Por Johnny Mendes*
Nos últimos meses, o dólar americano tem apresentado uma forte valorização frente ao real brasileiro, chegando a valores em torno de R$ 5,70 no início de julho de 2024. Atualmente, a cotação está em torno de R$ 5,66, refletindo a força da moeda americana e os desafios enfrentados pela economia brasileira.
A valorização do dólar pode ser atribuída a vários fatores. Em primeiro lugar, os Estados Unidos continuam sendo a maior economia do mundo, com um PIB superior a 20 trilhões de dólares, o que confere robustez à sua moeda. Em contraste, o Brasil, apesar de ser uma das oito maiores economias globais, tem visto o real se desvalorizar.
Um dos principais motivos para essa desvalorização é o adiamento do aumento da taxa de juros pelo Federal Reserve (Fed), o banco central americano. Essa incerteza tem levado investidores a procurarem refúgio no dólar, comprando tanto a moeda quanto títulos públicos americanos, que são altamente líquidos e considerados seguros. Com a manutenção das taxas de juros americanas em patamares elevados, a atratividade desses títulos aumenta ainda mais, não apenas para investidores brasileiros, mas também de outras economias emergentes como Costa Rica, México e Chile.
Além disso, a liquidez da moeda brasileira facilita a especulação contra ela. O real, sendo uma moeda forte e líquida, permite que especuladores criem e desfaçam posições com relativa facilidade, ao contrário de moedas de países como Colômbia e Chile. Essa especulação é exacerbada pela alta liquidez dos contratos futuros de dólar, que apresentam um volume maior do que o mercado à vista.
O real, sendo uma moeda forte e líquida, permite que especuladores criem e desfaçam posições com relativa facilidade, ao contrário de moedas de países como Colômbia e Chile
O Brasil também enfrenta desconfianças fiscais, o que contribui para a desvalorização do real. O governo tem se esforçado para criar políticas que reduzam o risco fiscal, mas a tarefa não é simples. A independência do Banco Central é crucial para combater especulações, mas a falta de intervenção desde julho do ano passado tem gerado sinais para o mercado de que é possível especular contra o real sem grandes riscos.
Outro fator relevante é a divergência de opiniões entre o governo e o Banco Central, que reforça a especulação contra a moeda brasileira. Apesar de o Banco Central possuir instrumentos como o swap cambial e reservas internacionais de mais de 370 bilhões de dólares para intervenções, a ausência de ação tem levado o mercado a apostar contra o real.
A alta do dólar tem impactos significativos na economia brasileira, especialmente na inflação. Aumenta os custos de importação e a volatilidade cambial, forçando as empresas a utilizarem derivativos para proteção, o que eleva seus custos e é repassado aos preços finais. A expectativa é que, com uma possível queda nas taxas de juros do Fed, a especulação diminua e o real volte a se valorizar, trazendo um alívio para a inflação e permitindo uma redução na taxa Selic.
Contudo, o cenário econômico permanece incerto e desafiador, com a volatilidade cambial e a alta dos preços continuando a ser os principais obstáculos para o crescimento e estabilidade econômica do Brasil nos próximos meses.
* Johnny Mendes é professor de Economia e Finanças da ESEG – Faculdade do Grupo Etapa