Melhorar a infraestrutura das estradas, intensificar a fiscalização e o uso de tecnologias como radares e câmeras, promover campanhas de conscientização permanentes e investir na educação para o trânsito e na formação de condutores. Esssas são nalgumas iniciativas que devem ser implementadas para reduzir acidentes de trânsito no país. A opinião é de Antonio Meira Júnior, médico do tráfego e presidente da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet). Ele participa nesta terça-feira (24/9) da segunda edição do projeto Conversa de Valor. O evento – que acontece a partir das 18h, no lounge corporativo The Latvian, na Bahia Marina – terá como tema central “Trânsito é Vida! ” Políticas Públicas e Novas Tecnologias”, e faz parte das comemoração da Semana Nacional de Trânsito.
Pergunta – Qual a importância da Abramet na educação e conscientização no trânsito?
Antonio Meira Júnior – Educação e conscientização para o trânsito são objetivos estratégicos na atuação da Abramet. Nossa missão institucional é estimular uma mobilidade saudável e segura no Brasil, com o objetivo de reduzir a incidência de sinistros com vítimas fatais e sequelas. Por isso, atuamos não apenas pelo engajamento do médico do tráfego, que leva noções de autocuidados com a saúde e de conduta adequada no trânsito durante os atendimentos, mas também participamos ativamente de eventos e campanhas de conscientização sobre o respeito às leis de trânsito.
Pergunta – Sobre o evento da Semana Nacional de Trânsito, que ocorre nesta terça-feira (24), qual a importância de se discutir o assunto e quais as suas perspectivas para o encontro?
Antonio Meira Júnior – A Semana Nacional de Trânsito é uma oportunidade fundamental para promover a conscientização sobre a necessidade de um trânsito mais seguro e saudável. Essa iniciativa está totalmente alinhada ao trabalho da Abramet, que busca, por meio de um esforço conjunto entre o poder público e a sociedade civil, estimular mudanças de comportamento no trânsito. A Abramet apoia e participa ativamente dessa campanha todos os anos. Em 2024, a mensagem central, “Desacelere – Seu Bem Maior é a Vida”, enfatiza a importância de reduzir a velocidade não apenas nas vias, mas também no ritmo de vida, promovendo uma cultura de paz, responsabilidade e respeito à vida no trânsito.
Pergunta – Quais os desafios do trânsito na Bahia e o que deve ser feito para redução de acidentes?
Antonio Meira Júnior – Os maiores desafios têm sido diminuir os sinistros de trânsito, especialmente com rodovias mal conservadas, imprudência dos motoristas e falta de fiscalização adequada. Entre os fatores mais críticos estão o excesso de velocidade, ultrapassagens indevidas e motoristas dirigindo sob efeito do álcool ou droga. Somente entre janeiro e agosto deste ano, por exemplo, os dados do Denatran indicam que quase 620 mil notificações de penalidade foram registradas na Bahia por excesso de velocidade, de um total de aproximadamente 16,9 milhões em todo o País. É preciso melhorar a infraestrutura das estradas, intensificar a fiscalização e o uso de tecnologias como radares e câmeras, promover campanhas de conscientização permanentes e investir na educação para o trânsito e na formação de condutores. Além de campanhas educativas, nós avaliamos como essencial um esforço ainda maior do poder público no reforço à fiscalização.
Pergunta – O que precisa melhorar no quesito infraestrutura e mobilidade urbana, na Bahia?
Antonio Meira Júnior – É necessário criar mais espaços de mobilidade que possam ser compartilhados de forma segura. Ampliar as zonas de baixa velocidade, especialmente em áreas residenciais, escolares e comerciais, onde há maior circulação de pedestres, ciclistas e motociclistas, é fundamental para proteger os usuários mais vulneráveis. Além disso, é essencial expandir a infraestrutura destinada a pedestres e ciclistas, incentivando o uso de alternativas mais sustentáveis de transporte. A melhoria na sinalização das vias também é uma importante alternativa para dar maior segurança a todos. Outro ponto é aumentar a oferta de transporte público de qualidade, proporcionando opções eficientes e acessíveis para a população.
Pergunta – Quais investimentos em políticas públicas voltadas para a segurança e a ampliação de tecnologias de monitoramento, como câmeras e radares devem ser priorizados?
Antonio Meira Júnior – Os mecanismos que forçam a redução de velocidade são essenciais para melhorar a segurança no trânsito. A ampliação do uso de radares e câmeras precisa ser feita de forma estratégica e eficaz. Além disso, é fundamental intensificar o controle sobre a habilitação de motoristas. Na Bahia, o número de condutores sem Carteira Nacional de Habilitação (CNH) é elevado, especialmente entre motociclistas, o que aumenta significativamente o risco de sinistros. Fiscalizar e retirar condutores não habilitados das vias é um grande desafio, especialmente em um estado de grandes dimensões. Precisamos discutir maneiras de reduzir o número de pessoas que dirigem sem habilitação, principalmente no interior. Para isso, devem ser realizadas mais operações de blitz e controle tanto em áreas urbanas quanto em rodovias. Além disso, é importante facilitar o acesso à habilitação por meio de incentivos e programas de formação de condutores. Campanhas educativas também precisam ser intensificadas, destacando os riscos de dirigir sem habilitação, além de penalizar aqueles que são flagrados nessa condição.
Pergunta – De que forma reduzir o déficit de educação continuada para motoristas, ciclistas e pedestres e, também, chegar a uma fiscalização mais eficaz nas áreas de maior risco de acidentes?
Antonio Meira Júnior – A solução passa pela implementação de campanhas permanentes de conscientização que esclareçam e engajem a população sobre a condução segura e os riscos associados. Para isso, é necessário construir uma política pública que consolide essas iniciativas e as torne parte do cotidiano.Um dos caminhos viáveis é a municipalização do trânsito, com investimentos em fiscalização local. Acreditamos que a municipalização permite uma abordagem mais adequada e eficaz tanto na educação quanto na fiscalização, possibilitando uma atuação mais próxima e contínua, o que tende a reduzir infrações. É fundamental que os municípios sejam equipados com órgãos de trânsito próprios, capacitados para colaborar com a administração estadual nesse desafio de promover segurança no trânsito.
Pergunta – Quais novas tecnologias devem ser usadas? E como se incentiva o transporte público de qualidade para termos uma cidade mais segura no trânsito?
Antonio Meira Júnior – Novas tecnologias são ferramentas essenciais para promover uma mobilidade mais segura e saudável. Soluções inovadoras, como sistemas de transporte inteligentes e ferramentas avançadas de monitoramento, têm o potencial de reduzir sinistros, otimizar o deslocamento urbano e incentivar o uso de meios de transporte sustentáveis. Além disso, é fundamental investir em transporte público de qualidade, que ofereça mobilidade, segurança, conforto e pontualidade, incentivando as pessoas a optarem por alternativas coletivas em vez de veículos particulares. Essas medidas, combinadas com o uso de tecnologia, contribuem para a criação de um trânsito mais organizado e, consequentemente, mais saudável.
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