[dropcap]N[/dropcap]o comando do maior exportador de serviços do Brasil, a General Electric (GE), o engenheiro Gilberto Peralta explica que exportar é fundamental para a indústria brasileira, principalmente nesse momento de crise. No entanto, o que tem se observado, é uma redução constante das vendas brasileiras, principalmente de manufaturas. Nos últimos cinco anos, as exportações apresentaram sucessivas quedas, acumulando uma redução de 25% entre 2011 e 2015. E, no ano passado, registrou o pior cenário dos últimos dez anos, com retração de 21%. Para ajudar a resolver esse problema, Gilberto Peralta aceitou o convite da Confederação Nacional da Indústria (CNI) para presidir o Fórum da Competitividade das Exportações (FCE). Nessa entrevista para a Agência CNI de Notícias, Peralta fala do trabalho que será feito no Fórum, traça um diagnóstico dos obstáculos enfrentados pelos exportadores e apresenta soluções para o Brasil superar a crise.
Qual será o trabalho do Fórum da Competitividade das Exportações?
Vamos tentar descobrir, ou melhor, especificar, porque nós já sabemos, que atividades específicas temos que buscar e que políticas públicas vamos propor para ampliarmos as exportações. O que fizermos na exportação terá um impacto no Brasil inteiro. A questão é: nós temos que exportar produtos do Brasil, mas temos diversos entraves como a carga tributária, falta de financiamento à exportação, infraestrutura no porto, falta de estradas adequadas … Vamos analisar e apresentar uma pauta clara e direta do que precisa ser feito.
A GE é a maior exportadora de serviços do Brasil a partir de uma unidade totalmente industrial. O que o sr. encontra no seu dia-a-dia que afeta diretamente a sua competitividade?
O que eu vou falar não é novidade. É o custo da mão-de-obra, infraestrutura, mais especificamente de transporte. Posso dizer que muitas vezes o nosso problema não é tanto o imposto, mas a burocracia criada para esse imposto ser recolhido. Acrescente-se aos problemas conhecidos, as dificuldades no ambiente macro e microeconômico que vivemos nesse momento.
Por onde começar?
São necessárias três ou quatro iniciativas primárias e três ou quatro iniciativas secundárias, que devem ser tocadas em paralelo. Burocracia, infraestrutura e crédito à exportação são o início. Mas tem um monte de outras coisas. Tem que ter educação, inovação, mão-de-obra. O trabalhador coloca no bolso R$ 100, mas ele custa para a empresa mais de R$ 250. Tem que reduzir isso. Se quiserem melhorar o país, a própria CNI tem diversos documentos que apontam essa saída. Recentemente, apresentou a Agenda para o país sair da Crise 2016-2018. Se fizerem tudo aquilo que está no documento, esquece o 2018, porque o Brasil sairá da crise já em 2017. É uma agenda extremamente complexa e tem quase tudo que é necessário para melhorar.
Os problemas brasileiros são conhecidos. O que falta para resolvê-los?
Os problemas são bem conhecidos. São simples, não são difíceis. O que conserta o Brasil hoje? A reforma da previdência social, do sistema tributário, mexer na parte trabalhista. Agora é possível fazer isso? Não sei. A solução é simples, mas a implementação envolve tantos interesses que num sistema democrático se torna muito complicado. É preciso investir pesado em construir ferrovias, melhorar os portos, as rodovias…e o Estado brasileiro não precisa estar presente. Nós temos que liberar os investimentos para o sistema financeiro internacional. Tem dinheiro sobrando no mundo, muito dinheiro, que não vem para o Brasil porque o nosso sistema é extremamente complexo. Não existe segurança jurídica para que a pessoa invista e tenha certeza de que vai ter retorno do investimento dela, quando o governo senta e fica tentando controlar o ganho do capital, o investidor não vem. Se ele for eficiente, ele tem que ganhar o que for ganhar. Se for ineficiente, não vai ganhar nada.
Qual o conselho que o senhor daria para os exportadores brasileiros?
Tem que estar estruturado para exportar. É o nosso caso. Nós temos uma operação de exportação no Brasil, é um mercado nicho que a gente descobriu aqui para fazer isso. Agora é uma operação de longo prazo. Nós não estamos exportando porque não conseguimos vender no mercado brasileiro. Nós estamos exportando porque descobrimos a vocação da exportação aqui no Brasil. Quem se meter na exportação, porque acha que é a tábua de salvação, porque não consegue vender aqui dentro, tem um problema. Ele vai fazer um voo de galinha. Porque ele não vai ter qualidade, competitividade, toda a estrutura que precisa para suportar a exportação. E quando começarem a aparecer os primeiros problemas, ele vai parar de exportar. O exportador brasileiro tem que se preparar. Montar uma estrutura em que tenha inovação incorporada ao produto e qualidade para dar suporte ao cliente que recebe o produto dele.