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Saudade que não me cabe

REDAÇÃO por REDAÇÃO
30/07/2024
em Colunistas
Tempo de Leitura: 4 minutos
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12
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Fernanda Carvalho*

Fernanda CarvalhoApertada. Justa. Com o zíper quase estourando. O alívio era estar entre amigas. Daquelas que você pode desabafar o botão, liberar o zíper. Amigas para todas as horas, que compartilham confidências e o guarda-roupa. Emprestam um jeans – mesmo que de numeração inferior – te encorajam a ousar no penteado, elevam seu amor próprio e te resgatam para lampejos de felicidade.

Em um cenário vestido de liberdade, ríamos e nos desafogávamos. Rodeando a mesa de um bar, o GPS não localiza o endereço no meu passado, tínhamos a brisa do mar como companhia. O sol afagava a pele, de dentro para fora. A presença não era disputada por qualquer equipamento eletrônico. Erámos presença. Acompanhadas do barulho das ondas e da brisa. E isso era tudo que precisava. Sorrisos largos do tempo de adolescência, sem juros nem mora. Sem boleto a pagar. A dívida que cabia na minha cota de preocupações era apenas o respeito a meus pais…

Não precisava pensar no almoço de logo mais, na lista do mercado, no banho e tosa de Nick… se os filhos conseguiram desapegar da cama e cumprir com suas atividades. Putz…. Hoje é dia cinco? Esqueci do condomínio. Será que segunda ainda consigo pagar com desconto pontualidade? Ainda preciso terminar o release da nova cliente. O lançamento do livro já é semana que vem. Vai dar tempo?

O som estridente do telefone – fixo, com alguns metros de fio – me resgatou antes que fosse tragada pelos pensamentos. Será que só eu não consigo estancar essa enxurrada de preocupações? Juro que tento desacelerar, meditar. Acho que sofro da mesma síndrome cantada por Wanessa da Mata. Tento não pensar… mas só de tentar, me lembro. Esvaziar a mente – ou pelo menos limpar – é tarefa para os fortes. Eu coloco um pensamento para fora; uma dezena de outros me invadem pela porta dos fundos. Concentra na respiração, deixa eles passarem. Eu juro que tento, mas o desfile – a correnteza de preocupações – parece não ter fim. No meu caso, são pré ocupações mesmo. Quando me dou conta, já estou ouvindo inconscientemente Oswaldo Montenegro e fazendo a lista – não dos grandes amigos que eu não vejo há 10 anos atrás. A lista de tudo que me proponho a fazer no dia seguinte.

Meu cabeça branca, cabelos tingidos de nuvens, lambuza meu filho de afeto. As mãos amaciadas pelo tempo, acariciavam com doçura a orelha do neto. Eu amava essa mania de meu pai

O telefone. Ele continua tocando. Do outro lado da linha, ouço o choro de João, meu caçula. Aquele pranto sofrido de quem perdeu a mãe pela eternidade de alguns instantes. E a voz doce de meu pai. Fechei os olhos e pude sentir a cena. João estava no colo do avô. Com pouca idade, dentes pequenos, cabelos dourados com cachos grandes, que pareciam feitos um a um, a dedo. Meu cabeça branca, cabelos tingidos de nuvens, lambuza meu filho de afeto. As mãos amaciadas pelo tempo, acariciavam com doçura a orelha do neto. Eu amava essa mania de meu pai. E mais ainda a sabedoria que ele espalhava ao se indignar quando via um adulto bater em criança. Isso é covardia, ainda escuto sua voz em protesto. A criança não te como se defender. Melhor que puxar orelha de criança, é acariciar. Até hoje um filete de mar salgado transborda pelos olhos quando alguém toca minhas orelhas.

Na autoridade de pai, ele me convoca carinhosamente a voltar para casa. João chorava de saudade. Silêncio, quase ruído. Doído. Voltar no tempo é tudo que eu mais queria. O eco da ausência me tira o volume. O que mais machuca é o não vivido. Não só por mim, mas por meus filhos na correnteza dos dias que seguem sem ele. Na fronteira entre a partida e a chegada, desencontro. A ausência do avô se tornou eternidade para Lucca e João. Herdaram apenas as migalhas de lembranças que consigo passar adiante. Memória também é esquecimento. Meus filhos mereciam entender o significado da palavra avô. Daquele que transbordava amor, presentes e vontades, especialmente aquelas a contragosto dos pais.

Era sábado. O combinado era de um final de semana de alforria, mas eu sou do tempo em que liberdade acaba quando os pais dão os necessários limites. Eu tive borda. Decidi voltar para casa antes do previsto. A viagem me renovou. Abri os olhos. Úmidos, prontos para enfrentar a jornada árida de três turnos de um dia qualquer. Não era um dia qualquer. Despertei e fixei o olhar no correr do tempo: 26 de julho. Dia dos Avós. A data comemorativa beirando agosto, mês dedicado aos pais. E a gente segue no correr do calendário, apesar do abismo infinito de saudade.


*Fernanda Carvalho é jornalista, escritora, autora do Livro A Luz da Maternidade – Relatos de Parto sem Dor conduzidos por Gerson de Barros Mascarenhas.

E-mail: livroaluzdamaternidade@gmail.com

Instagram: @fernandacarvalho_cs

Tags: Fernanda Carvalho
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COMENTÁRIOS 12

  1. ANA MARIA BORGES RAMOS says:
    11 meses atrás

    Nossa! Ganhei meu dia com suas lembranças, Nanda! São suas e me vi nesses fatos. Filhos que não tiveram os avós para fazerem o que seu pai fazia nos netos. Essas lembranças são alimentos para amenizar a falta que ele faz na sua vida, netos, irmãos e todos. Os afagos foram únicos e sábios. Fizeram efeitos para você guardar com amor para sempre. O melhor orgulho ele tem do céu do que você se tornou e todos os seus. Orgulho pela pessoa maravilhosa, alegre, batalhadora que escreve textos beem tocantes, singelos e bonitos demais. Só orgulho de ser uma eterna filha e só do bem. 👍🏽😘🌳🌻🌹🏡🍀👋🏼😅💐💧🏆

    Responder
    • Fernanda Carvalho says:
      11 meses atrás

      Somos felizes pelos amores que vivemos! E que duram para a eternidade. Obrigada pelo carinho de sempre, Aninha!

      Responder
    • Fernanda Carvalho says:
      11 meses atrás

      Obrigada pelo carinho de sempre, Aninha!

      Responder
  2. Ionã Scarante says:
    11 meses atrás

    Texto lindo! Puro afeto! Me trouxe lindas memórias e saudades do meu pai. Obrigada, minha amiga! Seu texto é um presente!

    Responder
    • Fernanda Carvalho says:
      11 meses atrás

      Ainda bem que a gente transborda com palavras.

      Responder
  3. Selma França says:
    11 meses atrás

    Oi Fernanda , me senti lá, naquele passado nosso . Senti o cheiro, o clima da cidade baixa, das nossas danças de seus pais, e também da chegada de seus rebentos..senti saudades das histórias de d seu pai e das frases que ouvia.. eram sempre histórias engraçadas… vida linda de se viver quando existe amor. Esse, sim! Eterniza tudo!! Tô aqui cheia de saudades! Obrigada por me projetar no tempo

    Responder
    • Fernanda Carvalho says:
      11 meses atrás

      Ninguém apaga o tempo e o amor que vivemos. Obrigada, Selminha!

      Responder
  4. Alexandra says:
    11 meses atrás

    Lindo demais! A saudade eternizada no “papel”. Parabéns!

    Responder
    • Fernanda Carvalho says:
      11 meses atrás

      Grata pela leitura e retorno.

      Responder
    • Fernanda Carvalho says:
      11 meses atrás

      Grata pela leitura.

      Responder
  5. Guímel Vani says:
    11 meses atrás

    Que lindo! Sem palavras aqui! Fui transportada para a presença constante do meu pai na minha vida e na vida da minha filha! Que sorte a nossa! Muito obrigada por esta “viagem no tempo”! 🥰

    Responder
    • Fernanda Carvalho says:
      11 meses atrás

      Muita sorte mesmo!

      Responder

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