BA de Valor
  • Atualidade
  • Economia
  • Negócios
  • Sua Chance
  • Inovação
  • Notas de Valor
Sem resultado
Ver todos os resultados
  • Colunistas
  • Notas de Bolso
  • Business Lounge
  • Quem Somos
  • Anuncie
  • Contato
  • Política de Privacidade
BA de Valor
  • Atualidade
  • Economia
  • Negócios
  • Sua Chance
  • Inovação
  • Notas de Valor
Sem resultado
Ver todos os resultados
BA de Valor
PUBLICIDADE

Por que você não tranca a porta? Eu te convido a se abrir para a terapia!

REDAÇÃO por REDAÇÃO
29/08/2024
em Colunistas
Tempo de Leitura: 7 minutos
A A
9
Share on FacebookShare on Twitter

Fernanda Carvalho*

Fernanda CarvalhoEra um final de semana ensolarado. Com um brilho especial. Ia passear de carro com minha mãe e uma amiga. Nesta época, não tínhamos carro. A amiga de minha mãe chegou em nossa casa no Bonfim, na Cidade Baixa, vestida de elegância. Balançando as chaves com ar de independência. Embarquei no banco de trás e me encantei mesmo foi com o mar que desfilava diante dos meus olhos enquanto subíamos a Avenida Contorno. Uma imensidão de água salgada transbordando no azul celeste do céu, sem uma nuvem sequer.

Eu desfrutava da paisagem quando fui fisgada pela conversa no banco da frente. A amiga de minha mãe se queixava do marido. Provedor, bom pai, homem honesto, trabalhador… mas com uma dose exagerada de ciúme que desandava todas as qualidades anteriores. Era capaz de cobrir o corpo dela com jornal na praia se avistasse um vendedor ambulante se aproximando do casal. O ciúme sempre fora sufocante, desde os tempos de namoro. Ela achava que ia melhorar…

Com anos de casada, ainda ouvia desaforos de sobremesa quando ousava sair para um chá da tarde com amigas. Hoje, de certo, seria recebida com cobranças pesadas quando voltasse para casa. Evitava tomar banho logo para escapar da acusação de que estava com amantes. Coitada, eu me solidarizava no alto dos meus sete anos. Abstraí das lamúrias pelos olhos, no êxtase de adentrar de novo no sentimento fundo de água salgada. Nós e a narrativa de sofrimento fomos abraçadas pela imagem do Cristo, de braços abertos. Aquele é o Farol da Barra, anunciou minha mãe.

O desabafo nos acompanhava. A relação era abusiva, e claro que eu ainda não sabia nada sobre isso.

– Carminha, a coisa que mais detesto é que alguém entre no banheiro quando estou usando. E ele faz isso sempre.

Tadinha. Por que ele faz isso?, me perguntava indignada e em silêncio, sabendo que levaria uma bronca daquelas se me intrometesse na conversa de adultos. Até que veio a melhor parte do diálogo.

– Eu levei esse assunto para a terapia. E a psicóloga perguntou: E por que você não tranca a porta?

Aquela pergunta silenciou todas as minhas inquietações naquele passeio, e em muitos outros momentos da vida. Foi ali que ouvi falar pela primeira vez de terapia. Na teoria. Porque, na prática, eu só fui fazer terapia depois de sobreviver a uma perda que atropelou minha alegria de viver. Eu tinha 21 anos e os melhores sonhos quando perdi o primeiro amor em um acidente.

Uma amiga, que sentiu todo meu pesar, sentenciou ainda no cemitério para minha mãe:

– Nanda vai precisar de terapia.

A primeira tentativa para sair do estado de choque foi com uma psiquiatra. Ela fazia perguntas e eu tentava respondercom gestos entrecortados por soluços. Sufocada pela dor, sem palavras. O choro convulsivo me impedia de dormir. Depois de medicada, eu não queria era mais acordar. A vida desandou. Perdeu o colorido e deu lugar a tantos traumas. Não passava pela Paralela, avenida onde ocorreu o acidente. Não comia mais cozido, uma de nossas comidas prediletas. Ficava indignada por ver todo mundo seguindo a vida. Eu me recusava a seguir. E era arrastada a contragosto pelos dias que insistiam em passar. Não conseguia me imaginar namorando, casando e sendo feliz. Mas esse sempre foi meu sonho!

Em meio a tanto sofrimento, a terapia era um lugar de refúgio. Aos poucos, fui aprendendo a nomear a dor, passar por ela, sem me permitir estacionar 

Foram anos de terapia e o tempo mais dourado da juventude me abstendo de um simples beijo na boca. Quando colegas de faculdade relembram bons momentos, eu não me vejo nas fotos. Estava lutando com toda intensidade contra o luto. Meus pais não sabiam lidar com minha dor. Hoje entendo a impotência que eles sentiam. Em meio a tanto sofrimento, a terapia era um lugar de refúgio. Aos poucos, fui aprendendo a nomear a dor, passar por ela, sem me permitir estacionar. Anos depois, o terapeuta se tornou marido e pai dos meus filhos, mas esse é um capítulo a parte que pode se tornar livro se um dia eu desejar escrever.

Corta para o retorno à terapia às vesperas do fim de um casamento de uma década aparentemente feliz. Foi uma crise profunda de depressão que me libertou. Meu caçula tinha apenas dois anos quando me vi sem forças para levantar da cama. Precisava dar conta de duas crianças, de duas empresas e não tinha energia nem para tomar banho. Cheguei ao ponto de recusar beber até água. Foi por insistência de minha mãe e irmã que aceitei procurar ajuda. Fazer terapia. O marido terapeuta bradou ao saber da minha decisão:

– Se você for fazer terapia, a gente vai acabar separando.

– Não entendi. Não é você quem diz que terapia não é para separar ninguém, mesmo quando atende casais em crise? Eu só quero ficar bem!,respondi.

Sustentei minha decisão e fui para a terapia.

– O que te dá prazer?, lembro da pergunta da psicóloga em uma das primeiras sessões

– Trabalhar.

– Ter tempo com minha família no final de semana.

– Ir ao centro.

A psicóloga continuou me futucando:

– O que te nutre tirando trabalho, família e religião?

Silenciei.

Todo mundo precisa de terapia. Porque todo mundo merece ficar bem e pode fazer do mundo um lugar melhor. Por isso, eu te convido a abrir essa porta!

Silenciei de novo tempos depois quando dirigia me arrastando para o trabalho na tentativa de escapar de mais uma crise de depressão. Tinha sido uma guerra sair da cama, tomar banho, encontrar uma roupa, enfrentar mais um dia de altas demandas com a energia no lodo. O congestionamento, associado às medicações, me fazia cochilar e bater, a uma velocidade mínima, no carro da frente. Liguei para o então marido quase pedindo socorro. Perguntei se ele me amava e ouvi um sonoro NÃO. A gente conversa quando chegar em casa, emendou.A resposta foi suficiente para eu começar a acordar.

Na cabeça de uma pessoa em estado depressivo que sempre se doou por completo para a família, aquele NÃO parecia o fim do mundo. E vinha de uma pessoa que sabia o deserto que eu estava enfrentando, sem um respingo de zelo. Por desespero, pensei em acelerar o carro até bater no carro da frente. Desta vez, de propósito. Consegui controlar o ímpeto e chegar no meu porto seguro. Desabei na casa de minha mãe. O desamor que eu ainda não enxergava já era percebido por todos. Agendei uma sessão de terapia para tarde e fui abraçada por minha psicóloga. Mergulhei fundo no seu olhar de mar.

– Você vai atravessar esse portal, ela me prometeu confiante ao fim da sessão.

Eu não conseguia enxergar nem portal, nem nada à frente. Só dor. Desamor. Desalento. Diferente da amiga de minha mãe, que não sabia trancar a porta, eu não estava sabendo abrir. Para sair de um relacionamento que só exigia de mim. Que não foi capaz de suportar meu momento de fragilidade, estar ao meu lado na depressão.

A leitura do livro Quem me roubou de mim, do padre Fábio de Melo, foi libertadora neste tempo. Para sustentar um casamento, eu tinha me ausentado de mim mesma, estava vivendo uma violência sutil que aflige muitas mulheres – o sequestro da nossa subjetividade. Vivia em cativeiro. E quando o sequestrador abriu a porta, me convidando a sair daquela relação, eu me sentia fragilizada, incapaz dedar um passo sequer sozinha, quem diriacuidar dos meus filhos evoltar a ser feliz.

Desde então, a terapia tem sido fundamental no meu auto resgate. Foi lá nas sessões que fui aprendendo o valor do NÃO, dos que recebo e dos que preciso dar, de preferência com amorosidade. Foi lá que fui despertando para o SIM que quero da vida, para os mais simples desejos. O primeiro deles foi reaprender a andar de bicicleta. Em um dos primeiros passeios no Parque de Pituaçu, avistei onde queria morar com meus filhos depois da separação. Eu moro no meu sonho hoje. E no meu simples apartamento cabe um novo amor. E uma relação banhada por respeito, cumplicidade e desafios naturais de quem decide compartilhar uma vida a dois.

Terapia para mim é processo de cura, de auto descoberta. Diante de uma gama de abordagens e ferramentas, é a sensibilidade do profissional que vai te conduzir a visitar vazios, dores, fraquezas e também redescobrir forças e potencialidades. Na terapia eu já me escutei de uma forma única, capturei o óbvio que estava no ponto cego da minha existência. Para quem não sabia contar gotas, aprendi a nadar. A ser mar. E já sai de lá sem chão, quase afogada, sem fôlego para voltar também. Faz parte… Às vezes, o valor da terapia é desfazer as nossas certezas.

Fico admirada com pessoas que, em poucas sessões, acham que resolveram a vida todinha. Minha necessidade é continua. Toda semana, quando a minha menina entra naquela casa verde esperança, atravessa aquele caminho com cheiro de jasmim e abrea porta, sei quepreciso estar pronta para desconstruir, olhar a minha vida de outro ângulo, de uma nova perspectiva, nem sempre confortável. Terapia é para quem tem coragem para encarar suas sombras, e também aumentaro brilho sem transbordar no ego. É para quem busca sentido para o que de bom e dolorido acontece na vida, para quem busca ressignificar o caminho tendo como meta o melhor para si e para quem está por perto.

Neste mundo adoecido em que ainda tem gente que acha que terapia é para loucos, eu faço terapia por necessidade de sobrevivência. Como bem dizia Chico Xavier, “Aos outros dou o direito de ser como são; a mim dou o dever de ser cada dia melhor”.

Todo mundo precisa de terapia. Porque todo mundo merece ficar bem e pode fazer do mundo um lugar melhor. Por isso, eu te convido a abrir essa porta!


*Fernanda Carvalho é jornalista, escritora, autora do Livro A Luz da Maternidade – Relatos de Parto sem Dor conduzidos por Gerson de Barros Mascarenhas.

E-mail: livroaluzdamaternidade@gmail.com

Instagram: @fernandacarvalho_cs

Tags: Fernanda Carvalho
Artigo Anterior

Taxa média de juro caiu para 51,2% em julho para as pessoas físicas

Próximo Artigo

Inspira traça planos para a Escola Tempo de Criança

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Miguel Gomes
Colunistas

Tecnologia, sustentabilidade e humanização: o que está no centro da saúde digital?

Inteligência Artificial: a nova fronteira da fidelização de pacientes na saúde
Colunistas

Inteligência Artificial: a nova fronteira da fidelização de pacientes na saúde

Fed busca acalmar o mercado em meio a uma tempestade de mudanças
Colunistas

Fed busca acalmar o mercado em meio a uma tempestade de mudanças

Próximo Artigo
Equipes do grupo Inspira e escola Tempo de Criança

Inspira traça planos para a Escola Tempo de Criança

COMENTÁRIOS 9

  1. Carla Maria de Borba Ferreira says:
    9 meses atrás

    Que texto delicioso de ler. Terapia é o mergulho mais gostoso, em si mesma. Parabéns aos profissionais que se dedicam a cuidar, parabéns psicologos e psicologas.

    Responder
    • Fernanda Carvalho says:
      9 meses atrás

      Verdade, Carla. Obrigada pela leitura!

      Responder
      • Fabiana Valéria says:
        9 meses atrás

        Que leitura gostosa, suave e potente ao mesmo tempo, profunda e marcante.
        Quero mais!

        Responder
  2. Joana D'Arck says:
    9 meses atrás

    Ótima homenagem. Abri a porta para terapia pela primeira vez ainda aos 23 anos. Fiquei pouco tempo, por falta de grana para pagar as sessões, mas resolvi o problema que me levou a procurar ajuda. Voltei ao divã há 13 anos e estou até hoje de portas abertas para o auto conhecimento. Não tem preço! Parabéns aos psicólogos!

    Responder
    • Fernanda Carvalho says:
      9 meses atrás

      Um salve para esses profissionais, Joana. Obrigada pela leitura e por ter deixado um comentário.

      Responder
  3. Juarez da Costa Pituba Júnior says:
    9 meses atrás

    Um estímulo para fazer terapia. Vou começar o mais breve possível. Muito obrigado Fernanda!

    Responder
    • Fernanda Carvalho says:
      9 meses atrás

      Juarez, feliz que o texto tenha dado esse impulso. A terapia pode ser um incômodo libertador.

      Responder
  4. Cláudia says:
    9 meses atrás

    Que texto significativo, pois mesmo sabendo que precisamos fechar a porta para o que nos desconstrói, muitas vezes sabemos da dependência dessa porta, talvez por insegurança, por fragilidade, por comodismo, enfim, parabéns para quem conseguiu fechar a porta. Sigo na terapia, na esperança de me resignificar a cada dia.

    Responder
  5. Selma França says:
    8 meses atrás

    Uma leitura maravilhosa, um texto poético de uma grande jornalista !! Passeou pela realidade em que vivi me levando ao passado com suas palavras carregadas de emoção e sensibilidade.

    Responder

Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

  • EM ALTA
  • COMENTÁRIOS
  • ÚLTIMAS
tonico e tinoco

Grandes lendas do sertanejo raiz: Conheça duplas que marcaram época

Palestra no Detran-BA discute os riscos da combinação entre álcool e direção durante o Maio Amarelo

Palestra no Detran-BA discute os riscos da combinação entre álcool e direção durante o Maio Amarelo

Bahia apresenta primeiro micro-ônibus 100% GNV e Biometano

Bahia apresenta primeiro micro-ônibus 100% GNV e Biometano

Moda-Brasil-24x23

Setor de moda movimentará mais de R$240 bi em 2024

Alba

Alba aprova distribuição gratuita de medicamentos à base de canabidiol

Maio Amarelo mobiliza Bahia por um trânsito seguro e consciente

Maio Amarelo mobiliza Bahia por um trânsito seguro e consciente

Nelson e Anne Wilians representarão o Brasil no “Brasil Global 200 Anos” em Cannes

Nelson e Anne Wilians representarão o Brasil no “Brasil Global 200 Anos” em Cannes

Mariangela Hungria

Cientista da Embrapa é laureada com Prêmio Mundial da Alimentação, reconhecido como “Nobel” da agricultura

Card de divulgação do podcast

Podcast ENTRE VIAS estreia 2º episódio com tema: “União Estável Virtual e Traição Virtual”

Encontro de cafeicultores

Rio de Contas: Comunidade do Mato Grosso recebe 1º Encontro de Cafeicultores neste domingo (18)

Rodovia BA-601

Nova ponte será construída sobre o Riacho da Onça, em Coribe

Isabela Suarez

Isabela Suarez é confirmada como candidata à presidência da Associação Comercial da Bahia

Nelson e Anne Wilians representarão o Brasil no “Brasil Global 200 Anos” em Cannes

Nelson e Anne Wilians representarão o Brasil no “Brasil Global 200 Anos” em Cannes

Mariangela Hungria

Cientista da Embrapa é laureada com Prêmio Mundial da Alimentação, reconhecido como “Nobel” da agricultura

Card de divulgação do podcast

Podcast ENTRE VIAS estreia 2º episódio com tema: “União Estável Virtual e Traição Virtual”

Encontro de cafeicultores

Rio de Contas: Comunidade do Mato Grosso recebe 1º Encontro de Cafeicultores neste domingo (18)

Rodovia BA-601

Nova ponte será construída sobre o Riacho da Onça, em Coribe

Isabela Suarez

Isabela Suarez é confirmada como candidata à presidência da Associação Comercial da Bahia

PUBLICIDADE

COLUNISTAS

Miguel Gomes

Tecnologia, sustentabilidade e humanização: o que está no centro da saúde digital?

Inteligência Artificial: a nova fronteira da fidelização de pacientes na saúde

Inteligência Artificial: a nova fronteira da fidelização de pacientes na saúde

Fed busca acalmar o mercado em meio a uma tempestade de mudanças

Fed busca acalmar o mercado em meio a uma tempestade de mudanças

Fernanda Carvalho

A vida presta. A arte também

Ricardo Vicente Bastos

A importância da conformidade com a LGPD: questões práticas e direitos dos titulares de dados

NOTAS DE BOLSO

Refém da pobreza

Atakarejo

Atakarejo retoma obras de nova loja em Itabuna

varejo

13º salário: um alívio para famílias e esperança para o varejo baiano

BA de Valor

© 2024 BA de Valor. Todos os direitos reservados.

Institucional

  • Quem Somos
  • Anuncie
  • Contato
  • Política de Privacidade
  • Política de Cookies

Siga-Nos

Sem resultado
Ver todos os resultados
  • Atualidade
  • Economia
  • Negócios
  • Sua Chance
  • Inovação
  • Notas de Valor
  • Colunistas
  • Business Lounge
  • Quem Somos
  • Contato
  • Anuncie
  • Política de Privacidade
  • Política de Cookies

© 2024 BA de Valor. Todos os direitos reservados.