Iarodi D. Bezerra*
Sempre quando penso sobre a fatídica manhã de domingo de 1941, na base naval de Pearl Harbor, mergulho em um mundo de fantasia. Às vezes desperto assustado dentro de um dormitório após um forte estrondo. Em outros momentos, estou do lado de fora, ao lado de soldados, com os olhares petrificados diante da cena de horror.
Era para ser uma linda manhã de domingo, mas, devido ao ataque sorrateiro da frota de aviões kamikazes japoneses, foi transformado em um inferno na terra. Esse evento catastrófico abriu uma ferida nos EUA. O que os agressores não imaginavam era que, ao ferirem a maior nação, também despertariam um gigante, fazendo-o entrar na guerra.
Em uma manhã ensolarada de sábado, nos tempos atuais, eu caminhava com meu filho Arthur pela rua. Estava alguns passos à frente dele, afundado em pensamentos sobre a rotina: “Será que vai dar para pagar todas as contas?”, “Preciso de mais clientes!”, “Ai meu Deus, o IPVA já é mês que vêm!”, “Como gostaria de viajar!”…
De repente, fui puxado de volta para a realidade ao sentir sua mão dele tocar a minha e, com os seus dedinhos entrelaçar nos meus, assim como um filhote que se aninha debaixo das asas da mamãe pássaro.
Durante a semana, essa experiência ficou indo e vindo à memória. Em um determinado momento, a lembrança veio acompanhada de cenas de Pearl Harbor. De início, fiquei sem entender direito, mas depois compreendi o sentido, levando-me a refletir sobre minha função como pai. Será que eu a cumpro direito? Afinal, qual é a função de um pai e mãe?
Direcionem seus filhos de acordo com suas crenças e valores, dediquem tempo de qualidade a eles, sejam afetuosos. Pais, despertem como gigantes e tenham a coragem para guerrear por seus filhos
Sabe, caro leitor, às vezes, meus filhos se chateiam comigo – fazendo birras e caras feias – por eu não realizar todos os seus desejos. O que me faz perder a cabeça em puro estresse. E isso me entristece, fazendo-me questionar se sou bom pai. Mas, quem não se sentiu assim? Faz parte da nossa humanidade, não? Eu precisava me estressar?
Após o caos, eles, por um motivo ou outro, buscam o meu colo, ou, quando estão na rua, buscam a minha mão para segurar. Eles podem até partir depois de uma frustração, uma birra, mas, ao menor sinal de “perigo”, correm para nossos cuidados. Freud dirá que a proteção dos pais é a primeira necessidade de um filho.
Somos como bases navais. E, por coincidência, a função de uma base naval também é cuidar. É o local aonde os navios e aviões, após uma batalha, fazem os reparos necessários, é o local aonde os tripulantes encontram descanso. Porém, é uma estrutura que possuem uma defesa forte contra inimigos, caso venham a serem atacados.
Nossos inimigos kamikazes vêm de fora – internet, programas de TV, amizades equivocadas – atacando ferozmente o coração de nossa base, pois encontram as nossas defesas estão vulneráveis. Os danos e perdas são irreparáveis. Olhe ao redor, veja o estado de algumas famílias, com as crianças e jovens com dores na alma!
A mensagem de um filme, “Corajosos”, que assisti esses dias, iluminou meu olhar sobre como as minhas atitudes, meu ego, tornavam as defesas vulneráveis. Desde então, tenho buscado fortalecê-las. Reconhecer que nosso ego sabotador a relação com nossos filhos é desesperador.
Dói bastante em encarar a face feia desse nosso ego desajustado, assim como dói transformar os padrões ruins enraizados nele. Dói… e como dói! Mas digo uma coisa: é melhor a dor do processo do que desistir e ver nosso legado ser destroçado já no presente.
Então, meu caro leitor, é tempo de não ser mais como Pearl Harbor. É hora de despertar. Identificar os inimigos que já sobrevoam o céu dos nossos lares e preparar artilharia pesada. Direcionem seus filhos de acordo com suas crenças e valores, dediquem tempo de qualidade a eles, sejam afetuosos. Pais, despertem como gigantes e tenham a coragem para guerrear por seus filhos.
Iarodi D. Bezerra
Psicoterapeuta – Escritor
@iarodibezerra
Aqui em casa aprendemos a trabalhar está batalha diariamente. E confesso não é fácil!!!! Mas é possível!
Como em toda batalha , tem dia que vencemos , mas tbm tem dia que perdemos!!! Mas o saldo tem sido mais positivo do tempo de qualidade, e as vezes somos surpreendidos com um comportamento dos nossos filhos de uma maneira muito linda , madura e positiva. Creio que seja o bálsamo na nossa vida para não desistirmos .
Achei muito pertinente a publicação de Iarodi pois a qualidade da relação com nossos filhos cada vez precisa de atenção e acompanhamento com base nos valores espirituais e éticos