O termo “carreira”, além de ser utilizado com a conotação profissional, possui também o significado de caminho, trilha, estrada e percurso. Simboliza a trajetória profissional que uma pessoa percorre ao longo da vida, por meio de suas experiências, conhecimentos e habilidades desenvolvidas, úteis para sua atuação ocupacional e auto realização.
Sempre temos a opção de deixar a vida nos levar, reagindo as oportunidades profissionais que surgem no decorrer da jornada, ou de assumir uma atitude protagonista e planejar a carreira de acordo com nossos anseios, sonhos e talentos.
A grande maioria dos brasileiros por imediatismo, automatismo, falta de consciência ou acomodação, quando se fala em carreira, tende a assumir uma postura passiva e se deixar ser conduzido pelos acontecimentos e demandas externas. Na minha visão e atuação como coach de vida e carreira, essa atitude é um grande equívoco e fonte de muitas futuras insatisfações. É claro, que é possível “dar certo” na vida e se realizar profissionalmente sem planejar a trajetória profissional, mas as chances de isto ocorrer são muito maiores quando o indivíduo se apropria do seu papel de dono e assume a direção da própria carreira.
Estar no comando assusta muita gente porque isso inclui assumir também a responsabilidade pelas escolhas, consequências e possíveis frustrações no caminho, que aliás, impreterivelmente em algum momento vão acontecer. Costuma ser mais fácil atribuir ao destino, ao mercado ou ao acaso, os infortúnios e insucessos ocorridos durante a trajetória.
Tomar para si a condução da própria carreira implica em planejar e estabelecer diretrizes baseadas em quem é você e onde está no presente e em quem você almeja se tornar e estar no futuro, que pode ser daqui a dois, cinco ou dez anos. Sabemos que tudo pode mudar em pouquíssimo tempo, inclusive os próprios anseios, e com isso, muda o planejamento também, que deve ser flexível, orgânico e aderente a realidade de cada pessoa. Apesar de todas as possíveis transformações suscetíveis de acontecer em um mundo frágil, ansioso, não linear, incerto e complexo, existe uma base, um ponto de partida único, singular de cada indivíduo, que é constante e não variável conforme as intempéries da vida. Esse ponto ímpar funciona como um alicerce, um eixo de sustentação da carreira e ao mesmo tempo, como um guia para as decisões pessoais e profissionais. Estou falando do propósito. Quando o indivíduo o acessa dentro de si, passa a ter uma clareza que traz segurança e dá um norte em relação as escolhas e passos a serem dados. Quando conscientemente nos guiamos pelo nosso propósito, podemos passar por várias mudanças inclusive de tipos de carreira – burocrática, acadêmica, empreendedora, em Y, W ou T – mas em todas elas há algo que é comum e que permanece. Em outras palavras, os caminhos, a maneira de caminhar e as atividades ocupacionais podem mudar de acordo com as oportunidades e fases da vida, mas em todas essas diferentes ações há um sentido único que acompanha essas transformações.
Certa vez, uma aluna do MBA em que eu lecionava a disciplina Planejamento de Vida e Carreira, sentiu-se inquieta com as provocações que eu fazia na aula e afirmou que ela desconhecia seu propósito e estava “perdida”, pois já havia feito graduações e cursos técnicos distintos e tinha atuado em diversas áreas – nutrição, enfermagem, fisioterapia, atendimento… – mas quando a questionei sobre suas escolhas, foi possível perceber que havia algo em comum em todas elas – apoiar e cuidar do outro na área de saúde física. Apesar dela não ter na época, clareza do seu propósito, ela estava sendo guiada intuitivamente por ele, mas a falta de consciência, a fazia se sentir insegura em momentos de decisão e a deixava mais suscetível em tomar vários caminhos ao invés de investir em algo que fosse mais relevante para ela.
Com a clareza de propósito o indivíduo se sente mais seguro para optar inclusive pela não carreira ou anticarreira, como nomeou o headhunter Joseph Teperman. Segundo ele, anticarreira é um caminho amplo a ser desenhado por cada um de nós, com mais possibilidades, mais experiências e oportunidades, e que permite crescer à medida que o mundo muda. Nesse conceito, não se fala mais em plano de carreira e sim, em plano de vida. Plano esse, que não está atrelado a uma organização ou a um negócio, não segue a lógica linear definida em degraus, promoções e benefícios; não se prende a tempo de casa, nem a meritocracia. Esse plano é baseado no que é mais importante para o indivíduo em cada momento da vida e está relacionado com a busca de conhecimentos, repertório e experiências que são relevantes e que estão conectadas com seu propósito.
Ter um plano de voo faz a diferença! Mesmo que ele seja descolado, moderno e flexível. E lamento estar sendo repetitiva, mas sem autoconhecimento e clareza de propósito nesse mundo distópico, vai ficar difícil você decolar e ser feliz!