Guilherme Fonseca Lima*
Hoje se fala muito em ESG. Mas afinal, o que é isso? Será que está relacionado apenas com questões de sustentabilidade na esfera ambiental? As pequenas e médias empresas precisam investir em ações de ESG? Com certeza muitas dúvidas existem sobre este assunto, especialmente no âmbito dos pequenos negócios.
A expressão ESG é um acrônimo que se refere a critérios ambientais, sociais e de governança (do inglês Environmental, Social and Governance). Não se pode atribuir a uma única pessoa ou entidade os créditos pela criação do termo, pois, na verdade, o conceito evoluiu ao longo do tempo à medida que a conscientização e a cobrança sobre questões sociais e de governança foram aumentando juntamente com as ambientais. O ESG é um conjunto de critérios referentes às práticas que uma organização deve adotar nesses três aspectos.
Ele se tornou uma abordagem estratégica adotada por empreendimentos que buscam alinhar suas operações a padrões mais sustentáveis, éticos e responsáveis. Na prática, o ESG orienta empresas na tomada de decisões que beneficiem o meio ambiente, as pessoas e a sociedade como um todo, enquanto mantém uma gestão sólida e transparente.
O que a maioria das pessoas não sabe é que o ESG teve origem em exigências no âmbito do mercado financeiro, pois os players mais importantes do mundo na área de mercado de capitais mudaram a forma como as empresas passaram a lidar com essas questões ambientais, sociais e de governança corporativa no cenário recente.
No ano de 2020, a BlackRock, que é uma das maiores e mais influentes empresas de gestão de ativos do mundo, com sede em Nova York, Estados Unidos, divulgou uma carta assinada pelo seu CEO, Larry Fink, dirigida aos CEOs de empresas, externando grande preocupação com os investimentos das pessoas que confiam seu dinheiro à BlackRock que, por sua vez, investe em nome deles, buscando rentabilidade para seus clientes.
Os investidores estão mais conscientes e mais exigentes e passaram a questionar as condutas das empresas. Ninguém quer possuir ações de uma organização envolvida em escândalos de poluição, exploração de trabalho infantil ou de corrupção. Essas são situações que derrubam o valor das ações no mercado e podem arruinar uma empresa da noite para o dia, provocando perdas imensuráveis.
Por isso está ocorrendo uma reavaliação profunda do risco e dos valores dos ativos e, como os mercados de capitais projetam riscos futuros, as mudanças na alocação de capital acontecem mais rapidamente do que as mudanças no clima, por exemplo. O risco climático já se tornou um risco de investimento!
Assim, o mercado passou a exigir maior transparência das empresas acerca de suas práticas em relação à sustentabilidade, pois os investidores, as seguradoras e o público em geral precisam conhecer como as empresas lidam com as questões relacionadas com a sustentabilidade. Diretores e conselheiros de administração das companhias passaram a ser mais cobrados e a ter mais responsabilidade nesses aspectos. Os grandes fundos,
como a BlackRock, passaram a exigir a comprovação de maior transparência na gestão empresarial e adoção de práticas que valorizem o meio ambiente e a sociedade.
Este posicionamento causou grande agitação no mundo dos grandes negócios, já que os aportes de capital são vultosos e, por isso, as empresas passaram a se preocupar com a sustentabilidade de forma mais responsável, sob pena de não conseguir financiamentos para seus empreendimentos.
Está muito claro que o berço do ESG é o universo dos grandes negócios, das grandes empresas e das vultosas quantias de capital. Mas o que isso tem a ver com as empresas de pequeno porte?
Nos últimos anos, os meios de comunicação e as redes sociais estão repletos de conteúdo b explorando ESG, que vem se tornando uma expressão mais conhecida do público em geral, especialmente dos consumidores. As marcas tentam associar seus nomes a práticas que façam o consumidor sentir que está fazendo a sua parte ao comprar um produto que contribui para diminuição da fome, que valoriza o respeito à diversidade ou canaliza
recursos para o plantio de árvores em áreas desmatadas.
Nos últimos anos, uma forte tendência tem se consolidado: as grandes organizações estão estendendo suas exigências de sustentabilidade, boas práticas de governança e responsabilidade social para toda a sua cadeia de suprimentos. Isso significa que os pequenos negócios, que muitas vezes atuam como fornecedores dessas grandes corporações, estão sendo diretamente impactados.
As políticas de compliance das grandes empresas agora incluem requisitos rigorosos para garantir que seus parceiros comerciais também adotem práticas alinhadas ao ESG. É uma forma de garantir que toda a cadeia produtiva esteja em conformidade com os padrões exigidos por investidores, consumidores e regulamentações internacionais. Para os pequenos empreendedores, isso representa tanto um desafio quanto uma oportunidade:
aqueles que se adaptarem e implementarem práticas ESG estarão mais aptos a manter contratos com grandes empresas e até a atrair novos negócios. Por outro lado, aqueles que ignorarem essa realidade podem encontrar barreiras para permanecer competitivos no mercado.
Os empreendedores precisam entender que ESG não é um custo, mas sim um investimento, representando valorização da empresa e maiores ganhos, se implantado corretamente. Adotar práticas ESG não precisa ser complexo ou oneroso. Medidas simples, como gestão responsável de resíduos, valorização dos colaboradores e transparência nos processos, já podem fazer uma grande diferença. Afinal, sustentabilidade, responsabilidade
social e boa governança não são apenas exigências legais ou de mercado; são caminhos estratégicos para construir negócios mais resilientes e preparados para o futuro.
Na prática, pequenas ações, como o uso eficiente de recursos naturais (água, energia, matérias-primas), gestão de resíduos (reutilização, reciclagem, descarte responsável) já fazem uma boa diferença no aspecto ambiental. Na esfera do social, garantir condições de trabalho seguras e justas, estabelecer parcerias que impactem positivamente as comunidades locais, proteger dados e respeitar a privacidade dos clientes são ações importantes. Já no âmbito da governança, assegurar uma gestão transparente e ética, combater a corrupção e garantir conformidade legal, divulgar relatórios financeiros claros e de qualidade já fazem a diferença.
No mercado existem diversos profissionais que podem atuar junto às empresas para prestar uma consultoria na implantação de práticas ESG e é muito válido contratar uma assessoria especializada.
Na prática, adotar o ESG não é apenas uma tendência, mas uma necessidade estratégica para as organizações se manterem relevantes e sustentáveis no longo prazo, além de atenderem às demandas de uma sociedade cada vez mais consciente.
- Guilherme Fonseca Lima é dvogado especialista em Direito da Mineração e sócio do Fonseca, Lima & Bastos Consultoria Jurídica