Na zona rural do Norte da Bahia, semiárido do estado, cerca de 600 pessoas adotaram uma atividade que transformou suas vidas: a piscicultura em tanques-rede, investimento de cerca de R$ 1,25 milhão da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) na microrregião do lago artificial da barragem de Sobradinho que promoveu a inclusão produtiva de famílias dos municípios de Sobradinho, Casa Nova, Sento Sé e Curaçá.
“Tenho tirado quatro toneladas mensais de tilápia dos meus tanques-rede, mas algumas famílias até conseguem tirar mais”, conta a produtora Edivânia Limoeiro, que há dez anos deixou um emprego de carteira assinada onde ganhava um salário mínimo e, com o apoio da Codevasf, decidiu se dedicar exclusivamente à piscicultura.
“A gente compra o peixe juvenil, com cerca de 30 gramas, e cria em cativeiro até chegar a 1 kg ou pouco mais”, conta a produtora. “Os compradores vêm até aqui adquirir o pescado e levam para beneficiamento em Sobradinho. Meu marido também compra, e depois vende numa banca que ele tem na feira – não é porque é marido que vai levar o peixe de graça, né?”, brinca Edvânia que, com outras quatro famílias, criou a associação dos pequenos criadores de peixes de Sobradinho (Acripeixess).
O filho de 21 anos é parceiro na produção de tilápia; a filha de 23 não quis seguir na atividade mas contou com ajuda dos pais para trabalhar no que gosta: foi a renda da família na piscicultura que permitiu a instalação de um salão de cabeleireiro hoje comandado pela moça.
Hoje, a região tem 11 associações e 14 produtores familiares individuais exercendo a atividade. Além da instalação dos tanques-rede, a Codevasf fomentou a piscicultura promovendo capacitação dos pescadores artesanais e dos pequenos produtores dentro de padrões ambientalmente sustentáveis, de modo a preservar o ecossistema do Vale do São Francisco.
“Além disso, a atividade propicia segurança alimentar com nutrição adequada ao aumentar a oferta de proteína animal de alta qualidade, e reduz o esforço de pesca artesanal, o que favorece a recuperação e a preservação das espécies”, explica o chefe da Unidade de Pesca e Aquicultura da Codevasf, Leonardo Sampaio. Os recursos investidos na ação são oriundos do Orçamento Geral da União – destinados à Codevasf por emendas parlamentares –, de destaque orçamentário do Ministério da Integração Nacional (MI) e da Lei Orçamentária Anual.
Beneficiamento do pescado
Enquanto algumas famílias produzem o pescado, outras se dedicam a beneficiar a produção e comercializá-la com valor agregado. Uma das entidades que se destaca na produção de subprodutos de peixes no entorno do lago de Sobradinho é o Terminal Pesqueiro, onde o gerente administrativo da Unidade de Beneficiamento, Raimundo Nonato de Oliveira, calcula que a demanda varie entre 80 a 120 toneladas de peixes por mês.
Na unidade, implantada em parceria com o Governo do Estado da Bahia, trabalham 20 mulheres que se revezam em turnos no processamento do pescado. Ali é feito o tratamento primário – que é a retirada das vísceras destinadas ao matadouro local, onde há uma unidade experimental na qual essas vísceras são transformadas em óleo, vendido em seguida para uma estatal de petróleo.
Estima-se que sejam comercializadas cerca de 15 a 200 toneladas de peixe mensalmente na região e até em estados vizinhos – sendo que, desse total, cerca de 120 toneladas são processadas na Unidade de Beneficiamento de Sobradinho, e o restante é vendido in natura pelos próprios pescadores no mercado local.
Recuperação ambiental
Além de apoiar a atividade da piscicultura familiar, a 6ª Superintendência Regional da Codevasf, sediada em Juazeiro (BA), também promove parcerias locais para a realização de peixamentos no Lago de Sobradinho, com o objetivo de repovoar e preservar a ictiofauna do rio São Francisco.
Os alevinos, geralmente com tamanhos que variam entre sete e dez centímetros de comprimento, são oriundos do Centro Integrado de Recursos Pesqueiros e Aquicultura de Bebedouro, operado pela Codevasf na vizinha cidade de Petrolina (PE).
São colocadas no lago espécies como curimatã, piau, pacamã e, em alguns casos, surubim – esta última uma espécie em risco de extinção que está sendo reproduzida em cativeiro em centros integrados mantidos pela Codevasf nos estados de Alagoas, Minas Gerais, Sergipe, Pernambuco e extremo sul da Bahia.