Contrariando previsões iniciais, o Produto Interno Brito (PIB) da Bahia terá um crescimento mais modesto este ano. De acordo com projeções feitas por Gustavo Casseb Pessoti, presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-Ba), a economia do estado fechará 2022 com uma expansão de 1,5%. Nas projeções que foram inicialmente realizadas pelos institutos de pesquisa da Bahia, as estimativas apontavam uma dose de otimismo muito maior, com crescimento da ordem de 3,5%. O desempenho deste ano será puxado pela safra recorde de grãos, recuperação moderada na indústria e um crescimento modesto no segmento de serviços.
De acordo com Pessoti, contribuíram para essa reversão de expectativas as pioras de cenários da economia mundial, diante da já confirmada guerra entre Rússia e Ucrânia e do aumento de inflação nos EUA e na Zona do Euro, que deve acionar mecanismos contracionistas na política monetária do FED e do Banco Central Europeu em 2022.
No plano doméstico, o cenário econômico tende a ser bem conturbado, principalmente em função das disputas eleitorais presidenciais e da persistência da inflação que, embora em patamar menor do que a registrada em 2021 (10,76%), deverá ter nova expansão de aproximadamente 5,5% em 2022. “As projeções do mercado para a taxa de desemprego também apontam uma piora em relação ao ano de 2021 e taxa estimada novamente próxima dos 13,7% para o Brasil”, diz ele.
Com relação ao setor agrícola, o presidente do Corecon-Ba diz que as chuvas que causaram grandes estragos em toda a Bahia durante os meses de dezembro e janeiro, criou uma condição climática mais favorável para o plantio de boa parte das colheitas baianas ficaram com reservas de água no solo.
“Nesse momento, Conab e IBGE que sistematizam dados da produção agrícola divergem apenas no montante desse novo recorde da produção da agricultura em 2022. Para o IBGE, a safra de 2022 começa 0,9% superior à de 2021, com a expectativa de colheita de 10,6 milhões de toneladas de grãos. Já a Conab estima uma safra ainda maior aproximadamente 11,6 milhões de toneladas e crescimento de 8,5% em relação ao ano de 2021”, afirma o economista.
Indústria
Apesar da tendência de desaceleração apontada pelos sensores econômicos da Confederação Nacional da Indústria (CNI) para a indústria brasileira nesse início de 2022, inclusive com queda na geração de empregos, a Bahia deverá apresentar taxa de crescimento positiva na sua indústria. Essas expetativas estão, sobretudo, alicerçadas em primeiro lugar no efeito estatístico, uma vez que em 2021 houve uma forte desaceleração de 13,2% na produção industrial da Bahia. Espera-se, que o efeito estatístico dado pela saída da Ford em 2021 não pressione mais as informações da produção física do ano de 2022, o que por só já colabora para um resultado melhor da indústria este ano (em 2021 a queda da produção industrial de veículos foi de aproximadamente 95%, segundo os dados da SEI).
“Além disso, importantes segmentos deverão apresentar retomadas, principalmente os derivados de petróleo que também apresentaram uma queda forte em 2021 de aproximadamente 18% e a metalurgia com queda elevada também no ano passado (-16%)”, assinala Gustavo Pessoti.
Serviços
Nos serviços as expectativas são de crescimento devem ser mais modestas. Pessoti explica que a perda do poder de compra dos brasileiros e baianos, as expetativas de piora no desemprego (despois de ligeira melhora em 2021), o aumento de casos de covid que diminuem a produtividade dos trabalhadores e a expectativa de alta continuada na inflação de 2022, devem dar a tônica da tendência de baixo desempenho do setor de serviços.
“No caso da Bahia um agravante a mais é o terceiro ano consecutivo de cancelamento do carnaval que diminuem as visitas de turistas em todo o estado, sobretudo em Salvador durante o primeiro trimestre do ano. A alta da taxa Selix, que deverá chegar a 12,5% segundo as expectativas do mercado, contribuí adicionalmente para um ambiente mais recessivo para a política de crédito do país, o que deve reverberar em toda a atividade comercial do estado. Só a título de lembrança, a atividade comercial baiana apresentou uma expansão de apenas 0,6% em 2021 segundo os dados da PMC/IBGE”, afirma.
Adicionalmente, o boletim semanal de conjuntura da SEI, na sua segunda edição de fevereiro, indicou que a expansão na atividade de serviços da Bahia foi 9,8% superior à registrada em 2020. A queda da produtividade do trabalho e o endurecimento das medidas restritivas estabelecidas pelo governo do estado, sobretudo, neste primeiro trimestre de 2022 devem contribuir para uma perda de fôlego do setor de serviços em 2022. Além disso, o índice de reajuste salarial muito abaixo da inflação para a maior parte dos brasileiros, deve contribuir decisivamente para cortes de gastos que afetam principalmente os serviços prestados às famílias e as atividades de entretenimento em geral.
“Embora seja bastante difícil precisar a estimativa do setor de serviços, em função de todas as incertezas dadas pelos cenários descritos acima, é provável que ainda assim seja positiva, mas, bastante abaixo do patamar registrado em 2021”, conclui o presidente do Conselho Regional de Economia.