Especialistas da Embrapa e parceiros desenvolveram mais um sistema orgânico de produção de frutas. A cultura da vez é a manga. O primeiro sistema orgânico do País para a produção de manga foi elaborado com base nos experimentos realizados em Lençóis, na Chapada Diamantina, e também em estudos já existentes gerados por outras instituições e unidades da Embrapa. A média de produtividade se mostrou pouco superior aos valores registrados no sistema convencional no estado da Bahia: 20 toneladas por hectare (t/ha), com previsão de chegar a 25 t/ha no próximo ciclo, contra 15,6 t/ha em média — a diferença poderia ser maior, caso tivesse sido utilizado um espaçamento mais adensado (mais plantas por hectare) nos experimentos. Mesmo assim, o resultado foi comemorado pela equipe de pesquisa porque é mais um incentivo ao cultivo orgânico e à sustentabilidade da agricultura brasileira.
Além disso, há um fator que deve ser ponderado quando se compara o cultivo sob manejo orgânico ao convencional: a não utilização de produtos químicos, que facilitam a produção. Por enquanto, o sistema está restrito a essa região, mas a proposta é que sirva de modelo e possa ser ajustado para outros polos produtivos do País, já que contempla os princípios básicos da produção orgânica.
Esse é mais um resultado do projeto “Desenvolvimento de sistemas orgânicos de produção para fruteiras de clima tropical”, conduzido em parceria entre a Embrapa e a empresa Bioenergia Orgânicos desde 2011 — já foram lançados sistemas orgânicos de produção para abacaxi e maracujá. A publicação reúne recomendações técnicas relacionadas a aspectos socioeconômicos, exigências climáticas, preparo e manejo do solo, calagem e adubação, variedades, produção de mudas, implantação do pomar, irrigação, práticas culturais, manejo de pragas (doenças e insetos), colheita e pós-colheita, mercado e comercialização, coeficientes técnicos e rentabilidade.
Segundo o pesquisador da Embrapa envolvido no projeto Túlio de Pádua, o sistema serve como um “roteiro” que pode ser implantado por produtores. Contudo, ele alerta que é preciso ajustar os métodos à realidade de cada localidade.
“Estamos produzindo na Chapada Diamantina, que tem tanto de chuva por ano, com temperaturas de determinada característica, com uso de manga irrigada. Cada região vai precisar adaptar o roteiro a sua condição”, destaca.
Bahia na liderança
No Brasil, o Nordeste se destaca pela produção de manga praticamente o ano todo — a região responde por 76,3% da produção nacional, de acordo com dados de 2018 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A Bahia tem a liderança em área colhida (24.200 hectares, o que representa 36,9% da área colhida de manga em todo o País), ficando em segundo lugar, atrás de Pernambuco, em quantidade produzida (378.362 toneladas contra 496.937 toneladas) e produtividade média (15,6 t/ha contra 41,3 t/ha). Essa diferença se explica pelo fato de Pernambuco utilizar um espaçamento mais adensado e abarcar grandes produtores tecnificados, além de variedades mais produtivas visando à exportação, enquanto na Bahia a produção de manga envolve pequenos agricultores familiares e responde por, aproximadamente, 29% da produção nacional.