Por quantos profissionais de saúde negros você já foi atendido? Foi essa pergunta que fez nascer a AfroSaúde, startup baiana criada há quatro anos com o objetivo de conectar pacientes e profissionais de saúde negros. Criada por um casal, a empresa nasceu de suas experiências pessoais e já coleciona prêmios e investimentos de gigantes como Google e Nubank.
O início da empresa partiu das vivências do casal Arthur Lima, que é cirurgião dentista, e Igor Léo Rocha, jornalista. “Uma colega de profissão me pediu a indicação de um outro profissional, que fosse especialista em tratamento de canal, mas que fosse negro. Questionei o porque do recorte racial e ela me relatou que a sua paciente foi discriminada em uma consulta com um especialista e que a partir daquele momento só queria ser atendida por profissionais negros. Lembro que na época eu fui consultar as minhas redes de contatos e não encontrei nenhum profissional. Fiquei com aquele desconforto na mente”, lembra Arthur.
O incômodo o fez dividir a experiência com Igor Léo, que viria a se tornar, depois daquela conversa, o sócio fundador da AfroSaúde. “Ele imediatamente se recordou de que nunca tinha sido atendido por nenhum dentista ou outro profissional de saúde negro. Se lembrou do seu próprio caso de foliculite capilar (um irritação dermatológica bem frequente em homens negros por causa do corte de cabelo com máquinas e/ou giletes) onde ele não conseguiu nenhum tratamento adequado para a sua condição. Se tivesse encontrado alguém especialista em pele negra, talvez não tivesse passado por diversos esquemas terapêuticos que fracassaram”, conta o fundador.
Juntos, os dois resolveram criar a AfroSaúde, empresa que se define como uma startup que desenvolve soluções tecnológicas de saúde, com foco em diversidade e atenção especial à população negra. “Decidimos reunir toda essa problemática relacionada a dificuldade de encontrar profissionais negros em diferentes áreas da saúde e os casos de discriminação racial em cuidados em saúde para criar um negócio, mas que fizesse sentido e desse retorno para a sociedade”, explica Arthur.
Produtos
O primeiro produto foi justamente a plataforma de conexão entre os profissionais e os pacientes. Depois de um desafio inicial com a busca por investimentos a empresa já coleciona conquistas importantes. “Como negócio, conseguimos ter um aumento de receita significativo a cada ano, o que possibilitou também contratar mais pessoas, criar outros produtos e expandir nossa atuação”, diz Igor Léo.
Entre as principais conquistas desses quatro anos estão: o nome de Arthur Lima na lista da Forbes 30under30, e o reconhecimento dos fundadores como parte dos afrodescendentes mais influentes do mundo, honraria chancelada pela ONU.
Entre os investidores estão o Google, por meio do Black Founders Fund, do Google for Startups e o programa Semente Preta, em que o Nubank investiu em startups fundadas por pessoas negras. “Temos tido esse reconhecimento como uma startup que está conseguindo gerar um impacto positivo na sociedade”, comemora Igor.
Agora, a empresa está em busca de novos investimentos, para lançar dois novos produtos neste ano. “Estamos lançando, ainda neste primeiro semestre, o Clube Sankofa, um clube de benefícios em saúde, em que os assinantes poderão ter acesso a consultas, exames, medicamentos e outros serviços com desconto; e estamos também lançando a SUSi, um chatbot que oferece informações sobre saúde pública e privada aos usuários, podendo também organizar filas de atendimento nas unidades de saúde”, detalha Rocha.
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