[dropcap]A[/dropcap] instabilidade climática derrubou a produção do oeste baiano. A região esperava atingir um faturamento da ordem de R$ 8 bilhões na safra 2015-2016, mas esses números foram revistos. A receita deve chegar a R$ 5 bilhões, segundo cálculos da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba). “A questão climática atinge todas as culturas. O milho e a soja não têm mais jeito”, lamenta Júlio Cézar Busato, presidente da entidade, em entrevista exclusiva ao Bahia de Valor. Ele diz ainda que o setor não está imune às crises, mas deve continuar em expansão graças a demanda crescente por alimentos em todo o mundo.
O agronegócio tem liderado nos últimos anos a expansão da economia brasileira. Mesmo agora, com essa recessão, o segmento tem registrado números positivos. O setor é imune às crises?
Isso é ilusão. Nós não somos uma ilha. Nós somos atingidos pela crise também. Mas nós temos duas vantagens em relação aos outros setores. Primeira: a demanda por alimentos em todo mundo está alta e deve continuar alta pelos próximos anos. A segunda: no caso do milho e da soja, eles têm os seus custos em dólar, os insumos são comprados em dólar, e a venda dos produtos também é feita em dólar. É uma espécie de hedge (operação que tem por finalidade proteger o valor de um ativo contra uma possível redução de seu valor numa data futura) natural que nós temos e que nos protege dessas flutuações. Mas nós sofremos muito com com a carga tributária. Precismos melhorar nossa infraestrutura e logística urgentemente.
A crise tem afetado e atração de novos negócios para o oeste baiano?
A procura existe sim, novos projetos existem, mas infelizmente não no mesmo volume que estava tendo antes. Realmente houve uma redução de investimentos, inclusive por parte dos agricultores, que estão apreensivos com o momento econômico e político do país. O que os agricultores têm feito, basicamente, é substituir máquinas e equipamentos ou investir em tecnologia pontuais e que traga resultados imediatos. Todo mundo começa a frear os investimentos o que é muito ruim. Mas não adianta também se iludir.
A região tem sofrido muito com a instabilidade climática…
Este ano foi muito ruim. Estou na região desde 1988, e só presenciei um momento ruim como esse em 89. O El Niño foi muito forte mesmo. Tivemos um déficit de chuva muito grande em outubro, novembro e dezembro. Em janeiro choveu o mundo inteiro. Entramos em fevereiro com uma seca enorme e só foi chover agora um pouquinho em março. As lavouras foram muito afetadas. A tecnologia está nos salvando. Os números não são piores por conta da tecnologia.
Ainda é possível reverter este quadro?
A questão climática atinge todas as culturas. O milho e a soja não têm mais jeito. Nós já temos 80% da área colhida e não adianta chover mais. O algodão ainda tem uma chance se chover esta semana, mas a previsão é muito ruim.
Qual o prejuízo dos agricultores do Oeste? Estima-se em R$ 1 bilhão, é verdade?
Nos tínhamos uma previsão de faturamento na faixa de R$ 8 bilhões. E este faturamento se reduziu para R$ 5 bilhões, ou seja, R$ 3 bilhões evaporaram. Este R$ 1 bilhão é a diferença entre o que o produtor gastou para plantar, formar sua lavoura, e o que ele vai faturar com a venda de seus produtos. Em média são colhidas na região 37 sacas de soja por hectare plantado (sc/ha). Alguns colheram 45 sc/ha e estão bem. Muitos outros 20 sc/ha e não estão nada bem. O cálculo do prejuízo é feito em cima deste último grupo. Visando minimizar os prejuízos dos agricultores e garantir que muitos deles não saiam da atividade, estamos dialogando com os bancos oficiais, a fim de facilitar a renegociação das dívidas. Nós vamos voltar a crescer é só voltar a chover.