Após dois anos consecutivos de queda, ocasionados por forte estiagem que atinge a região, o Nordeste conseguiu retomar patamares estáveis de exportação de mel, alcançando, em 2016, o volume de 5,3 mil toneladas, o que gerou montante de US$ 19,5 milhões em divisas. A informação foi divulgada na mais recente edição dos Cadernos Setoriais do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene), órgão de estudos do Banco do Nordeste. O relatório está disponível em www.bnb.gov.br/publicacoes-editadas-pelo-etene.
De acordo com o estudo, o consolidado das exportações em 2016 confirma o ritmo de retomada do setor verificado desde 2014, quando o volume comercializado com o mercado estrangeiro atingiu 5,4 mil toneladas. Esse cenário manteve-se ligeiramente inferior em 2015, ano em que foram exportadas 5 mil toneladas de mel. O triênio de retomada não alcançou, porém, os resultados de 2011, quando o Nordeste chegou a exportar 9,7 mil toneladas, antes das quedas consideráveis em 2012 (4,6 mil toneladas) e 2013 (2,9 mil toneladas).
Segunda a autora do estudo, Maria de Fátima Vidal, engenheira agrônoma e técnica do Etene, a escassez de chuvas ocorrida na região, a partir de 2012, ocasionou perda de enxames (abandono de colmeias ou morte de abelhas) não somente pela falta de alimentação, mas também por conta das altas temperaturas sem o devido sombreamento. “Essa drástica queda das exportações nordestinas abriu uma janela de oportunidade aproveitada pela Região Sul que, a partir de então, tornou-se a maior produtora e exportadora de mel no País”, asseverou.
Ainda assim, o estudo pondera que a Região Sul tem apresentado produção decrescente em 2014 e 2015, especialmente, no estado do Rio Grande do Sul, afetado por grande desaparecimento de abelhas, ocasionado por excesso de chuvas e uso indiscriminado de agrotóxicos. Em contraposição, o semiárido nordestino é considerada a área de maior potencial de produção de mel orgânico no País, já que a principal fonte de néctar e pólen é a vegetação nativa. Vale salientar que o mel orgânico é um produto extremamente valorizado no mercado internacional.
“Podemos estar diante de uma nova oportunidade de crescimento das exportações do mel nordestino, uma vez que os Estados Unidos e a Europa tem elevado seus níveis de exigência em relação à qualidade do mel adquirido”, explicou.
Participação dos estados
Atualmente, a maior parte da produção de mel do Nordeste (78,4%) é exportada para os Estados Unidos. No comparativo nacional, a região deteve 21,9% do volume total exportado em 2016. Apesar da melhoria em relação aos anos mais críticos de seca (2012 e 2013), o valor é, mesmo assim, 45% inferior ao alcançado em 2011. A dificuldade de recuperação da produção dos estados do Ceará e Rio Grande do Norte, ainda submetidos à extrema falta de chuva, seria uma explicação para esse fato.
O mercado potiguar, em especial, foi seriamente afetado pela seca, uma vez que o Rio Grande do Norte vinha se consolidando enquanto importante exportador de mel e, em 2016, não conseguiu retomar esse mercado. Por outro lado, o Ceará, que exportava 4,1 mil toneladas em 2011, viu esse volume diminuir para 1,2 mil toneladas ano passado. Por sua vez, o Piauí, também seriamente atingido pela estiagem, conseguiu recuperar os patamares de exportação de 2011.
No âmbito da produção, a quebra da safra ajudou a alavancar a Bahia e o Piauí como os grandes produtores da região. Esse novo cenário também abriu espaço para o Maranhão, que chegou a produzir, em 2015, quase a mesma quantidade de mel que o Ceará. Esse estado, antes considerado o segundo maior produtor de mel da Região, participou com apenas 10% da fatia do mercado em 2015.