Eduadro Parente*
Com holofotes cada vez mais voltados para as agendas socioambiental e de governança (ESG) das empresas, renova-se a importância da busca por legitimidade e consistência nessa frente de atuação. Sabemos, pelo aprendizado dos últimos 20 anos, que esse estágio é construído de forma mais efetiva de dentro para fora, como fruto de uma transformação e de alinhamento entre objetivos, propósito e cultura.
Empresas que buscam apenas retorno de imagem continuam sofrendo. São vistas como oportunistas, acabam desacreditadas e marcadas como greenwashers. Já aquelas que investem pesado em ESG, mas tratam o tema como algo à parte dos negócios conquistam algum reconhecimento, mas carecem de suporte social. Em geral se ressentem por acharem que mereciam maior reconhecimento pelos esforços realizados.
Uma empresa que explora recursos naturais terá muito maior impacto com uma agenda que privilegie o “E” (ambiente), enquanto um varejista tende a ter maior força no “S” (social)
Embora sejam jornadas complexas e únicas, podemos identificar alguns elementos comuns às abordagens das organizações que têm conseguido criar e sustentar agendas legítimas e orientadas a impacto duradouro — temos bons exemplos no mercado, como Natura e Magalu. Seus líderes, incluindo os CEOs, dedicam tempo e atenção ao tema, não apenas recursos. Entenderam como seus negócios interagem com a sociedade e buscam iniciativas que fazem parte da sua natureza ou são adjacentes às suas operações. Uma empresa que explora recursos naturais terá muito maior impacto com uma agenda que privilegie o “E” (ambiente), enquanto um varejista tende a ter maior força no “S” (social).
Essas empresas que se destacam enxergam a sustentabilidade como parte indivisível dos negócios. Definir se “isso é negócio ou ESG?” torna-se totalmente irrelevante. A geração de valor evolui junto com o desenvolvimento socioambiental e da governança. ESG legítimo não se compra nem se fabrica. Ele brota de uma visão integrada de negócios, que precisa de tempo, paciência e humildade para florescer. Suas bases são investimento relevante, incluindo tempo executivo, e uma ênfase em áreas em que se tem impacto natural, pensando em uma evolução sistêmica, não em reconhecimento.
Por fim, conquistado o estágio de propriedade sobre a agenda ESG, resta a questão da comunicação. Em ESG, sobretudo, não se trata de mera emissão de mensagens. É um processo, em se torna fundamental ouvir, testar, trabalhar e ter paciência. O discurso deve ser natural, baseado nos resultados e no que é verdadeiro, sincero. O reconhecimento será mera consequência de um trabalho sério, ético e transformador.
* Eduadro Parente é CEO da Yduqs, grupo educacional do qual a Estácio faz parte