No mesmo mês em que o cacau voltou a preencher as telas dos brasileiros e aparecer como um dos personagens principais da novela Renascer, exibida pela Rede Globo, o fruto deu a um produtor baiano a medalha de ouro em um concurso internacional de qualidade de amêndoa. Luciano Ramos, produtor de cacau de Ilhéus, sul da Bahia, dividiu com uma uma cacauicultora de Medicilândia, no Pará, o prêmio mais alto do concurso Cacao of Excellence Awards (CoEx), premiação que elege as melhores amêndoas de cacau do mundo
“É uma luta de 40 anos. Não é uma premiação de um concurso que levou seis, oito meses, é uma vida. Depois de erros e acertos, eu faria tudo novamente. Cacau é acima de tudo uma paixão. Acho que por isso conseguimos êxito”, disse Luciano logo após receber o prêmio.
O concurso internacional foi a terceira competição em que a fazenda baiana se inscreveu. Depois de não conseguir sucesso na primeira tentativa, a produção de Luciano ficou em segundo lugar em uma competição nacional, o que levou à classificação para a disputa mundial.
A premiação, que é dividida por regiões, teve o resultado da edição 2023 divulgado em uma cerimônia realizada em Amsterdã no último dia 8. A produção baiana da Fazenda São Sebastião venceu na categoria América do Sul.
O Cacao of Excellence é considerado a premiação de maior prestígio do mundo ao reconhecer produtores de cacau excepcionais pela qualidade superior e diversidade de sabores de todos os cantos do planeta. Para a edição de 2023, o CoEx recebeu 222 amostras de amêndoas de cacau de 52 origens diferentes provenientes de quatro grandes regiões: África e Oceano Índico; Ásia e Pacífico; América Central e Caribe; e América do Sul.
“O Brasil disputa em uma região muito competitiva, pois a América do Sul reúne os principais players de cacau fino do mundo. Concorremos com Equador, Peru, Colômbia e Venezuela, origens mundialmente consolidadas de cacau de qualidade”, destaca Adriana Reis, gerente de qualidade do Centro de Inovação do Cacau (CIC), sediado em Ilhéus.
A fazenda
Com 24 hectares de área total a fazenda de Luciano produz, através da agricultura familiar, cerca de 600 arrobas por ano. Dessas, 400 são de uma versão de alta qualidade do fruto chamada BN34, uma variedade genética nobre que tem um perfil frutado e floral. “É o coroamento de uma vida, eu vivi a vida toda em torno da cultura do cacau. A gente fica alegre porque sabe que a concorrência é muito alta”, diz ele que já se prepara para a próxima edição da premiação, em 2025.
Apesar da alegria, Luciano não deixa de pontuar dificuldades. Foi preciso contar com apoio de empresas privadas para conseguir viajar para o prêmio. Apesar de ter tentado apoio com a prefeitura de Ilhéus e com o governo da Bahia, o agricultor disse não ter recebido respostas. “A emoção vem, vem um filme com tudo que nós passamos, os acertos, os erros, e eu teria muito orgulho de levar uma bandeira da Bahia, mas que Bahia é essa que não apoia a gente? É realmente um misto de sentimentos. Eu me senti órfão”, finaliza.
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