomas acumulados nos últimos anos ou bens materiais conquistados.
Pronto, revelei-me! Podemos ir embora?
Talvez seja o efeito da tal sociedade líquida que Zigmunty Bauman sempre traz em seus conteúdos. Ele associa nossas relações contemporâneas ao estado líquido, que não dura, um encontro superficial, sem prazer em estar ali sabendo um do outro. “Pronto! Já sabe de mim, quero voltar para minha caverna!”
As pessoas têm se tornado cada vez mais preguiçosas em se revelar e impacientes em querer saber da revelação do outro. Esse fenômeno mata a beleza do SER para regar o lodo pantanoso do TER!
Sabe o que me assusta, querido leitor? Que existem tantas pessoas gritando sobre os telhados à sociedade o quanto é necessário desfazer-se desse modelo, pois tem gerado inúmeras doenças – físicas e mentais – mas que as pessoas se fazem de surdas. Somente quando os efeitos eclodem descontroladamente, buscam os psicoterapeutas para poder ter um encontro e poder falar sobre si.
Sabe o que seria fantástico? É nesse momento, onde o corpo e alma estão destroçados, que elas reconhecem, tomam a pílula azul e pegam o caminho de volta para fora da Matrix. As poucas horas de terapia, se tornam ouro puro, resgatam lembranças das “horas ganhas” de conversa com os parentes e amigos. E o principal: percebem o quanto seu “eu” é lindo sem as máscaras!
A psicoterapia é o espaço do encontro do indivíduo com outro indivíduo, onde ele toca com a palma da alma os fragmentos sensíveis da sua história, é o momento em que esse indivíduo abandona o lodo da superficialidade e aspira ar fresco, além de exalar o belo perfume da autenticidade profunda, ocultados pela densa tampa do Ter.
E como é o meu primeiro texto escrito para o BA DE VALOR preciso me apresentar a você, caro leitor. Sou um homem para além do ser pai, marido, psicoterapeuta, escritor, filho, irmão, tio, primo, amigo. Sou um caleidoscópio composto pelo fragmentos de minhas histórias de vida, sou um relicário de habilidades ainda não desenvolvidas, uma fábrica de sonhos não vividos, possuo alguns medos injustificáveis, infantis talvez; tenho sempre guardado comigo um feliz sorriso guardado, para que se algum dia te encontrar, entregar com toda alegria.
Prazer, SOU Iarodi!
*Iarodi Bezerra é Psicoterapeuta/Escritor/Poeta
Uma dose de verdade e autenticidade é tão bom!!!! Viver com gente, e o mais importante fazer delas os nossos maiores objetivos de vida .
O texto reflete uma receita muito eficaz para as várias doenças da alma e do corpo, peguei a minha porção.
O Terapeuta é TOP!!!
Bjs quentinhos no coração 💓💓💓💓💓